Descobrimos que o comandante do A380 na volta para Dubai também será brasileiro. Veja sua trajetória!

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Comandantes de A380 Pablo Tees e Plínio Hess (esq.)

Em um texto emocionante e cheio de orgulho, o Sr. Paulo Hess, pai do comandante Plínio Hess, conta a trajetória de seu filho. Mais um vencedor do Brasil que crê que as “crises são oportunidades para o crescimento”. Confiram abaixo o texto, sem qualquer edição e embarque na história do comandante do maior avião do planeta.

 

A CARTA DO PAI PAULO

Plínio Hess é comandante do maior avião do mundo na Emirates. Filho de Paulo Hess e Carmen Serres Guarche Hess (in memoriam), nasceu em 06 de junho de 1970 na cidade de Simão, SP. Desde cedo sentia a vontade de tornar-se piloto e essa vontade foi crescendo com o passar dos anos.




Graças a um intercâmbio mantido pelo Rotary Club de São João da Boa Vista, Plínio morou e estudou por um ano nos Estados Unidos. Ao retornar, sua determinação de estudar aviação se solidificou indo fazer o curso no Aeroclube do Campo dos Amarais em Campinas, e, prosseguindo foi conquistando a duras penas as outras carteiras até tornar-se instrutor de voo no Aeroclube de Mogi Mirim em 1989. Mas seu pensamento estava mesmo na “aviação graúda” das grandes aéreas da época.

Foi assim que em maio de 1991 inscreveu-se no Exame de Seleção para o Curso de Formação de Co-pilotos da Varig. Aprovado, foi para a cidade de Porto Alegre onde fez o curso da EVAER tendo a sua formatura ocorrido em 16 de julho de 1993 pela 29ª Turma, sendo patrono o saudoso Cel. Ozires Silva e paraninfo o Cmte. Alfredo Jarbas Flemming. Foram ao todo 19 formandos naquele ano.

Na Varig pilotou Boeing 737 em suas várias versões bem como o MD-11 de saudosa lembrança.

Mas os ventos não sopraram favoravelmente à empresa que tanto amava. Assim a Varig disponibilizou pilotos para voarem no exterior, mantendo o vínculo empregatício e Plínio foi exercer sua função na Holanda voando para a Transavia. Terminado seu contrato e estando a Varig em situação um pouco melhor retornou ele para sua empresa mãe agora como co-piloto internacional voando o MD-11.

Mas o destino o queria fora do Brasil. Disponibilizado novamente pela Varig fez provas para admissão na Eva Air e, aprovado, sem qualquer comunicação aos familiares, partiu para seu novo destino: Taiwan.

Foi assim que, em 17 de novembro de 2002, ao nos levantar, deparamos com uma carta sobre a mesa do café que assim se iniciava:

“Se estiverem lendo esta carta, é sinal que deu tudo certo e a esta altura estarei sobrevoando o Pacífico Norte em busca do antimeridiano. Uma nova escala em busca do meu destino. Destino este que parece ser infindável, e, por ser desconhecido, se torna um desafio.”

E terminava sua carta-despedida assim: “A diferença entre os vencedores e os perdedores é que os vencedores vêem na crise uma oportunidade de crescimento, enquanto os perdedores, uma explicação para o fracasso”.

Crise da Varig, companhia de seu coração que nunca imaginara iria ter um fim, pois seu objeto vital era ali permanecer até o entardecer de sua aposentadoria.Voando para a Eva Air teve oportunidade de várias vezes pernoitar em Dubai e encontrar-se com ex-variguianos companheiros seus que insistiam para que fizesse exame de admissão para a Emirates. Foi o que acabou fazendo. Aprovado, foi admitido na companhia como co-piloto de Airbus A-330 e A-340.Mas sonhava mais alto.

Aguardava ansiosamente a oportunidade de exercer sua função na poltrona do lado esquerdo da aeronave, o que aconteceu em 30 de novembro de 2010.

Após o curso terminado com o brilhantismo mandou aos familiares o e-mail com os dizeres:

“Bom dia a todos… desculpem as 48 horas de atraso, mas a festa foi esperada por 20 anos e foi muito bem comemorada com os amigos daqui de Dubai.

Conclui com sucesso meu curso de promoção a comandante aqui na Emirates nesta sexta-feira passada, após longos 20 anos de espera e mais precisamente 5 anos de Emirates, me foi dada a oportunidade de evoluir em minha carreira profissional, mesmo que já satisfeito com todo sucesso alcançado. Agradeço a Deus, acima de tudo, aos meus pais que confiaram e acreditaram no sonho de uma criança de 12 anos de idade, aos meus irmãos que sempre estiveram ao meu lado, torcendo e vibrando com os acontecimentos, a Babi que nunca me deixou sair de meu caminho, guerreira invencível, vencedora, e esposa nota 10 e a todos meus amigos que acompanharam todo o processo, cada qual na sua maneira de ser!

Compartilho com vocês este momento importante e feliz de minha vida profissional e aguardo abraçá-los, em breve, um de cada vez e agradecer pessoalmente todo apoio recebido.
Um grande abraço a todos.”

Hoje, mudando de equipamento, comanda os A-380 pelos céus do mundo sem nunca esquecer, contudo, a Varig de seu coração e antigos amigos da EVAER.

Agora, Plínio sacramenta sua grande carreira sendo agraciado com a honra de participar do primeiro voo do A-380 para São Paulo, sendo-lhe atribuído o comando da aeronave na segunda etapa do voo de volta para Dubai.

O Brasil tem 500 anos de idade. Dubai tem apenas 50. Que pena que nosso país não proporcione a seus filhos oportunidade de aqui ficar, aqui trabalhar e aqui viver com suas famílias.

Disse ele em um de seus desabafos, longe da pátria, amigos, e familiares:

“Por aqui, domingo de manhã, e especialmente hoje, uma data em especial…

Há exatos 11 anos atrás, estava entrando para meu futuro profissional, numa empresa acima de qualquer suspeita, onde jamais imaginei que poderia, um dia sequer, trabalhar fora daquele ambiente de trabalho, para mim, o primeiro e talvez o último!

Hoje, com a certeza que fiz toda e qualquer lição de casa da melhor maneira possível, dentro do meu potencial, recebo em troca apenas noticias de demissões e ameaças de bancarrota, sinal que alguém deixou de fazer sua parte…

Por um lado, triste por não poder trabalhar onde gostaria, mas afinal, não nasci dentro da Varig, muito menos dentro de uma cabine de avião, se preciso for, faço o necessário para continuar minha caminhada, agora um pouco modificada por vontade ou feitos de terceiros, mas fico extremamente amargurado porque sempre me cobraram eficiência, e agora, estando do outro lado do “MEU MUNDO”, por total necessidade, conseqüência, mais uma vez, de atos alheios, me pergunto onde estaria a justiça divina. Sei que ela existe, não tenho dúvidas quanto a isso, mas em momentos como este é que nos perguntamos onde Ele está…”

A vida continua meu comandante-filho…. você sabe sempre tirar da crise a oportunidade de crescer.

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Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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