A difícil vida da aviação e do turismo na Amazônia

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Terras cheias de cultura e com potencial turístico enorme, mas que ficam à mercê da burocracia e da falta de planejamento. Conheça mais sobre a (falta de) infraestrutura aeroportuária na bacia amazônica.

Somente para relembrar, em 2012 estivemos visitando, a convite da WF Viagens e do Amazon Sport Fishing, as cidades de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, numa jornada de turismo dedicado a pesca esportiva. Durante nossa expedição pelas águas escuras do Rio Negro vivenciamos experiências inesquecíveis com coisas que jamais poderíamos imaginar que ainda existiam no Brasil.

Vimos de perto um Brasil indígena, quase sem mistura de raças, onde o povo faz questão de manter sua tradição e cultura. Um espetáculo cultural ao vivo, acontecendo a nossa frente.

Em nossa jornada até lá, dividimos espaço, em voos regulares da Azul, com funcionários FUNAI, do SIVAM, das forças armadas, ambientalistas, além de muitos turistas e pescadores que se deslocam de várias partes do globo em busca do peixe mais esportivo do mundo: o Tucunaré Açu, encontrado somente no Amazonas.

Vimos também a importância (e o quanto é fundamental!) do transporte aéreo para a integração dessas regiões com o restante do país. Para se chegar até ali só existem duas opções: poucas horas de avião ou alguns dias de barco! Além de servir como meio de transporte de muita importância, os voos regulares também salvam vidas, devido aos baixos recursos desses municípios, é comum que os aviões decolem dessas cidades com pessoas doentes para levá-las a cidades maiores e à capital, Manaus. Em 2011 testemunhei o lamentável falecimento de um menino de cerca de 10 anos que era transportado, doente, de Barcelos até Manaus. Vítima de malária.

Mas não pense que tudo são flores, pelo contrário, a infraestrutura aeroportuária é mantida pelas prefeituras e é um tanto precária. Um pescador (dos de verdade) me contou que num minúsculo terminal de um aeroporto da região no qual desembarcou não havia nem extintor.

_MG_6808 _MG_6864 Em Outubro de 2013, a ANAC comunicou e convidou todos os municípios (prefeitos e seus representantes) cujos aeroportos estavam com graves problemas de segurança e que precisavam se adequar imediatamente. Como estamos no Brasil, os municípios conseguiram prorrogar o prazo para as adequações. E, de novo, como estamos no Brasil adivinha se alguma coisa foi feita? Mas é claro que não.

Tanto que no dia 8 de Maio, o comunicado da Azul do cancelamento dos voos para Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro nem causou estranheza. Estava a ANAC interditando os terminais. Acabou o prazo a ANAC cumpriu com seu compromisso. Esse fato causou revolta no meio turístico, pois reforço que a Amazônia é maravilhosa não apenas para o turismo de pesca, mas para o turismo ecológico. Aliás, todos deveriam conhecer um dia.

E o impacto maior não foi no turista, caro leitor. Mas sim dos povos ribeirinhos, que dependem muito do turismo na região.

 

Hoje

O deputado estadual do Amazonas Marcelo Ramos disse que a postura da Azul Linhas Aéreas de reduzir e suspender as operações de voos em alguns municípios amazonenses é um “desapreço e irresponsabilidade para este Poder Legislativo, ao governo e ao povo deste Estado”. O parlamentar disse que a empresa é a única beneficiaria da Lei de Renuncia Fiscal para aquisição de combustível para as aeronaves e pediu independência das agencias reguladoras na fiscalização de empresas aéreas.

A SAC (Secretaria de Aviação Civil) determinou que ANAC, libere os sete aeroportos do estado do Amazonas, mesmo sem condições e infraestruturas mínimas.

Em decisão publicada no Diário Oficial em 10 de Outubro de 2013, a ANAC diz que a liberação se deve, a um pedido de “flexibilização dos requisitos de infraestrutura” feitos pela SAC. Na decisão, a agencia condicionou a liberação dos aeroportos a uma serie de investimentos e medidas mitigadoras que deveriam ter sido feitas pela SAC após 180 dias. Caberia ainda a SAC enviar relatórios mensais para ANAC fazer o acompanhamento da situação dos aeroportos e, em caso de descumprimento, voltar a fechar o aeroporto.

A SAC informou que os sete aeroportos estão em Plano da Aviação Regional que os estudos de viabilidade de todos já foram realizados. Falta agora elaborar os editais de licitação. A SAC diz que espera realizar em Junho a licitação para reforma dos primeiros 270 aeroportos previsto no Plano de Desenvolvimento da Aviação Regional. O plano foi anunciado em Dezembro de 2012 e prevê investimento de R$7,3 Bilhões.

Resumo: burocracia de todo lado, mas até o momento os aeroportos das cidades de Barcelos, Coari, Santa Isabel do Rio Negro, São Paulo de Olivença, Humaitá, Eirunepé e Fonte Boa, operam sem as condições mínimas de segurança, a falta de sinalização na pista e de sistema de combate a incêndio. Alguns aeroportos estão localizados próximos a lixões e sofrem com possíveis riscos de acidente com urubus.

Sobre combate a incêndio, a SAC informou que o governo do estado vai enviar dez caminhões para os aeroportos que necessitam além dos sete já mencionados os outros três que necessitam são Manicoré, São Gabriel da Cachoeira e Parintins.

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Em Fonte Boa, nem a ordem de abertura conseguiu atrair empresas aéreas, tal situação dos aeroportos fez com que Azul deixasse de operar em Agosto de 2013 e não retomou operações. A companhia aérea ainda, operava em 5 dos 7 aeroportos liberados pela ANAC, no entanto no mês de Maio interrompeu as operações em Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro.

Em resposta a imprensa a Azul Linhas Aereas alega “Falta de perspectiva, no curto prazo para realização de investimentos e infraestrutura aeroportuária”.

A MAP (empresa aérea local) mandou uma proposta para iniciar seus voos regulares para Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, segundo Marcondes diretor de vendas da empresa as três cidades são muito procuradas por turistas do mundo todo que vão em busca da pesca esportiva além de atender ONG, ambientalistas e órgãos do governo que visitam a região com frequência.

 

 

Sofrimento do povo ribeirinho

Em quanto não existe uma solução a curto prazo para os aeroportos sem infraestruturas necessárias para operar no estado do Amazonas, a população desses pequenos municípios sofre com o descaso e a falta de capacidade do governo em priorizar as mudanças necessárias para que as companhias aéreas tenham condições de oferecer serviços com segurança.

Cabe a nós ficar de olho e cobrar por meio de mídia essas tais mudanças necessárias para operação.

 

Fotos de aeronaves que operam(ram) nas regiões citadas no texto

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