Emirates com A380 no Brasil: será que o voo é sustentável?


Recentemente publicamos um estudo exclusivo* mostrando as taxas de ocupação da Etihad Airways em 2016, na rota de São Paulo a Abu Dhabi. Aí então, nós nos perguntamos: como a Emirates se beneficia com a saída da Etihad? Fomos atrás de informações e fizemos a análise abaixo. O resultado é surpreendente.




 

Cenário atual: voo diário com Boeing 777-300ER

Comecemos com os números atuais. Com base em informações da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), analisamos a demanda atual da Emirates (de passageiros) nos meses de Janeiro a Novembro de 2016. Lembramos que a empresa voa atualmente com o Boeing 777-300ER, para 354 passageiros.

Observe, no quadro, que poucos meses ficam com ocupação de assentos insatisfatória, mesmo o país estando em tempos de crise. Tomamos como ponto de corte 76,5%, que foi a ocupação média da empresa no ano-fiscal 2016.

No geral do período, a ocupação da rota Guarulhos – Dubai foi de 78%, resultado muito bom. 

 

 

O que acontecerá quando a Etihad sair do jogo?

Excepcionalmente boas em marketing promocional e com serviços sem comparação, as duas grandes empresas dos Emirados Árabes conquistaram um público muito importante, o de passageiros que saem do Brasil com destino ao leste asiático, e vice-versa.

Preços competitivos (não raro achávamos passagens até destinos no leste da Ásia mais baratas do que o voo até Abu Dhabi ou Dubai, por exemplo), serviços premiados a bordo, a marca “Emirates” e conexão facilitada (passando pelo Oriente Médio, o passageiro não precisaria do caro e burocrático visto americano, como usualmente acontecia com outras empresas como Korean Air e Japan Airlines), são alguns exemplos de como elas “morderam” essa importante fatia do mercado.

Em 26 de março de 2017, a Etihad fará seu último voo para o Brasil. No mesmo dia, a Emirates introduz o A380-800 na rota para São Paulo e isso não é uma coincidência. Analisamos abaixo dois cenários do que pode acontecer após a entrada em operação do super jumbo em nosso país.

 

 

E o que podemos esperar da introdução do A380? Será que vai vingar?

Estabelecemos dois cenários.

 

Primeiro cenário. Consideramos as seguintes premissas:

  1. A demanda da Etihad e da Emirates em 2017 permaneceriam inalteradas em relação a 2016; e
  2. A Emirates conseguiria “abocanhar” 70% dos passageiros ex-Etihad, atraídos pela marca, preços, serviços e pelo A380.

Se essas premissas se concretizarem, podemos esperar voos lotados. Veja o quadro abaixo.

No cenário 1, o A380 teria uma espetacular ocupação média de 90% no sentido GRU – Dubai. Além disso, haveria meses em que a demanda superaria a oferta, o que resultaria em uma elevação dos preços ou adição de voos extras (ou ambos). Se a economia melhorar, os números também melhoram, obviamente.

 

Segundo cenário. Agora, vamos pressupor que as empresas concorrentes consigam tirar passageiros da Emirates e que ela “herde” somente 40% da demanda deixada pela Etihad. Vejamos o que acontece.

 

 

No segundo cenário, a demanda para o A380 continuaria razoável, com load factor médio de 76%.

Com essa ocupação não é possível afirmar que a operação do super jumbo é sustentável, já que estaria abaixo da média do ano-fiscal 2016, de acordo com dados obtidos pela Bloomberg.

Nesse cenário, a operação do A380 no Brasil poderia prejudicar o indicador, embora não conseguimos dizer qual seria o impacto nas margens da empresa (já que os detalhes da estrutura de custos da empresa não são divulgados).

De qualquer forma, são números que demandariam mais do que um voo diário do Boeing 777-300ER, na pior hipótese. Nós apostamos no cenário 1, com A380 lotado!

 

Considerações importantes

Observe que não estamos considerando o transporte de cargas, que também é importante variável na economia de uma empresa aérea. Isso acontece porque as variáveis do cálculo do payload atualmente disponíveis não são acurada. Mesmo assim, entendemos empresas de transporte de passageiros vivem de transportar pessoas, e o load factor (objeto desse estudo) é, sem dúvida, a variável mais importante.

* Por fim, lamentamos comentar que há um site copiando alguns dos nossos conteúdos, inclusive esses estudos que fazemos. Alertamos você, leitor, para que tome cuidado com essas cópias, pois geralmente os textos são publicados com alterações e acabam passando a informação incompleta ou incorreta. Sugerimos acompanhar aqui conosco o estudo original (e se houver algum erro, pode puxar nossa orelha!).

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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