Empresa aérea americana vai à falência por falta de pilotos!

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A empresa Republic Airways não é conhecida por aqui, exceto pelo fato de operar aeronaves Embraer, no entanto a notícia de seu pedido de falência chamou muita atenção por lá.

O fato mais curioso por trás da falência da empresa é o motivo alegado: a indisponibilidade de pilotos.

De acordo com um informativo da Republic Airways a respeito do processo de recuperação (veja aqui o press release oficial), a empresa vinha há algum tempo buscando evitar a situação, mas o problema se agravou devido às aeronaves mantidas em solo em função ausência de pilotos disponíveis para realizar os voos.

Em outubro passado outra companhia de atuação regional, a Seaport Airlines, cortou a maioria de suas rotas a partir de seu hub em Memphis também devido à indisponibilidade de pilotos. E a SkyWest, outro player que detém uma importante fatia dos voos regionais, também cancelou voos pelo mesmo problema. Segundo executivos do setor, nenhuma empresa está imune.

A princípio, essa situação parece estranha, pois vai contra a ideia de que a profissão “piloto” seja amplamente almejada e competitiva devido ao glamour e salários pagos, como é no Brasil.

Mas a raiz do problema é outra e, segundo a empresa, está nas mudanças de regulamentação aprovadas pelo Congresso norte americano em 2013.

Naquele momento, o limite mínimo de horas de experiência necessárias para um piloto ingressar em uma empresa aérea foi aumentado de 250 para 1500 horas, com o objetivo de aumentar a segurança dos passageiros. Essa mudança, associada aos menores salários pagos pelas empresas regionais que são a porta de entrada para os pilotos iniciantes, resultaram numa menor disponibilidade de mão de obra. Os recém habilitados estão deixando de voar ou deixando os Estados Unidos em busca de oportunidades.

A partir do momento em que se constata que, na verdade, não existe falta de mão de obra, mas sim um desinteresse dos profissionais disponíveis causado pelas restrições impostas, nota-se que não se trata de um problema de curto prazo.

 

Na verdade é um problema estrutural, sobre o qual a Forbes explica:

Temos uma dura realidade que agora se instalou em definitivo. Não existe uma ‘escassez de pilotos’ – termo este que levaria a uma situação em que seria possível uma correção. Não é ‘corrigível’ – as novas barreiras regulamentares para ingressar na profissão de piloto são efetivamente permanentes. E isso significa que a disponibilidade destes profissionais será diferente do que foi no passado – leia-se: muito menor. Resultado: menos voos das companhias regionais, menos aeroportos atendidos.

 

Por agora, os efeitos estão sendo sentidos principalmente nas rotas envolvendo aeronaves menores e pequenos aeroportos. Mas com a fonte de novos pilotos secando, em breve as grandes empresas podem começar a sentir os efeitos. Já se espera que nos próximos 20 anos a oferta de mão de obra seja capaz de suprir somente dois terços da demanda.

Com sorte, as leis de mercado devem prevalecer: a redução de profissionais deve resultar em aumento dos salários, tornando a carreira novamente atrativa. Mas até esse auto-ajuste se efetivar, mais empresas regionais devem sentir o baque. E mais viajantes também sentirão, inclusive no bolso.

Enquanto por aqui sobram pilotos porque as aeronaves ficam no chão, por lá faltam pilotos para colocá-las a voar.

Matéria traduzida da The Economist.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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