Por dentro da manutenção na LATAM Brasil – Parte I

São Carlos, no interior do estado de São Paulo, foi o local escolhido pelo Cmte. Rolim Amaro para sediar um dos pilares de sustentação da era Airbus na, então, TAM Linhas Aéreas. Projetada também para os Fokker 100, aos poucos a estrutura foi se adaptando para receber a maior frota de Airbus do Brasil, incluindo widebodies (aeronaves de corredor duplo).




MRO fica a 230km da capital paulista.

Com exclusividade trazemos a você, leitor, os detalhes e números do MRO (Maintenance, Repair and Overhaul) que completou 15 anos de operação e faz da LATAM Brasil uma companhia baseada na contínua excelência operacional dentro do competitivo mercado aeronáutico brasileiro.

Uma jornada num dia especial

Fomos recebidos com muita hospitalidade pelo Silvio Ferreira, responsável pelos hangares de manutenção e também gerente de controle de qualidade do MRO.

Aprendemos muito com ele e, com grande satisfação, vamos compartilhar tudo o que o Silvio nos ensinou. Vamos abordar desde como são reconhecidos os funcionários que trabalham há décadas na companhia, até como a LATAM Brasil produz e mantém as peças e componentes que são parte de sua frota. E não vamos parar por aí, abordaremos também o compromisso do MRO com a natureza, que, por ser sediado em uma área rural, tem um controle muito rigoroso e cada resíduo ou descarte é reaproveitado ou tratado para ser devolvido ao meio ambiente.

Com 65 mil metros quadrados de área construída, a área da qual a LATAM é responsável soma o equivalente a 425 campos de futebol, ou 4,6 milhões de metros quadrados. Uma de suas principais fontes de mão de obra é a faculdade de engenharia mecânica da USP de São Carlos. A presença do MRO contribuiu para que a universidade incluísse a ênfase aeronáutica em seu currículo, tendo dado origem à atual faculdade de engenharia aeronáutica, totalmente especializada no ramo e uma das principais formadoras de mão de obra qualificada para a engenharia aeroespacial no Brasil, juntamente com o ITA.

E por falar em funcionários, tivemos a honra de chegar num dia festivo, em que alguns deles celebravam 10 ou 15 anos de companhia, numa cerimônia que envolveu o plantio de uma árvore na área externa do centro de manutenção. Além dessa cerimônia, o MRO completava um recorde de dias trabalhados sem acidentes com afastamento: 477 e contando. Alguns líderes palestraram sobre a importância da cultura de segurança no local, que envolve trabalho em altura e manejo de compostos químicos perigosos, além da conscientização sobre práticas seguras, uso de EPI (equipamentos de proteção individual), entre outros.

 

 

 

 

Outros números são expressivos. Até 2016 foram R$ 270 milhões investidos em instalações, treinamentos e equipamentos. Durante este tempo, o MRO executou cerca de dois mil checks (manutenção) em aeronaves como os da família Airbus A320 (A319, A320, A321), Airbus A330, Boeing 767, Embraer E170/190, Fokker 100, ATR 42/72 e até o avião presidencial, o FAB 2101.

Ao todo, foram quase 500 mil itens revisados, tais como poltronas, componentes elétricos, eletrônicos, hidráulicos e pneumáticos, por exemplo. A depender da idade e do tempo de voo da aeronave, os checks podem levar de 4 a 34 dias, período em que os mecânicos podem executar até 1,3 mil tarefas de manutenção, aproximadamente.

Dotados da capacidade de prestar serviços a 9 aeronaves narrowbody simultaneamente, os 1.300 funcionários do MRO trabalham em três turnos para devolver rapidamente à malha de voo as aeronaves paradas para manutenções corretivas e preventivas.

Os 15 anos também foram marcados por constantes certificações dos mais exigentes órgãos de fiscalização do mundo, que atestaram os pilares de excelência atingidos pelo centro tecnológico de manutenção, que vamos enumerar no decorrer da reportagem.

 

 

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Silvio Ferreira, Gerente de Qualidade dos Hangares MRO LATAM Brasil.

 

Conhecendo no detalhe

Seguimos com o Silvio, que nos mostrou a quais serviços cada aeronave estava sendo submetida naquele momento.

Ficamos sabendo que cada componente, peça ou aeronave que passa por lá, pode estar em duas condições: ‘Hard Time‘, quando passado um determinado número de ciclos ou horas de voo (o que completar primeiro) o componente é submetido à revisão preventiva; ou ‘On Condition‘, quando identificado o defeito ou problema da peça na linha/malha aérea, é encaminhada para reparos e devolvida à frota.

No MRO encontram-se equipamentos de manutenção únicos no país e profissionais que são habilitados a prestar serviços a diversas companhias do Brasil, inclusive à Embraer, graças à homologações obtidas durantes esses 15 anos de operação: além da ANAC, outras 12 autoridades aeronáuticas do mundo, como a americana FAA (Federal Aviation Administration), a europeia EASA (European Aviation Safety Agency) e a TCCA (Transport Canada Civil Aviation). Dessa forma, além de aeronaves com prefixo brasileiro, o centro de manutenção da LATAM Brasil está apto a realizar a manutenção de aviões de outros países.




Um grande cliente do centro de manutenção em São Carlos é a Força Aérea Brasileira. A LATAM presta serviços de manutenção à aeronave presidencial, o Airbus VC-1 2101, além dos Embraer 190 que compõem a frota do GTE (Grupo de Transportes Especiais), contando com salas de espera e reunião para os clientes especiais.

Note que, durante o texto vamos citar aeronaves que se encontram em Check-C. Este check é requerido quando a aeronave atinge uma determinada idade ou número de ciclos ou horas de voo. É caracterizado pelo alto grau de detalhamento técnico, desmontagem de inúmeros componentes, enfim, uma grande revisão geral e busca por falhas que toda a frota é submetida conforme completa tais números. Já o Check-A é um pacote de tarefas com ações preventivas sem que seja necessária a desmontagem de grandes partes da aeronave. 

Antes de continuar, confira uma galeria de fotos que realizamos nos hangares de manutenção e alguns detalhes sobre a operação.

 

 

Durante a caminhada observamos um antigo ATR da extinta Pantanal, que hoje é utilizado como plataforma de treinamento prático para os funcionários, além de aeronaves icônicas como os Airbus A330 que recentemente deixaram de fazer parte da frota  LATAM, dando lugar aos modernos e ultra eficientes A350. Quanto aos saudosos A330, eles encontram-se em processo de devolução e/ou preservação. Entre eles o PT-MVG (reparos estruturais, retrofit e preservação de até 1 ano e meio), PT-MVF (preservação) e PT-MVE (reaproveitamento de componentes), além de alguns Airbus A320 que já não fazem parte da malha e também estão em processo de preservação/devolução, como o PR-MBL.

Identificamos algumas aeronaves cumprindo check-C, conforme suas idades e ciclos vão avançando. Nesses checks alguns reparos internos e estruturais não programados são feitos e a companhia aproveita para ‘retrofitar’ a aeronave com os mais recentes estofados e configurações. É o caso do PT-MXD, um dos primeiros da linha A321 da LATAM Brasil que, após realizar seu check-C, está sendo integrado à mais nova identidade visual da companhia: a pintura nova LATAM.

Esse serviço vai ser feito dentro do hangar de pintura do MRO, capaz de realizar a exaustão de gases e filtrá-los antes de devolvê-los à atmosfera, além de captar e tratar a água residual gerada pelo processo. Nesse hangar é possível realizar a pintura completa de aeronaves do tamanho da família A320 da Airbus em menos de 15 dias.

Atualmente, o local é responsável por realizar 45% das manutenções das 323 aeronaves do Grupo LATAM. Em 2015 o centro realizou 225 checks, nos quais foram revisados mais de 48 mil componentes, que demandaram 420 mil peças novas. Cenário bastante distinto daquele de 15 anos atrás, quando foram realizados apenas 28 checks durante o ano em apenas um hangar.

Para 2016, a expectativa é que o centro aumente em 9% a sua capacidade operacional, possibilitando 20 checks de aeronaves a mais na comparação com o ano passado. Para isso, a empresa investiu R$ 10 milhões na construção de seu quinto e sexto hangares.

 

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Conversando com o Silvio, ele explicou que durantes os anos de serviço prestados, mais a companhia contribuiu para o sucesso dele do que o contrário. “Passamos a ter centros de treinamento, área de certificação, controle de qualidade. Para ter certificação EASA, FAA, IOSA, começamos buscar objetivos como realizar todos os checks aqui, evitar os custos de enviar aeronaves para o exterior, organizamos nossa estruturação de funcionários, padronizando e documentando. Tudo isso nos trouxe muita maturidade”, afirma.

Ele nos falou também que muitos dos funcionários que começaram suas carreiras lá, hoje estão trabalhando na Europa, em fabricantes e em outras áreas da própria LATAM. Todo esse desenvolvimento do MRO LATAM, que vem desde sua concepção, reflete também o aprendizado aeronáutico que o Brasil adquiriu, sendo pioneiro em certificações importantes e serviços complexos.




O time de São Carlos está, inclusive, preparado para executar a manutenção de 40 componentes do Airbus A350 XWB, sendo possível realizar checks-A durante sua operação em linha, o que cobre quaisquer eventos de manutenção menos complexos durante seus primeiros anos de operação. Também já está capacitado a atender o A320neo, recente aquisição da companhia, já que vai aproveitar da grande compatibilidade e semelhança de componentes que o novo projeto possui com a atual família A320.

Para facilitar a logística internacional do grupo e o atendimento a aeronaves de terceiros, a aprovação da internacionalização do aeroporto de São Carlos, além de melhorias em sua infraestrutura, está em avaliação junto aos órgãos competentes.

Além do MRO em São Carlos, o Grupo LATAM ainda possui um centro de manutenção em Santiago, responsável por 25% dos checks das aeronaves do Grupo. O restante das aeronaves, 30% da frota, passa por manutenção em MRO’s externos, qualificados pelas áreas de Qualidade do Grupo LATAM.

 

 

Na próxima parte vamos passar por todas as oficinas internas que o MRO da LATAM Brasil possui, explicando pelo quê cada uma é responsável e entendendo de uma vez por todas como a companhia fez para implementar projetos utilizando ideias simples de seus próprios funcionários, deixando de gastar mais de 25 milhões de reais.

Com tudo isso pretendemos mostrar o caminho trilhado para atingir a preferência do passageiro e aumentar a eficiência de custos, que são os fatores chave na busca dos pilares de excelência.

Vamos descobrir também quais componentes aeronáuticos a própria LATAM produz em São Carlos e como ela otimizou seus procedimentos, diminuindo de 100 dias para 45 dias o tempo médio para um check total dos trens de pouso de um Airbus 320 em sua oficina de galvanoplastia.

Agradecemos especialmente ao Silvio Ferreira, que muito cordialmente nos ensinou um pouco mais sobre aviação em seus domínios, e à Aline Martins, assessora de imprensa da LATAM Brasil que nos conduziu até lá.

 


Texto e fotos: André Le Senechal © Aeroin




Por dentro da manutenção na LATAM Brasil – Parte II

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