Único avião que ainda voa da Air Zimbabwe é apreendido na África do Sul

A apreensão da aeronave é uma nova baixa para a companhia aérea que ao longo dos anos quebrou recordes, incluindo voar com apenas um passageiro e ser banida da União Europeia.

Avião Boeing 767 Air Zimbabwe
Foto de Allen Watkin (CC 2.0)

A vida das empresas aéreas do Zimbábue não está fácil. Depois da Zimbabwe Airways se meter numa enrolada história que termina num escândalo de corrupção, agora é a vez da outra estatal, a Air Zimbabwe, ter seu único avião apreendido por autoridades sul-africanas.

Na última quarta-feira, 23 de outubro, o voo da Air Zimbabwe de Jo’burg para Harare não pôde decolar. Em face aos débitos que a empresa aérea possui, autoridades sul-africanas decidiram se apoderar do Boeing 767-200 que pousara horas mais cedo no Aeroporto Internacional O.R. Tambo, sendo esse o único avião ainda voando da aérea de bandeira zimbabuana.

Segundo o jornal Times Live da África do Sul, a Air Zimbabwe deve à empresa ACSA, que administra o maior aeroporto do país, pagamentos por serviços de pouso/decolagem, estacionamento e embarques/desembarques para voos de e para Joanesburgo. Como resultado, alguns passageiros acabaram retidos, enquanto outros, de mais sorte, foram acomodados em outras companhias aéreas.

Aviões parados

Registrando prejuízos por mais de dez anos seguidos, em julho de 2019 as dívidas da Air Zimbabwe eram estimadas em quase US$ 400 milhões. A companhia teve de cancelar a maior parte de suas rotas devido às ameaças de devedores de apreenderem suas aeronaves, o que acabou acontecendo.

Operando sob administração especial desde o final de 2018, a empresa teve todos os seus aviões parados por falta de dinheiro para manutenção e para mantê-los voando, já que os resultados financeiros são, quase sempre, negativos.

Isso obrigou que a frota, composta por dois Airbus A320, dois Boeing 737-200, um Embraer 145 e um Xian MA60, fosse paralisada, junto a um dos Boeing 767-200. Restou apenas outro 767 operacional e uma pequena quantidade de rotas domésticas e duas internacionais – Joanesburgo e Dar-es-Salaam, na Tanzânia.

Air Zimbabwe B737-2N0 Z-WPC

O porta-voz da Air Zimbabwe, Tafadzwa Mazonde, confirmou a apreensão da aeronave e afirmou que os funcionários da companhia aérea estavam negociando com a ACSA para liberar a aeronave. “Isso é o que está acontecendo. É uma suspensão temporária por uma dívida acumulada. Estamos em discussão com nosso acionista e estamos esperançosos de que encontraremos uma solução”, disse Mazonde.

Banida da África do Sul até pagar as dívidas

Devido à falta de crédito, a Air Zimbabwe é obrigada a liquidar toda segunda-feira os montantes devidos das taxas de pouso, taxas de estacionamento e a taxa de serviço de passageiros para os seus voos semanais, conforme declarou o porta-voz da ACSA, Trevor Jones.

JFK | Z-WPF | Air Zimbabwe One

“A Air Zimbabwe não aderiu às condições para o uso de aeroportos de propriedade da Airports Company South Africa. A empresa notificou a Air Zimbabwe por carta, em 18 de outubro, de que não será permitido decolar de nenhum dos nove aeroportos da ACSA e que a proibição permanecerá em vigor até que os montantes atrasados sejam liquidados”, disse ele.

Além da ACSA, ao longo dos anos a Air Zimbabwe já teve aeronaves apreendidas por outros credores – incluindo a Bid Air Services, também da África do Sul e fornecedores gerais Americanos e em Londres – por dívidas que tinha negligenciado o pagamento.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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