Visitamos a fábrica da Boeing em Seattle

Boeing 787 Manufacturing

Mais uma manhã fria e chuvosa em Seattle, o clima típico da capital do estado de Washington era pouco convidativo a um passeio, a menos que fosse um passeio especial, o tour na fábrica da Boeing, na cidade vizinha de Everett, a poucas milhas da fronteira com o Canadá. A visita na fábrica tem o nome oficial de Boeing Tour, e é realizada durante todo o ano nas unidades de Everett em Washington. A unidade de Everett é a principal da companhia, e podemos conhecer a linha de produção dos 747, 767, 777 e 787.




A entrada se dá pelo centro Future of Flight que, além da recepção para o Boeing Tour, conta com uma exposição fixa com diversos itens que permitem a interação do público, como mini-simuladores, uma cabine real de um Boeing 727, além do estabilizador vertical e leme do 747-8i. O acesso a essa coleção é gratuito e independe do ticket para o Boeing Tour. O centro também conta com um terraço que dá uma visão privilegiada e conhecida da fábrica da companhia, sendo possível observar os aviões realizando voos de testes, as operações de carga do Boeing 747 Dreamlifter que carrega partes do 787, e o Delivery Center, um verdadeiro terminal para entrega das aeronaves aos clientes.

Future of Flight Boeing Museu
Interior do Future of Flight, uma pequena amostra da fábrica da Boeing.

A hora do tour havia chegado. Fomos encaminhados para um auditório, onde se passou um breve filme sobre a história da fábrica da Boeing em Everett, além de recomendações, como ficar preparado para uma longa caminhada devido a imensidão da fábrica e também a proibição de fotos, algo que também ocorre no tour de fábrica da concorrente Airbus.

Após as instruções, um ônibus nos levou contornando a cabeceira 16R do Aeroporto Internacional de Paine Field até o pátio de aeronaves, passando lado a lado por um Boeing 787 da United, outro da Azerbaijan, mais um da JAL, dentre tantas outras aeronaves sendo preparadas para entrega. Desembarcamos do ônibus acompanhado da nossa guia Bett, que é funcionária da Boeing há quase 40 anos, trabalhou na linha de produção do 747 e hoje coordena o nosso tour.

Ao sair do ônibus já era possível sentir a imensidão da fábrica, as imensas portas (as maiores do mundo do tipo) dão quase uma sensação de vertigem, cada uma tem 106m de largura e 24m de altura, quase o tamanho de um campo de futebol americano!




Entramos numa pequena porta e descemos para um dos diversos túneis que passam por debaixo da fábrica, sendo essa a principal via de locomoção, usada bastante pelos empregados que vão de um ponto ao outro de bicicleta. “Perderíamos muito espaço se fizéssemos alguma espécie de passeio no chão de fábrica. Quando movêssemos um avião teríamos que parar o movimento de pessoal e suprimentos. Com os túneis temos amplos espaços nos quais podem passar pequenos veículos juntamente com nossos colaboradores.” explicou Beth. São quase 4 km de túneis só na linhas de montagem do 747, 767, 777 e 787. Os empregados usam 1.300 bicicletas para se locomoverem pelo prédio.

Quando a linha foi construída pela primeira vez em Everett, para a linha de montagem do primeiro Boeing 747, nuvens se formaram dentro do prédio até que o sistema de circulação de ar fosse ligado. Atualmente a fábrica não conta com nenhum tipo de ar-condicionado. O clima de Seattle, que normalmente é frio e úmido, contribui. Mas no verão, com temperaturas a 30ºC, abre-se uma das grandes portas para o ar circular, o que resolve o problema. Como visitamos a fábrica durante o inverno, diversas lâmpadas estavam ligadas para dar um aquecimento interno. Esses dois métodos geram uma grande economia de energia na fábrica, que conta com uma sub-estação de energia própria além de uma estação de tratamento de água.

Boeing Delivery Center 777 787
Visão do pátio e do Delivery Center com um 777 da Emirates e outro da China Southern,

Após andar em torno de 2 minutos no sistema de túnel, pegamos um elevador até o 4º andar do Centro de Produção do Boeing 747. Dali era possível ter aquela visão clássica e tão desejada da linha de montagem. Era possível ver um Boeing 747-8i da Korean já com as asas instaladas e sendo preparado para receber os 4 motores GEnx. Logo atrás dele um 747-8F de cliente não identificado no processo de junção de asas à fuselagem.

Para a tristeza deste autor e também dos fãs da aviação, estas duas aeronaves estavam entre os prováveis últimos Boeing 747 a serem produzidos. Devido à falência da Transaero e ao último pedido feito pela Força Aérea Americana (USAF) para o Air Force One, a estimativa de Dezembro de 2015 era de apenas mais 20 unidades a serem produzidas até o fechamento da linha do produção do 747, que está aberta desde 1968.




Já no outro lado e mais ao fundo era possível ver a linha do Boeing 767, alimentada basicamente por pedidos da FeDex e da USAF para a versão de reabastecimento em voo KC-46 Pégasus. Novamente descemos para os túneis com direção à linha de produção do 787. Desta vez entramos pela primeira vez no chão de fábrica, na seção onde é preparado o interior das aeronaves. Foi possível perceber as divisas de escritório com mesas para empregados logo ao lado de um Boeing 787 da British Airways. Quem não gostaria de ter uma visão dessa enquanto trabalha? (Se é que podemos chamar isso de trabalho, que segundo a nossa guia: “Eu não acredito que eles me pagaram e ainda me pagam pra trabalhar aqui”).

No lado interno da porta principal, por onde saem os 787 prontos para a pintura, é possível reparar diversas pequenas caudas de cada companhia aérea que atualmente opera o avião, divididos pelos modelos -8 e -9, e que em breve iria receber um espaço para o modelo -10, o maior do Dreamliner. Outro detalhe interessante na linha do 787 em relação as outras aeronaves, por ser uma aeronave basicamente produzida por matérias compostos como carbono e fibra de vidro, a aeronave no final da linha de montagem não tem aquela clássica pintura verde anti-corrosão que é visível em aeronaves com fuselagem de alumínio. O material composto não precisa de tratamento anti-corrosão. As seções da fuselagem vêm com uma pintura branca padrão.

Boeing 747 Dreamlifter 787
Retirada da seção dianteira do 787. Voos do Dreamlifter são regulares no aeroporto, devido à grande rede de colaboradores para a construção do 787, que conta com componentes de 9 países diferentes.

Mais ao fundo, ao lado da linha de montagem do 787, era possível ver onde será uma das linhas de montagem do 777X, que ocupará a linha atual do 777, além de um novo prédio exclusivo para a montagem das asas, como divulgamos aqui. Esta linha de montagem também será adicionada ao tour futuramente, segundo a nossa guia.

Chegando ao final do tour, novamente o ônibus passou pelo pátio. Quando pensávamos que havia acabado, o ônibus pára em frente à cabeceira 16R devido a uma aeronave pronta pra decolar. Era um Boeing 777 da Emirates que estava prestes a começar seu voo de entrega para Dubai. Todos no ônibus assistiram de “camarote” a decolagem da aeronave nova de fábrica, que após recolher o trem de pouso balançou suas asas em um sinal de despedida do seu ninho.

O tour da Boeing pode ser realizado em duas das suas unidades. O mostrado na matéria fica em Everett, cidade vizinha a Seattle, e que abriga outras fábricas da Boeing. Também é possível realizar em Saint Louis, Missouri, que é um mini-museu contando a história da companhia e com diversas miniaturas expostas.




O preço é de $20 dólares para maiores de 16 anos, e $14 dólares para os menores de 15 anos. É possível comprar online no site do Future of Flight ou também comprar um pacote de excursão para o tour, realizado pela Tours Northwest, única agência de turismo credenciada pela Boeing, que busca e leva o visitante nos principais hotéis de Seattle. Vale lembrar que o acesso à fábrica por transporte público é quase impossível. Recomendamos alugar um carro e dirigir até a fábrica com tempo de sobra para visualizar as aeronaves no terraço e fazer o tour.

Para saber sobre os horários de voos de testes e entrega, acesse o site do FlightAware ou baixe o aplicativo para celular. Assim que os planos de voos são feitos aparece no site, mas como qualquer voo de testes, é comum ter atrasos ou cancelamentos nos mesmos.

Também visitamos o Museum of Flight (também conhecido como museu da Boeing), que também fica em Seattle, exatamente aonde a primeira fábrica da Boeing foi construída. Fique ligado para este outro reporte exclusivo.

Boeing Factory Everett Paine Field
Visão geral da fábrica da Boeing desde o terraço do Future of Flight.

 

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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