Voando numa aeronave de 1929 nos Estados Unidos

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Meu gosto por aviação me faz aproveitar todas as oportunidades que eu tenha para voar. Assim aconteceu durante um evento de aviação em que tive oportunidade visitar,  e que é realizado anualmente, entre Julho e Agosto, na cidade de Oshkosh, no estado de Winsconsis – próximo de Chicago e Milwaukee -, a Meca da aviação mundial.

O evento é um deleite para quem gosta de aviões e reúne mais de 10.000 aeronaves particulares e milhões de aficionados vindos de todas as partes do globo, só vendo para crer (as pessoas acampam uma semana sob as asas de seus aviões, rolam voos de aeronaves de todos os tipos, é uma coisa de louco, em breve faremos um relato a respeito).

Como nos Estados Unidos existe um empenho do governo e das pessoas em preservar a cultura aeronáutica, há aviões que voaram no início do século passado e que ainda estão em condições de voo nos dias atuais. É o caso de um Ford Trimotor de 1928, uma “ave” rara, de grande valor histórico, carregador do famoso apelido de “ganso-metálico”.

Logo descobri que se ofereciam voos a bordo dele, mas no mesmo momento pensei que o preço fosse proibitivo e, de início, tentei até fugir da tentação. Me aproximei do guichê e não acreditei que a passagem aérea para aquele voo custaria somente US$ 75!

Comprei o bilhete na hora e aguardei nossa vez de embarcar, nosso voo seria o de número 18 e a nossa fila de espera a número 3 (tudo muito bem organizado).

Confira o vídeo que fiz do voo. Note que não coloquei música de propósito, pois o que mais me incomoda em vídeos de aviação é que os autores escondem o som da máquina. Vamos curtir o som, além disso é de 1929!  A seguir continue lendo a matéria para mais detalhes.

 

FATOS SOBRE A MÁQUINA QUE VOEI

Duas aeronaves se revezam nos voos com os entusiastas. A que voei era do modelo 5-AT, fabricada no ano de 1929 e que voou somente dentro dos Estados Unidos transportando passageiros e cargas.

Sua a capacidade é para 10 passageiros e 3 tripulantes. A aeronave não é pressurizada e voa no máximo a 5.640 metros de altura com um alcance de 885 km. A velocidade de cruzeiro é de incríveis 241 km/h (na época dele era algo fantástico).

Embora o design não seja original (Henry Ford sofreu diversos processos por ter copiado o modelo de outro fabricante alemão e um holandês), a aeronave apresentava várias inovações para sua época, como uma estrutura completa em alumínio (inclusive as asas) e a produção em escala que conferiu à Ford o título de “maior fabricante de aviões do mundo” por alguns anos no final dos anos 1920.

Ford queria algo único para a época, queria provar que voar era seguro e fez questão que a aeronave tivesse três motores onde, se um falhasse, os demais dariam conta de conduzir o avião em segurança. Ford conseguiu e sua máquina virou um sucesso (o próprio nome Ford estampado na fuselagem ajudou e muito a criar confiança na população), de uma hora para outra milhares de pessoas que nunca tinham voado antes se aventuraram nos primeiros voos de costa a costa nos Estados Unidos.

Nos anos 1930, Ford acabou abandonando a fábrica de aviões pois não lhe trazia o lucro esperado, no entanto deixou voando no mundo 199 Trimotores, dos quais 8 ainda voam, depois de quase 90 anos e um legado cujas principais contribuições para a aviação comercial de hoje foram as pistas pavimentadas, terminais de passageiros, hangares, correio aéreo e rádio-navegação. Além, é claro, da produção em massa!

 

PREPARAR PARA DECOLAR

Chamaram o grupo 18, era nossa vez. A ansiedade era tamanha que eu já estava há vários minutos esperando no sol pela chamada (há uma área de espera na sombra, mas eu não aguentei ficar ali sentado).

Pela porta larga adentrei no velho guerreiro e me coloquei num dos assentos lá no fundo. As janelas amplas ajudam na hora da foto, mas minha preocupação maior era de sentir o voo em si. Lá na cabine dois comandantes veteranos aumentaram nossa confiança.

Todos prontos, iniciamos o táxi.

 

QUE VOO GOSTOSO

O avião rolou suavemente na pista do aeroporto de Oshkosh e rapidamente alçou voo com uma curva ligeira à direita. Nosso voo durou cerca de 30 minutos e sobrevoou bonitas paisagens do interior do estado de Winsconsin, com as fazendas e os tradicionais estábulos que vemos nos filmes americanos.

Mais interessante do que tudo foi poder sentir o que os passageiros do começo do século passado sentiam. Foi uma viagem ao passado, numa aeronave que nitidamente voa bem devagar e permite apreciar a paisagem de maneira única.

Esse buraco que vocês vem no vidro das janelas foi feito para que o ar de fora fluísse dentro da aeronave. Um ar-condicionado para a época.

 

O BRASILEIRO QUE PILOTOU O TRIMOTOR

O comandante Vinicius Ayres teve o raro prazer de pilotar o Ford Trimotor na Flórida. Pedi gentilmente para ele responder a quatro perguntas que ilustram o sentimento de voar a máquina. Ainda essa semana vou publicar a entrevista, o vídeo e as fotos que ele fez, são muito legais, vão fazer você se sentir mais dentro ainda do Ford Trimotor.

Espero que tenham gostado do relato, se você teve alguma experiência assim, compartilhe com a gente que vamos ter o prazer de publicar.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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