11 de setembro: 20 anos do dia que mudou a aviação para sempre

Foto de Kent Kobersteen, ex-Director de Photography da National Geographic

Se você tinha mais de 15 anos de idade naquele dia, certamente assistiu na TV (quiçá in loco) ao caos que se formou no mundo. Pense, é extremamente difícil lembrar o que fizemos em 10 ou 12 setembro, mas é absolutamente impossível não preservar os detalhes de 11 de setembro de 2001.

Aquele seria apenas mais um dia na faculdade, até que, durante o intervalo, vejo na cantina que a televisão mencionava qualquer coisa sobre um avião ter batido nas torres gêmeas. Aquela imagem da torre norte tomada por fumaça era perturbadora e confirmava que não tinha sido um avião de pequeno porte.

Fiquei ali comendo e assistindo quando, ao vivo, vejo o segundo avião sendo jogado contra a torre sul. Nesse momento, alguém demonstra surpresa com um “Ai meu Deus” capaz de parar o ambiente e fazer com que todos se virassem para a TV. Um silêncio ensurdecedor de alguns segundos e uma enorme interrogação na cabeça.

Não voltei mais para a sala de aula, fiquei ali assistindo até por volta do meio-dia. Lembro-me de ter ligado a meu amigo Igor, outro fanático por aviação, para ver se entendíamos o que estava acontecendo. Ninguém sabia. Passei o resto do dia dedicado a acompanhar pela televisão o desenrolar dos fatos e o resto é história.

Naquele dia, além do terrível número de vidas perdidas, a aviação comercial enfrentaria uma de suas crises mais decisivas. Não seria o primeiro, nem o último, nem o mais impactante. Mas naquele 11 de setembro, a indústria mudou para sempre.

O impacto imediato foi sentido pelas operadoras norte-americanas: em 2000 elas haviam registrado um lucro de $2,2 bilhões de dólares, e em 2001 fecharam com perdas de $8 bilhões. Experimentaram pela primeira vez – e até agora apenas – uma suspensão total das operações, sem precedentes em tempos de paz e apenas praticada em exercícios sob a ideia de nunca ter que executar o plano.

A experiência de viagem também mudou para sempre: cockpits reforçados e praticamente inexpugnáveis, cheques pessoais rigorosos e redundantes, melhor identificação do passageiro, cheques de líquidos e bagagem, itens proibidos. Um clima contínuo e generalizado de desconfiança.

Nesse ínterim, uma indústria que começava a se reconfigurar deu passos gigantescos para resolver questões técnicas que, em tempos de crise, se tornaram importantes: os motores quadrimotores aceleraram seu declínio. Os grandes projetos de superjumbos que resolveriam o congestionamento dos aeroportos não tinham mais razão de ser: o avanço da confiabilidade dos motores, que ficaram maiores e com mais potência, tornou desnecessário um quadrijato pesado que voasse longas distâncias.

A McDonnell Douglas engavetou o MD-12, a Boeing parou de flertar com sua ideia e a Airbus foi em frente com o A380. Alguns anos depois, a maravilha tecnológica do fabricante europeu encontrou um nicho em algumas operadoras, mas o setor já havia mudado. O sistema hub and spoke estava começando a se transformar em uma rede ponto-a-ponto mais dinâmica. A era dos motores duplos estava voltando.

A aviação comercial tinha alguns desafios pela frente: a crise de saúde da SARS em 2003 seria mais profunda do que as consequências do 11 de setembro. O colapso financeiro global de 2008 seria ainda pior. Sem falar no coronavírus e nesses quase dois anos de paralisação global, que dizimou o setor e cujas consequências iremos sofrer por anos.

Mas hoje, olhando 20 anos atrás, quando o segundo avião caiu, sabíamos que as coisas iriam mudar. O que eu não acho que poderíamos ter imaginado é quanto.

Com informações do nosso parceiro Aviacionline – texto adaptado

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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