A incrível história do Boeing 727 visto em Cabul logo após as explosões terroristas

Em 26 de agosto, um horrendo ataque terrorista matava mais de 70 pessoas, entre afegãos e militares americanos, nas imediações do aeroporto Hamid Karzai em meio ao caos da evacuação de Cabul. Horas depois, em meio ao rescaldo do massacre, câmeras da Reuters flagravam a chegada de um Boeing 727 todo branco, que se destacava em meio aos jatos militares.

No mundo altamente conectado de hoje qualquer pessoa comum pode acompanhar eventos históricos ao vivo. E, se a presença do jato na câmera da agência de notícias foi notável por quem assistia, também foi interessante acompanhar a reação pública nos aplicativos de rastreamento como RadarBox ou FlightRadar24, que tiveram o Boeing 727 no topo da lista dos voos mais rastreados por horas.

Dentro do ‘big brother’ que é o mundo atual, rapidamente se identificou que aquela aeronave era um Boeing 727-200 de 41 anos, registrado com a matrícula queniana 5Y-IRE (msn 21931), batizado de Irene, e que voava pela empresa Safe Air. Mas, o mais fascinante era o motivo por ele estar ali.

Chamado às pressas

Graças a uma matéria excepcional de Erika Gibson, do jornal sul-africano Mail and Guardian, conseguimos identifica o que havia por trás da ida dessa aeronave a Cabul, em meio à tumultuada evacuação aérea do Afeganistão. 

Erika descobriu que no comando do jato estava Niel Steyl, comandante há mais de quatro décadas, que atualmente representa e voa para a Safe Air, uma companhia aérea de voos fretados com sede no Quênia. Steyl e sua equipe tem contatos em todo o mundo e estava em Kulob, no Tadjiquistão, quando recebeu uma chamada de emergência do Departamento de Estado dos EUA para assistência imediata após um ataque terrorista complexo 

Steyl contou que já vinha atuando junto aos EUA na retirada de tropas havia alguns meses. Ele disse ao Mail and Guardian :

“Recebemos um telefonema desesperado de funcionários do Departamento de Estado dos EUA em Cabul após o ataque suicida perguntando se estaríamos dispostos a ajudar com voos de resgate… A urgência tornou-se crítica para evacuar um grupo de forças especiais afegãs e seus famílias. Eles têm ajudado as forças dos EUA no país por muitos anos. Como tal, eles certamente teriam sido mortos pelo Talibã, pois são vistos como traidores”.

Foto: Safe Air

308 pessoas

Após o pouso, o Boeing de Steyl foi levado a uma área próxima de um galpão do aeroporto, onde os militares afegãos estavam escondidos. Com receio de que as coisas saíssem do controle, os EUA queriam tirá-los de lá o quanto antes. Segundo o comandante, levou apenas 40 minutos para carregar 308 pessoas no 727 configurado para carga

“Esperávamos um grupo abatido, mas ficamos agradavelmente surpresos com o grupo bem-falante e bem vestido – apesar de terem ficado escondidos em um depósito em condições adversas por uma semana. Foi gratificante sentir o alívio e a gratidão da parte deles por termos chegado a tempo de salvá-los”, disse Steyl.

Um voo não foi suficiente, então uma segunda operação foi organizada, dessa vez com mais 329 pessoas no clássico 727. Todo esse contingente foi levado até o Tadjiquistão em segurança, embora apenas tenham descoberto seu destino depois que pousaram.

Mais informações sobre as missões do comandante Steyl em Cabul e mais fotos da missão podem ser vistas na matéria original aqui

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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