“O A380 acabou, o 747 acabou”, afirma presidente da Emirates

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Enquanto os primeiros meses da pandemia ainda eram permeados por afirmações de que a aviação logo se recuperaria aos níveis pré-crise, o tempo e as consequências dos lockdowns ao redor do mundo estão trazendo visões muito mais realistas e, infelizmente, pessimistas para o futuro do mercado aéreo.

Avião Airbus A380 Emirates
Imagem: Emirates

Embora nas últimas semanas tenhamos visto grandes aviões sendo retirados de serviço e várias empresas aéreas prevendo uma retomada lenta, de até anos para o restabelecimento dos números anteriores à Covid-19, o presidente da Emirates, Tim Clark, bastante respeitado na aviação por sua experiência e resultados na Companhia, agora traz um reforço de peso ao discurso sobre as consequências desse período devastador para o mercado.

Em entrevista ao árabe The National, Clark passou suas impressões e expectativas sobre os próximos meses e anos da aviação mundial. Sua perspectiva é que grandes aviões definitivamente não terão mais espaço, e que muitas companhias aéreas ainda podem desaparecer, mesmo após enormes aportes governamentais, de acordo com a evolução da Covid-19 e do descobrimento de uma vacina.

A saúde das companhias aéreas

Segundo o presidente, teríamos visto “empresas que procurariam se fundir, se unir a outras pessoas para se aliviarem juntas da situação financeira que enfrentam”, mas as ajudas dos Governos impediram esse processo.

“Se as leis naturais de sobrevivência da oferta e demanda dos mais aptos tivessem funcionado, acho que teríamos visto o abate de muitas companhias aéreas. Eu penso que 85% iriam falir se não houvesse intervenção do Estado”, disse.

Clark diz ainda ter dúvidas sobre a saúde dessas empresas mesmo após as intervenções: “não estou otimista quanto à capacidade de sobrevivência de algumas transportadoras.”

O pior cenário das últimas décadas

O executivo considera que o momento atual é pior que quaisquer das perturbações que o mundo enfrentou desde a Segunda Guerra Mundial e, inclusive, pior que os efeitos de todas elas juntas: “se você pegar o conjunto de todas elas, não seriam equivalentes ao que aconteceu agora”, afirmou. “É extremamente sério e é devastador para os negócios. Não vejo nenhum caminho a seguir no momento”.

Para Clark, a demanda por viagens aéreas continuará atenuada em muitos aspectos “no próximo ano ou dois, talvez um pouco mais”, e mesmo assim, após a retomada, os níveis anteriores não serão atingidos: “o que emerge será quase 20 ou 30% menor do que o que estávamos experimentando antes do ataque do coronavírus”.

O futuro dos grandes aviões

Quando perguntado sobre os aviões de grande porte, algo bastante relevante para a Emirates, que possui mais de 100 unidades do Airbus A380 em sua frota, Clark enfatizou que esse é o fim dos quadrimotores. “Sabemos que o A380 acabou, o 747 acabou, mas o A350 e o 787 sempre terão um lugar.”

“Você não pode voar de Dubai para São Francisco em um 737 sem escalas, mas sim em um 787 e em um A350 e com muito conforto”, completou.

Avião Emirates Boeing 787-10
Montagem do Boeing 787 nas cores da Emirates, modelo encomendado pela Companhia

Solução para a Covid-19 e sua aposentadoria

Tim Clark é muito mais cético do que muitos executivos e governantes quanto ao desenvolvimento de uma vacina para a Covid-19.

Ele não espera uma solução mundial antes do próximo verão (do Hemisfério Norte), ou seja, apenas no meio do ano que vem. “Minha opinião, meu pressentimento, está me dizendo que, no verão do próximo ano, poderemos avançar para a inoculação global em massa (…) e se for mais um ano, teremos que conviver com as agonias no que diz respeito ao transporte aéreo”.

Clark havia anunciado que se aposentaria da Emirates no final de junho de 2020, depois de mais de três décadas na Companhia Aérea. Teve, portanto, grande papel no desenvolvimento tanto da própria Empresa quanto da economia de Dubai e ancorou o emirado como um centro comercial e internacional de viagens.

Quando questionado pelo The National sobre uma possível extensão de sua permanência, sua resposta não foi objetiva, mas deu indícios de que talvez continue. “Basicamente, eu disse que ficarei o tempo que for necessário para o grupo de gestão com o qual estou trabalhando avançar e, depois, veremos como será o processo”, disse Clark.

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Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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