Acidente com o avião DHC-6 é agora detalhado pelos investigadores

Receba as notícias em seu celular, clique para acessar o canal AEROIN no Telegram e nosso perfil no Instagram.

No início deste mês, acompanhamos as informações sobre o acidente com um turboélice DHC-6 em Papua-Nova Guiné que, segundo o que havia sido divulgado até aquele momento, teria ocorrido durante o pouso da aeronave, deixando-a bastante danificada.

Agora, a Comissão de Investigação de Acidentes (AIC) daquele país divulga seu relatório preliminar, descrevendo os detalhes factuais já levantados sobre a ocorrência, incluindo, por exemplo, a informação de que o problema se deu na decolagem, e não no pouso. Veja a seguir o que já foi descoberto pelos investigadores.

Como tudo aconteceu

Em 1 de dezembro de 2020, às 09:13 local (23:13 UTC), uma aeronave Viking DHC-6-300, registrada sob a matrícula P2-ASM, operada pela companhia aérea Air Sanga Limited, sofreu um acidente de excursão na pista durante a corrida de decolagem no aeródromo de Wobagen, província de Sandaun.

Naquela manhã, a tripulação havia voado para Wobagen em um voo fretado de passageiros e carga, pousando às 08h47. Uma vez no solo, a tripulação preparou a aeronave para o próximo voo, embarcando passageiros e carregando-a com carga.

O voo charter VFR2 seria para a pista de pouso Bak, localizada 3,8 nm (7 km) a nordeste de Wobagen, também na província de Sandaun. Havia 9 pessoas a bordo da aeronave, sendo 2 pilotos e 7 passageiros.

O piloto em comando (PIC) era o piloto voando (PF) o DHC-6 e o co-piloto (CP) era o piloto monitorando (PM).

Os dados obtidos a partir dos sistemas de registro da aeronave mostraram que a tripulação completou a lista de verificação ‘Before Take-of’ (Antes da decolagem) na área de estacionamento e, em seguida, começou a taxiar para oeste em direção ao limite da cabeceira 12.

Por volta das 09h13, ao atingir a cabeceira 12, o PIC deu uma volta de 180° e aplicou a potência máxima, passando da rolagem de taxiamento imediatamente para a rolagem de decolagem.

Segundo relato dos envolvidos durante entrevista à AIC, a tripulação afirmou que, após aplicar a potência máxima, a aeronave apresentou tendência de virar para a direita. O PIC tentou manter a aeronave na linha central usando empuxo assimétrico (mais potência em um motor do que no outro), no entanto, conforme a aeronave acelerava na pista, a tendência de virar para a direita aumentava.

Quando distante cerca de 154 metros da cabeceira 12, a aeronave começou a desviar para a direita e se afastou da linha central. Quando a aeronave passou pelo limite da lateral da pista (marcada com cones), com uma velocidade de solo registrada de 40 kt (74 km/h), a tripulação abortou a decolagem.

A potência foi reduzida para marcha lenta e os freios totalmente aplicados, mas enquanto a aeronave reduzia a velocidade, continuou virando para a direita. Quatro segundos depois, atingiu uma vala de drenagem de água.

Percurso da aeronave desde o estacionamento até a posição do acidente – Imagem: AIC

A roda dianteira se separou da estrutura, fazendo com que o nariz caísse e o trem de pouso de nariz colapsasse. A velocidade da aeronave fez com que continuasse outros 8 metros com o nariz se arrastando pelo solo antes de atingir a vala de drenagem.

Os pilotos afirmaram durante a entrevista que após a aeronave parar, executaram o procedimento de desligamento dos motores. Enquanto o faziam, os passageiros abriram a porta da cabine e saíram da aeronave.

Ambos os pilotos saíram por suas respectivas portas, e um passageiro relatou ter sofrido ferimentos leves. As informações do início do mês indicavam se tratar de uma criança, porém, o relatório não apresenta informações que permitam confirmar ou refutar este detalhe.

Danos verificados

A aeronave sofreu danos significativos na seção dianteira da fuselagem, trem de pouso do nariz (NLG) e na hélice e asa esquerdas. O conjunto da roda do nariz foi desalojado da estrutura e sofreu danos.

A seção dianteira da fuselagem bastante danificada – Imagem: AIC

A roda de nariz desalojada da estrutura do trem de pouso – Imagem: AIC

A raiz da asa esquerda parcialmente separada da fuselagem – Imagem: AIC

A ponta da asa esquerda danificada – Imagem: AIC

Pá da hélice esquerda esquerda, que atingiu o solo – Imagem: AIC

A AIC destaca que a investigação está em andamento e incluirá, mas não se limitará a, operações de voo, aeronavegabilidade e capacidade de manutenção da aeronave, aspectos relacionados ao clima e condições da pista de pouso, e aspectos humanos e organizacionais, na medida adequada.

A análise e os resultados da investigação, bem como recomendações de segurança, serão incluídos no Relatório Final.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

Veja outras histórias