Acidente em Paris que ajudou a sepultar o Concorde completa 20 anos

Montagem do Smithsonian

O dia 25 de julho de 2000 era uma clara terça-feira de verão em Paris e o voo AFR4590 estava sendo preparado para mais uma viagem rumo a Nova Iorque, como em tantas vezes anteriores. Naquele dia, o voo havia sido fretado pela empresa alemã Peter Deilmann Cruises e os passageiros estavam a caminho do navio MS Deutschland para um cruzeiro de 16 dias ao Equador.

A bordo do Concorde de matrícula F-BTSC, 104 passageiros haviam pago US$ 9.000 por uma viagem de ida e volta no clássico supersônico, que lhes oferecia mais do que a comodidade de atravessar o oceano na metade do tempo de um jato convencional, mas também usufruir de uma experiência da qual poucos podiam pagar. Enquanto isso, os cinco tripulantes cuidavam dos detalhes para mais um voo se rotina.

Preparando para decolar

Com tudo pronto, o Concorde alinhava na pista 26R próximo das 16h40 locais em Paris e, pouco depois, iniciava sua rolagem.

Pouco após ter cruzado a velocidade de decisão (V1), ainda correndo na pista, os comandantes do voo sentem um movimento anormal, o avião começa a jogar para a esquerda e um barulho era ouvido vindo da traseira do quadrijato. O comandante Christian Marty ouve a recomendação do engenheiro de voo Gilles Jardinaud para abortar a decolagem, mas correndo àquela velocidade já era tarde e o avião precisaria decolar.

Segundos depois o avião atinge a VR, velocidade de rotação, e inicia a saída do chão, ao mesmo tempo em que os motores defeituosos são desligados e com os comandantes totalmente alheios ao fato de que uma enorme bola de fogo se formava na parte inferior da sua aeronave e um rastro de fumaça era visto a quilômetros.

Rapidamente perdendo velocidade e altitude, nada mais podia ser feito e o avião descia fatalmente ao encontro de um hotel nas redondezas do aeroporto, resultando na morte de 113 pessoas entre quem estava a bordo e quem estava em terra. Era o único acidente fatal do Concorde durante seus 27 anos de história.

O vídeo abaixo, de apenas 4 minutos foi feito pelo Smithsonian e mostra o que aconteceu a bordo naquele dia fatídico.

Investigações

Mais tarde, com todas as informações em mãos, os investigadores chegaram a uma conclusão surpreendente. Em certo momento, logo após atingir a V1, o Concorde atropelou uma peça de titânio que se desprendeu de um DC-10 da Continental Airlines, decolado minutos antes, fazendo com que um pneu estourasse e detritos voassem para o lado inferior da asa esquerda, direto no tanque de combustível, e para o compartimento do trem de pouso.

Com o tanque totalmente cheio, uma grande quantidade de combustível começou a vazar e faíscas geradas por danos no sistema elétrico iniciaram o incêndio, enquanto a tripulação lutava para manter a máquina voando. Os danos nos motores 1 e 2 fizeram com que o empuxo daquele fosse quase que totalmente cortado e a incapacidade de retrair o trem de pouso acrescentava arrasto extra, jogando o Concorde rumo ao chão.

As gravações da caixa preta mostraram aos investigadores que os pilotos ainda tentaram levar o avião para Le Bourget, mas não houve tempo suficiente.

Tentamos contar com brevidade, mas há um vasto material na internet para quem quiser se aprofundar. Consulte esse link para informações essenciais e o relatório final dos investigadores.

A peça que causou o acidente

O Fim do Concorde

Naquele momento, o Concorde já não tinha mais o mesmo apelo para as empresas aéreas que o operavam – Air France e British Airways – como em seus anos áureos.

Apesar da fama de ser um dos aviões mais seguros do mundo, o contexto econômico e a concorrência florescente impunham novos desafios às empresas, que concluíram ser inviável economicamente manter o supersônico em voo. Outro desafio residia na restrição de rotas, já que ele somente poderia atingir a velocidade supersônica sobre o oceano, por motivos de ruído. Com isso, cada vez menos voos eram agendados para o icônico quadrimotor.

Para piorar, após o acidente, uma decisão da Europa levou todos os Concordes ao solo enquanto as investigações eram conduzidas e as empresas viram que poderiam sobreviver sem eles. Como resultado, a Air France aposentou-o de vez, enquanto que a British ensaiou um retorno em 2001, mas foi por pouco tempo e em 2003 o modelo deu seu adeus definitivo.

Foto de Michel Gilliand via Wikimedia Commons
Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

Veja outras histórias