Aeroporto de Guarulhos deve ver passageiros de 2019 apenas em 2023, diz Fitch

Foto GRU Airport

Na última semana, a agência classificadora de riscos Fitch atualizou suas premissas para o retorno dos passageiros ao maior aeroporto do Brasil, o GRU Airport. Segundo os analistas, os números de viajantes de 2019 devem ser vistos novamente apenas em 2023. No ano passado, passaram por Guarulhos 43 milhões passageiros, um recorde na história do terminal.

Na análise, a Fitch também mantém a “Perspectiva Negativa” dos ratings da primeira e da segunda emissões de debêntures da GRU Airport, destacando que os fatores macroeconômicos resultam em aumento da necessidade de recursos adicionais e reforçam a importância de a concessionária renegociar o pagamento de suas outorgas e/ou reestruturar suas dívidas para evitar o inadimplemento.

A postergação do pagamento de outorgas fixas e variáveis para dezembro de 2020 (R$ 1,5 bilhão) aliviou as pressões no caixa da GRU Airport em julho, mas a concessionária não terá liquidez e/ou geração de caixa suficientes para honrar estes pagamentos num futuro próximo, segundo as projeções da Fitch. Em junho, a GRU Airport possuía R$ 0,6 bilhão em caixa disponível e contas de reservas.

A concessão tem prazo de vinte anos, e se encerra em julho de 2032.

Modelo de cenários

Até agosto, o tráfego no aeroporto estava em linha com o modelo de cenários da Fitch, criado em abril. Neste cenário, de estresse moderado, o volume de tráfego de 2019 seria alcançado novamente em 2023, e o valor presente líquido (VPL) dos recursos adicionais necessários para honrar as dívidas e o pagamento das outorgas fixas e variáveis diminui de R$ 4,2 bilhões para R$ 3,9 bilhões.

A “Perspectiva Negativa” poderá ser revista e alterada assim que a Fitch tiver mais visibilidade sobre a capacidade do GRU Airport de renegociar as outorgas e/ou obrigações até dezembro de 2020, a fim de evitar déficits de liquidez.

A agência ressalta que seus ratings são de natureza prospectiva e que irá monitorar a gravidade e a duração dos efeitos da pandemia no setor aéreo. Além disso, incorporará dados qualitativos e quantitativos revisados em seus cenários base e de rating, com base nas expectativas de desempenho e na avaliação dos principais riscos.

Principais premissas

As principais premissas utilizadas pela Fitch no cenário de estresse da GRU Airport incluem:

– Redução do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 5,8% em 2020 e crescimento de 3,2% em 2021, de 2,5% em 2022 e de 1,7% a partir de 2023;

– Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo (IPCA) de 1,9% em 2020, de 3,2% em 2021, de 3,5% em 2022 e de 3,3% a partir de 2023;

– Taxa Selic de 2,0% em 2020, de 3,0% em 2021, de 4,8% em 2022, de 6,0% em 2023, de 7,0% em 2024 e de 8,0% a partir de 2025;

– Redução de 58% no volume de passageiros em 2020, seguida de recuperação, em 2021, 2022 e 2023, equivalente a 80%, a 90% e a 100%, respectivamente, do tráfego registrado em 2019;

– Aumento das despesas operacionais conforme a inflação do período.

Resumo da Análise

Até agosto deste ano, o número de passageiros da GRU Airport havia diminuído 53%, em comparação com o mesmo período do ano anterior, em decorrência da pandemia do coronavírus.

Em junho, a concessionária possuía dívida total ajustada, pelos critérios da Fitch, de R$ 16,8 bilhões, incluindo o valor presente da outorga, e posição de caixa de R$ 621 milhões, o que, com base no EBITDA ajustado dos últimos 12 meses, se traduz em uma relação dívida líquida ajustada/EBITDA ajustado de 13,8 vezes.

O Rating da Fitch segue as seguintes metodologia:

– Metodologia de Rating para Infraestrutura e Financiamento de Projetos (24 de março de 2020);

– Metodologia de Ratings em Escala Nacional (8 de junho de 2020).

– Airports Rating Criteria (24 de março de 2020).

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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