Aos poucos, o caminho para o “novo normal” da aviação vem sendo estabelecido

Várias regiões do planeta começaram, nas últimas semanas, a ter reduzidas as restrições de movimentação impostas pelos governos locais, que foram estabelecidas nos momentos mais intensos do combate à pandemia do novo coronavírus. Com isso, cidades, países e mesmo continentes começam a respirar novamente os ares da liberdade dos deslocamentos.

Avião Boeing 787-8 China Southern
Imagem: byeangel [CC]

Países onde a curva de contaminação está sendo reduzida dão os primeiros passos para restabelecer suas economias, reabrindo fronteiras, liberando a abertura gradual de negócios e serviços, antes paralisados.

Nesse contexto, o setor aéreo, essencial para a recuperação econômica global no pós-pandemia, também vai dando seus passos iniciais na direção do agora chamado “novo normal”.

Empresas, aeroportos, usuários, cadeias de suprimentos de todos os tipos, enfim, toda uma indústria tendo que se adaptar para atender a novos protocolos de saúde e mesmo de convívio social. Algo jamais vivenciado em nossa história.

Reinicialização

Para a IATA, o pior da crise pode ter passado, considerando que não haja outras grandes ondas da doença. Em abril foi o registrada a maior baixa na demanda por serviços aéreos na história da série de levantamentos que a Associação realiza desde 1990.

Os números dos voos estão aumentando, os países estão começando a levantar as restrições de mobilidade e a confiança nos negócios está demostrando melhorias em mercados importantes, como China, Alemanha e EUA.

Embora pequeno, o aumento na confiança dos passageiros deve-se, em parte, aos esforços extraordinários que vêm sendo feito por companhias aéreas e aeroportos do mundo inteiro, buscando restabelecer a confiança do consumidor nas viagens aéreas, destaca o portal CNTraveler.

Todos que acompanham o mercado aéreo já tem consciência de que o setor levará um bom tempo para voltar ao patamar do pré-crise. Especialistas dizem que o setor não voltará a esses níveis nos próximos dois anos.

Avião Boeing 777-300 United Airlines

Eles também sugerem que o crescimento do número de passageiros ocorrerá a taxas diferentes em todo o mundo, dependendo do fechamento de fronteiras locais e da situação de propagação da doença na região.

“O importante é reconhecer que estamos vendo os primeiros sinais de recuperação e que os países estão se recuperando a uma taxa diferente e que cada um tem suas próprias nuances”, disse John Grant, analista sênior da empresa de dados OAG, ao CNTraveler.

Abril obscuro

O mês de abril com certeza não deixará saudades no setor aéreo. No pior mês para o transporte aéreo até o momento, a IATA registrou uma queda de 98,4% na demanda internacional de passageiros em relação a abril de 2019. Mesmo comparado a março, já em tempos de pandemia, abril apresentou uma queda de 58,1%.

No setor doméstico não foi diferente, o tráfego caiu 86,9% em abril, com os maiores declínios registrados na Austrália (-96,8%), Brasil (-93,1%) e EUA (-95,7%).

Empresas aéreas de todo o mundo mantiveram suas aeronaves no chão, armazenadas. Dados do Cirium mostram que em 22 de abril havia em solo 16.800 aeronaves a jato, ou dois terços da frota aérea global, constituída por aproximadamente 26.300 equipamentos. Em maio, esse número começou a recuperar, embora timidamente.

Quais são as regiões que estão iniciando a recuperação

“O crescimento dependerá de uma variedade de fatores externos, desde o nível de suporte governamental recebido pelo setor até a confiança do consumidor no mercado após o bloqueio”, disse Rob Morris, consultor chefe da Cirium.

Seus dados mostram que os voos domésticas na China mostram um crescimento. De fato, o mercado doméstico chinês passou de uma queda de 71% no número de passageiros final de fevereiro para uma queda de 33% no final de abril, em comparação aos números de 2019.

Linha de tendência chinesa mostra o ponto mais baixo na semana de 19 a 26 de FEV. A partir da semana de 11 MAR apresentando recuperação. Fonte: Cirium.

Esses dados podem ser confirmados com o levantamento feito pela IATA: a China registrou um declínio anual de 66,6% no tráfego em abril, uma melhora pequena em relação aos 68,7% em março, mas um número bem melhor em relação a queda de 85% registrada em fevereiro, mês de auge da pandemia no país asiático.

Os dados do Cirium também mostram que as viagens dentro da Ásia voltaram a crescer à medida que o pico do novo coronavírus passou na região. Na terceira semana de maio, a região da Ásia-Pacífico (APAC) teve 104.595 voos, o número representa o dobro de voos nos EUA (52.892) na mesma semana.

A confiança dos passageiros nas viagens aéreas varia de acordo com a região e a necessidade de movimentação. Por exemplo, algumas nações insulares, como a Indonésia ou as Filipinas, dependem muito de viagens aéreas, o que pode levar a uma recuperação mais rápida.

“Os países que estão relatando recuperação do impacto do vírus também estão mostrando mais atividade, como nos mercados da APAC”, diz Joanna Lu, outra consultora do Cirium. “Está claro que a demanda doméstica se recuperará antes da demanda internacional”, relata ela no CNTraveler.

A consultora observa que “bolhas de viagem” dentro de regiões ou outras iniciativas são o caminho do futuro a curto prazo até que uma vacina seja desenvolvida.

“O facilitador fundamental da retomada do tráfego aéreo internacional é o reconhecimento de dois países do sistema e do padrão de saúde um do outro, além dos padrões de compartilhamento de informações”, diz ela.

A consultora acredita que mais acordos bilaterais se seguirão, embora lentamente. Esses países provavelmente estariam geograficamente mais próximos um do outro ou com padrões semelhantes de saúde e informação.

Isso significa que as rotas ponto a ponto poderão ser mais viáveis ​​do que as conexões por meio de um hub de trânsito. Lu observa que as companhias aéreas podem precisar estar preparadas para alguns padrões de voo ou operações aeroportuárias muito diferentes daqui para frente.

Líderes atuais na capacidade de voo

China e EUA lideram o mundo no número de assentos disponíveis para passageiros, de acordo com a OAG. Os dados também mostram que a Europa viu a “mais extensa contração dos serviços aéreos” em todo o mundo.

John Grant, da OAG, destaca que a China, os EUA, a Índia, o Japão e a Indonésia já possuíam grandes mercados de viagens domésticas. Esses países não viram cortes de capacidade tão significativos como alguns mercados menores, onde os processos internacionais de viagens e quarentena poderiam afetar a velocidade da mudança.

Avião Boeing 787 Air India
Imagem: Air India.

É por isso que eles estão entre os primeiros a ver o aumento da capacidade doméstica, de acordo com dados da consultoria OAG da semana que termina em 24 de maio.

A OAG lista, em ordem decrescente, o restante dos 10 principais mercados de viagens domésticas com mais assentos disponíveis para a mesma semana: Rússia, Coréia do Sul, Vietnã, Irã e México.

“Muitos desses países não apareceriam em uma lista semanal quando a Europa Ocidental, e especificamente mercados como o Reino Unido, Alemanha e Espanha, estavam totalmente abertos e operacionais”, diz Grant.

A China Southern Airlines teve o maior número de assentos disponíveis para venda na China, seguida pela China Eastern Airlines durante a mesma semana, segundo a OAG. Nos EUA, a Southwest liderou o caminho com a maior capacidade seguida pela American.

Os números da IATA também mostram que o total diário de voos aumentou 30% entre o dia 21 de abril e 27 de maio. Isso ocorreu, principalmente, por conta de operações domésticas em vários lugares do mundo.

Assim, o setor aéreo vai aos poucos, de região em região, dentro das características de cada local, voltando a prestar seus serviços, fundamentais para a recuperação da economia e da retomada no desenvolvimento mundial, que foram duramente afetados, em todos os setores pela pandemia.

Aos poucos, o caminho para o “novo normal” vai sendo estabelecido, um caminho que levará a um mundo muito diferente do que existia antes da pandemia.

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