Após compra pela VoePass, MAP tem mais da metade da frota parada por irregularidades

Mesmo após a compra pela Passaredo, quando se tornou parte da VoePass, a amazonense MAP Linhas Aéreas continua enfrentando desafios que prejudicam sua malha aérea e seus planos de ampliar operações no norte do país. A grande quantidade de aeronaves paradas é um desses problemas.

ATR 42 MAP
ATR 42 da MAP, PR-MPO, que está sem voar © Divulgação

Em dezembro passado falamos sobre a questão, que foi levantada por deputados representantes da região Bacia Amazônica, que afirmaram que a empresa tinha abandonado a região após a compra pela Passaredo.

Naquela época, a empresa tinha prometido restaurar sua malha no norte, afirmando, inclusive, que tudo estaria normalizado até o dia 20 de março. Faltando 12 dias para o prazo, nada disso aconteceu.

Reclamações por cancelamentos

A MAP completou sete anos de idade no último dia 4 de março, e em sua postagem no Facebook celebrando a data, existem alguns comentários sobre cancelamentos, principalmente na hora do embarque.

Notamos situação parecida o mesmo quando acessamos a página de reclamações sobre a empresa no Reclame Aqui, e encontramos uma concentração de pedidos relacionados a cancelamentos sem antecedência.

Uma análise das bases de dados da ANAC, revelou também uma situação bastante peculiar, com um percentual de cancelamentos ou atrasos superiores a 30 minutos bastante relevante.

Observe na tabela abaixo que o total de voos cancelados em janeiro de 2020 chegou a 21%, no mesmo mês, se olharmos também para os atrasos superiores a 30 minutos, o percentual de voos com problemas de cumprimento de horário sobe para quase 30%, ou seja, um em cada três.

Problemas na frota

ATR 42 PR-MPN está parado desde o acidente no ano passado

Analisamos a frota da MAP e identificamos que mais da metade está parada devido a irregularidades relacionadas às inspeções obrigatórias de manutenção.

A frota da empresa é composta de seis aeronaves turboélice ATR, sendo metade do modelo menor ATR 42, que leva até 48 passageiros, e metade do maior ATR 72, que leva até 78 passageiros.

Começando pelos menores, apenas um está em situação regular para voos, o PT-MFE. Os outros dois de matrículas PR-MPN e PR-MPO estão impossibilitados de voar segundo os registros da ANAC.

O MPN foi a aeronave envolvida no pouso de barriga em Manaus em junho do ano passado. Desde então, ele está parado na capital do Amazonas com seu Certificado de Aeronavegabilidade cancelado devido ao acidente (Certificado de Aeronavegabilidade é o documento que indica que a aeronave está em condições regulares de voo, tanto de forma física quanto documental).

Já o PR-MPO está com o mesmo certificado vencido, devido à não realização de IAM – Inspeção Anual de Manutenção (a IAM é uma verificação física e de documentos de bordo, que visa avaliar se a aeronave vem sendo mantida em condições aeronavegáveis, não estando atrelada a realização de um serviço corretivo se tudo estiver regular).

Nos maiores, os ATR 72, a situação é similar: são três, sendo que o de matrícula PR-MPZ também está com a IAM vencida e o de matrícula PR-MPY está com o Certificado de Aeronavegabilidade vencido.

No caso do PR-MPY, a aeronave estaria em manutenção nos hangares da Passaredo em Ribeirão Preto para poder regularizar a situação.

Sendo assim, sobra apenas um ATR 72, que é o PR-MPW, porém, este está em São Paulo realizando os novos voos da VoePass para Congonhas e o interior do país.

Novas aeronaves não devem resolver os problemas

Para amenizar a situação da MAP, a Passaredo cedeu um ATR 72, de matrícula PR-PDP. Esta seria a única aeronave a operar em conjunto com o PT-MFE.

Dois novos ATR chegaram recentemente para a VoePass. São eles os ex-Jet Airways M-ABMB, que já está em Ribeirão Preto para ser pintado nas cores da companhia, e o M-ABMC, que está em Confins para nacionalização.

As matrículas brasileiras destas aeronaves ainda não foram definidas, porém, a expectativa é que as duas operem apenas para a Passaredo, nesse caso voando no Sudeste, principalmente no Aeroporto de Congonhas na capital paulista.

Investigação do Ministério Público

O Ministério Público do Amazonas (MPAM), por intermédio da 1ª Promotoria de Parintins, instaurou Inquérito Civil para investigar suposta prática abusiva da empresa MAP Linhas Aéreas, com os frenquentes cancelamentos dos voos de chegada e de partida da cidade de Parintins (AM).

Para a instauração do procedimento, a promotora de Justiça considerou que o transporte aéreo é serviço essencial e que as concessionárias de serviço público enquadram-se no conceito de fornecedor, “à luz do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor”.

O MPAM também considerou que a referida companhia aérea está, há meses, frequentemente, cancelando os voos de chegada e partida de Parintins/AM, “fazendo-o por seu alvitre e sem prestar informação clara ao consumidor”. Dessa forma, pode-se configurar a adoção de prática coercitiva ou abusiva, pois os casos afetam não somente a consumidores que compraram bilhetes, mas “também viola o direito da coletividade de ter a segurança da continuidade do serviço aéreo”.

Desta forma, a promotora de Justiça determinou que a empresa deverá informar o motivo de cada cancelamento de voo, a contar a partir de outubro de 2019, e que encaminhe os comprovantes das comunicações de cancelamento do voo, feitas aos consumidores que adquiriram os bilhetes aéreos, bem como apresente laudo da ANAC que justifiquem a necessidade de cada cancelamento dos voos de partida e de chegada à cidade de Parintins/AM, a contar de agosto de 2019.

Nota do editor: vale lembrar que a ANAC não emite laudos para cancelamentos de voos de companhia aérea, sendo a mesma apenas obrigada a emitir uma carta de cancelamento e/ou atraso, seguindo a Resolução 400 da própria agência.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

Veja outras histórias