O Heathrow, em Londres, é um dos aeroportos com mais restrições de slots do mundo. Isso significa que, para operar nele, as companhias aéreas precisam obter “slots”, e esses podem ser comprados e vendidos por alguns valores ultrajantes.
Como exemplo disso, em 2016, a Oman Air ganhou as manchetes quando pagou US$ 75 milhões por um slot de Heathrow, ao comprá-lo da Air France-KLM.
Dado o contexto, vamos falar agora da personagem principal. Até agora, a Norwegian operava exclusivamente no aeroporto de Gatwick, em Londres, o que é lógico, já que o custo é menor e as faixas horárias no aeroporto são mais fáceis de encontrar.
Mas, há algumas semanas surgiu a informação de que a Norwegian havia recebido seis slots semanais em Heathrow – o que significa três viagens de ida e volta, já que uma decolagem e pouso exigem dois slots. O pedido original da empresa era para 14, mas, como de costume, as companhias aéreas normalmente não recebem o que pedem, principalmente por que essa distribuição se deu num processo de sorteio.
De início, houve celebração e muita especulação sobre as novas rotas, ainda que poucas. Afinal, conseguir horários de pouso e decolagem no Heathrow tem um peso grande. O balde de água fria, no entanto, veio nessa semana, quando a empresa informou que estava devolvendo seu “prêmio”. Por que ela fez isso?
Por que ela desistiu de Heathrow
Talvez não fizesse sentido para a Norwegian lançar três voos de ida e volta semanais de Heathrow, por alguns motivos:
- Ela não tem conectividade em Heathrow, enquanto têm muita em Gatwick;
- Indiscutivelmente, três voos por dia de Heathrow não iriam exatamente criar muita presença lá, ou representar uma ameaça para a British Airways ou a Virgin Atlantic;
- Presumivelmente, os custos operacionais da Norwegian seriam muito mais altos em Heathrow. Não apenas pelo aeroporto, mas sim pela falta de economia de escala. É mais caro fazer tudo quando você tem meia dúzia de voos por dia e não dezenas.
Por isso, a notícia da devolução não deveria ser necessariamente uma surpresa. A empresa emitiu uma nota à imprensa em que dizia:
“Gostaríamos de agradecer à ACL e ao Heathrow por concederem três vagas à Norwegian para a programação do verão de 2020.
Após uma análise cuidadosa, que levou em conta as pressões atuais da frota impostas à companhia aérea por problemas bem documentados com um tipo de motor Rolls Royce Trent específico e o aterramento contínuo da aeronave Boeing 737 MAX, decidimos devolver os slots, pois eles não se encaixam no nosso plano de rede no momento.
À medida que a companhia aérea passa de uma estratégia de crescimento para lucratividade, esperamos ter discussões futuras sobre o assunto”.
Um porta-voz da ACL, que administra os slots de Heathrow, confirmou que “os slots foram devolvidos ao pool em Heathrow” e que “eles serão realocados de acordo com a regulamentação vigente”.
Priorização da lucratividade
De fato, aparentemente esse é um movimento certo. Embora conseguir slots em Heathrow seja empolgante, a limitação de voos e a falta de conectividade falam mais alto.
A decisão reflete a estratégia atual da empresa low-cost, que está priorizando a rentabilidade sobre o crescimento da rede. A companhia aérea nórdica concordou recentemente em vender seu empreendimento sul-americano Norwegian Air Argentina para a Indigo Partners, e lançou sua rede de longa distância partindo de Estocolmo e Copenhagen.
A Norwegian é a terceira maior operadora em Londres, aeroporto de Gatwick, com 11% da capacidade semanal, atrás da British Airways que controla 19% dos assentos, e a easyJet, comandando 40%.