A quinta-feira, 13 de agosto, ficará marcada como um dia para a história, quando Israel e Emirados Árabes Unidos chegaram a um acordo para normalizar suas relações e abrir um caminho para acordos bilaterais em várias áreas, que incluem inclusive serviços aéreos diretos entre os dois países.
A ação, no entanto, foi duramente repudiada por vários outros países da região, que não reconhecem a legitimidade do Estado de Israel e chamam os emiradenses de “traidores”.
O chamado ” Acordo de Abraham”, anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, garante o compromisso israelense de interromper a anexação de terras palestinas na Cisjordânia ocupada, ao menos por algum tempo. A íntegra do acordo foi divulgada no site da Embaixada dos Estados Unidos em Israel.
HUGE breakthrough today! Historic Peace Agreement between our two GREAT friends, Israel and the United Arab Emirates!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) August 13, 2020
Voos Diretos…
Delegações de Israel e dos Emirados Árabes Unidos se reunirão nas próximas semanas para assinar acordos bilaterais relativos a investimentos, turismo, voos diretos, segurança, telecomunicações, tecnologia, energia, saúde, cultura, meio ambiente, estabelecimento de embaixadas recíprocas e outras áreas de benefício mútuo.
Caso a iniciativa de criar voos regulares diretos seja bem sucedida, será a primeira vez na história que isso acontece.
…Mas não tão diretos assim
No entanto, ainda existe uma complicação para dar viabilidade aos referidos serviços aéreos diretos, a qual reside na resistência de outros países da região, que não permitem o sobrevoo de aviões com destino a Israel.
Isso pôde ser observado ao longo dos últimos meses, quando aeronaves da emiradense Etihad Airways, sediada em Abu Dhabi, voaram para Israel, levando mantimentos para as comunidades palestinas. O caminho mais rápido seria por sobre a Arábia Saudita, no entanto, ela não permite o sobrevoo de aeronaves com destino a Israel e obrigou os voos da Etihad a darem uma volta maior, passando em cima do Iraque, pelo sul da Turquia e aproando rumo ao Chipre para depois descer pelo Mediterrâneo e, enfim, chegar a Israel, como mostra essa imagem abaixo, capturada do FlightAware durante um dos voos da Etihad.
Com isso, um trajeto de 2.100 quilômetros em linha reta torna-se um voo de 3.200 quilômetros, por conta da volta extra.
Ainda assim, pode ser uma ótima oportunidade para as empresas Etihad e Emirates, que terão acesso a um mercado novo e podem levar a ele preços competitivos, sobretudo aos israelenses que desejam viajar à Ásia, uma vez que a rede das duas empresas árabes é muito mais completa do que a da El Al.
Por sua vez, pode ser um revés para a empresa de bandeira israelense, que já não estava em boas condições econômicas e a COVID-19 lhe afetou grandemente, colocando-a na berlinda, tendo que recorrer a caros empréstimos para manter-se viva.
A favor e contra
Enquanto as potências do Ocidente e a ONU se colocaram a favor do acordo, alguns países árabes foram fortemente contrários. Jordânia, Bahrein e Egito se colocaram a favor do acordo, enquanto que o Irã é contra. A Arábia Saudita não se pronunciou.
“A liderança palestina rejeita e denuncia o anúncio trilateral dos Emirados Árabes Unidos, israelense e norte-americano”, disse Nabil Abu Rudeineh, conselheiro sênior do Abbas.
Hanan Ashrawi, membra do comitê executivo da Organização para a Libertação da Palestina que atuou em várias posições de liderança na Palestina, disse que o anúncio dos Emirados Árabes Unidos foi o equivalente a ser “vendido” por “amigos”.
May you never experience the agony of having your country stolen; may you never feel the pain of living in captivity under occupation; may you never witness the demolition of your home or murder of your loved ones. May you never be sold out by your “friends.” https://t.co/CBaNl1QQqx
— Hanan Ashrawi (@DrHananAshrawi) August 13, 2020
O Hamas rejeitou o acordo. “Este acordo não serve de forma alguma à causa palestina, ao invés disso, serve à narrativa sionista. Este acordo encoraja a ocupação [por Israel] a continuar sua negação dos direitos de nosso povo palestino, e até mesmo a continuar seus crimes contra nosso povo”. O porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, disse em um comunicado.
O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi , um aliado próximo dos Emirados Árabes Unidos, saudou o acordo. “Acompanhei com interesse e apreciação a declaração conjunta entre os Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Israel para deter a anexação de terras palestinas por Israel e tomar medidas para trazer a paz ao Oriente Médio”, disse el-Sisi no Twitter.
<center><blockquote class=”twitter-tweet”><p lang=”ar” dir=”rtl”>تابعت بإهتمام و تقدير بالغ البيان المشترك الثلاثي بين الولايات المتحدة الامريكية و دولة الامارات العربية الشقيقة وإسرائيل حول الاتفاق علي ايقاف ضم إسرائيل للاراضي الفلسطينية ..١/٢</p>— Abdelfattah Elsisi (@AlsisiOfficial) <a href=”https://twitter.com/AlsisiOfficial/status/1293935489569914882?ref_src=twsrc%5Etfw”>August 13, 2020</a></blockquote> <script async src=”https://platform.twitter.com/widgets.js” charset=”utf-8″></script></center>
“Valorizo os esforços dos responsáveis pelo negócio para alcançar prosperidade e estabilidade para nossa região.”
A agência de notícias iraniana Tasnim, que é afiliada ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), disse que o acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos para normalizar os laços é “vergonhoso”.
Aguardemos agora as cenas do próximo capítulo, torcendo para que esse voo direto realmente ocorra.