Árabes Etihad e Emirates podem ter voos diretos a Israel pela primeira vez

A quinta-feira, 13 de agosto, ficará marcada como um dia para a história, quando Israel e Emirados Árabes Unidos chegaram a um acordo para normalizar suas relações e abrir um caminho para acordos bilaterais em várias áreas, que incluem inclusive serviços aéreos diretos entre os dois países.

A ação, no entanto, foi duramente repudiada por vários outros países da região, que não reconhecem a legitimidade do Estado de Israel e chamam os emiradenses de “traidores”.

O chamado ” Acordo de Abraham”, anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, garante o compromisso israelense de interromper a anexação de terras palestinas na Cisjordânia ocupada, ao menos por algum tempo. A íntegra do acordo foi divulgada no site da Embaixada dos Estados Unidos em Israel.

Voos Diretos…

Delegações de Israel e dos Emirados Árabes Unidos se reunirão nas próximas semanas para assinar acordos bilaterais relativos a investimentos, turismo, voos diretos, segurança, telecomunicações, tecnologia, energia, saúde, cultura, meio ambiente, estabelecimento de embaixadas recíprocas e outras áreas de benefício mútuo.

Caso a iniciativa de criar voos regulares diretos seja bem sucedida, será a primeira vez na história que isso acontece.

…Mas não tão diretos assim

No entanto, ainda existe uma complicação para dar viabilidade aos referidos serviços aéreos diretos, a qual reside na resistência de outros países da região, que não permitem o sobrevoo de aviões com destino a Israel.

Isso pôde ser observado ao longo dos últimos meses, quando aeronaves da emiradense Etihad Airways, sediada em Abu Dhabi, voaram para Israel, levando mantimentos para as comunidades palestinas. O caminho mais rápido seria por sobre a Arábia Saudita, no entanto, ela não permite o sobrevoo de aeronaves com destino a Israel e obrigou os voos da Etihad a darem uma volta maior, passando em cima do Iraque, pelo sul da Turquia e aproando rumo ao Chipre para depois descer pelo Mediterrâneo e, enfim, chegar a Israel, como mostra essa imagem abaixo, capturada do FlightAware durante um dos voos da Etihad.

Com isso, um trajeto de 2.100 quilômetros em linha reta torna-se um voo de 3.200 quilômetros, por conta da volta extra.

Ainda assim, pode ser uma ótima oportunidade para as empresas Etihad e Emirates, que terão acesso a um mercado novo e podem levar a ele preços competitivos, sobretudo aos israelenses que desejam viajar à Ásia, uma vez que a rede das duas empresas árabes é muito mais completa do que a da El Al.

Por sua vez, pode ser um revés para a empresa de bandeira israelense, que já não estava em boas condições econômicas e a COVID-19 lhe afetou grandemente, colocando-a na berlinda, tendo que recorrer a caros empréstimos para manter-se viva.

A favor e contra

Enquanto as potências do Ocidente e a ONU se colocaram a favor do acordo, alguns países árabes foram fortemente contrários. Jordânia, Bahrein e Egito se colocaram a favor do acordo, enquanto que o Irã é contra. A Arábia Saudita não se pronunciou.

“A liderança palestina rejeita e denuncia o anúncio trilateral dos Emirados Árabes Unidos, israelense e norte-americano”, disse Nabil Abu Rudeineh, conselheiro sênior do Abbas.

Hanan Ashrawi, membra do comitê executivo da Organização para a Libertação da Palestina que atuou em várias posições de liderança na Palestina, disse que o anúncio dos Emirados Árabes Unidos foi o equivalente a ser “vendido” por “amigos”.

O Hamas rejeitou o acordo. “Este acordo não serve de forma alguma à causa palestina, ao invés disso, serve à narrativa sionista. Este acordo encoraja a ocupação [por Israel] a continuar sua negação dos direitos de nosso povo palestino, e até mesmo a continuar seus crimes contra nosso povo”.  O porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, disse em um comunicado.

O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi , um aliado próximo dos Emirados Árabes Unidos, saudou o acordo. “Acompanhei com interesse e apreciação a declaração conjunta entre os Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Israel para deter a anexação de terras palestinas por Israel e tomar medidas para trazer a paz ao Oriente Médio”, disse el-Sisi no Twitter.

<center><blockquote class=”twitter-tweet”><p lang=”ar” dir=”rtl”>تابعت بإهتمام و تقدير بالغ البيان المشترك الثلاثي بين الولايات المتحدة الامريكية و دولة الامارات العربية الشقيقة وإسرائيل حول الاتفاق علي ايقاف ضم إسرائيل للاراضي الفلسطينية ..١/٢</p>&mdash; Abdelfattah Elsisi (@AlsisiOfficial) <a href=”https://twitter.com/AlsisiOfficial/status/1293935489569914882?ref_src=twsrc%5Etfw”>August 13, 2020</a></blockquote> <script async src=”https://platform.twitter.com/widgets.js” charset=”utf-8″></script></center>

“Valorizo ​​os esforços dos responsáveis ​​pelo negócio para alcançar prosperidade e estabilidade para nossa região.”

A agência de notícias iraniana Tasnim, que é afiliada ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), disse que o acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos para normalizar os laços é “vergonhoso”.

Aguardemos agora as cenas do próximo capítulo, torcendo para que esse voo direto realmente ocorra.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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