Astronauta Marcos Pontes comenta o sumiço do voo 370

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Foto: Aero Icarus (via Wikipedia)

O astronauta brasileiro Marcos Pontes comentou em sua fan page do Facebook sobre o sumiço do voo 370 da Malaysia Airlines. Confira sua opinião muito lúcida:

Tendo participado de várias investigações de acidentes aéreos, incluindo sobre a perda do ônibus espacial Columbia, geralmente evito especular sobre esses eventos sem ter fatos e informações concretas em minhas mãos.

Contudo, tendo sido perguntado várias vezes sobre o desaparecimento do Boeing 777 da Malaysia Airlines Flight 370, resolvi tecer alguns comentários sobre possíveis fatores contribuintes do ocorrido.

Inicialmente, temos que considerar alguns pontos básicos:
1. Aparentemente, a área em que a aeronave sobrevoava não tinha uma cobertura precisa de radares primários e secundários (usando transponders). Caso houvesse essa cobertura precisa, teríamos o registro exato da trajetória da aeronave.
2. A aeronave é um modelo relativamente novo, com pouco histórico de problemas sistêmicos
3. A tripulação não reportou anomalias na aeronave e nem acionou códigos próprios para indicar seqüestro.
4. A aeronave operou por um tempo significativo, em trajetória errática (até onde os sistemas de solo puderam indicar), sem contato rádio e sem interceptação de aeronaves militares.
5. Houve sequência estranha de manobras em altitude e proa que não pode ser explicada até agora.
6. Dado a variação de trajetória, a geografia local e a falta de precisão de cobertura, a área de busca tornou-se difícil e extensa.
7. Uma queda com grande ângulo ou uma explosão em altitude provocaria o espalhamento de destroços que, provavelmente, resultaria em número considerável de objetos flutuantes no mar.
8. Uma queda com baixo ângulo, perto do voo controlado, pode reduzir o numero de destroços e causar o afundamento eventual da aeronave praticamente completa.

Baseado nesses pontos, pode-se tecer algumas hipóteses (ressalto que não são tecnicamente significantes por serem emitidas por mim sem ter a posse de dados e informações mais concretas):
1. A despressurizacao rápida de aeronaves em altitude já foi observada no passado e, dependendo do local de falha estrutural, ou falha de sistema de porta, pode causar dano estrutural catastrófico ou confusão e perda de consciência da tripulação (mais raro) se ocorrer na cabine de comando (improvável).
2. A falta de oxigênio causada por perda de pressurização lenta ou falha gradual desse sistema geralmente dispararia alarmes, mas potencialmente poderia causar perda de consciência da tripulação e passageiros por hipóxia, especialmente com muitos dormindo. No passado já houve caso de aeronave voar por horas com a tripulação inconsciente por essa razão. No caso presente, haveria necessidade de falha dupla ou tripla (falha de sistema de pressurização + falha de sistemas de alarme).
3. Na hipótese de voo com a tripulação inconsciente sobre os comandos, a aeronave responderia ao que restasse do sistema de piloto automático, o que explicaria a trajetória errônea sem contato. Porem, seria muito útil algum dado de velocidade também.
4. Supondo a possibilidade dessa hipótese, e a robustez do sistema de controle no piloto automático com todos os sistemas de segurança de proximidade de solo, pushers e anti-stall em operação, talvez (pouca probabilidade) a aeronave pudesse chegar ao contato com a água em atitude de voo controlado, o que reduziria o espalhamento dos destroços e, dado o fato inicial da despressurização, com facilidade de entrada de água no interior da cabine, o que faria o mar rapidamente “engolir” a aeronave, dificultando sua descoberta pelos sistemas de busca.

Note que , novamente, tudo isso é pura especulação. Sem dados e informações concretas, nada disso pode ser levado tecnicamente em consideração. Apenas expresso esses comentários em resposta à curiosidade das pessoas que têm me perguntado sobre o possível acidente.

O que todos nós realmente gostaríamos que fosse realidade é a possibilidade do avião ter sido “seqüestrado” e tenha pousado em algum lugar com todos os passageiros em segurança.

Torcendo por aqui.

Grande abraço,

Marcos Pontes
Astronauta do Brasil
www.marcospontes.com.br

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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