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Avião arremete com outro na pista e mídias afirmam que uma tragédia foi evitada

Para todos com algum conhecimento em história da aviação, o Aeroporto de Tenerife, nas Ilhas Canárias (Espanha), é sempre lembrado por ter sido o cenário do maior acidente aéreo de todos os tempos, quando dois Boeings 747 colidiram na pista enquanto um corria em sua decolagem e o outro, taxiando, cruzou inadvertidamente seu caminho, levando a 583 mortes entre as pessoas a bordo dos dois Jumbos.

Diante dessa memória trágica, infelizmente diversos veículos de mídia promovem o pânico a cada incidente que ocorre no referido aeroporto, mesmo em situações completamente distintas daquela de 27 de março de 1977, como neste caso de poucos dias atrás.

No último sábado, dia 23 de outubro, um avião aproximava-se do pouso em Tenerife enquanto outro iniciava sua corrida de decolagem. Segundo informações do The Aviation Herald, em voo estava o Boeing 737-800 de matrícula EC-MJU da Air Europa e na pista estava o Airbus A321 EC-JLI da Iberia.

Boeing 737-800 da Air Europa – Imagem ilustrativa: Alf van Beem / Domínio público, via Wikimedia Commons
Airbus A321 da Iberia – Imagem ilustrativa: Anna Zvereva / CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

Os pilotos do A321 foram autorizados pelo controlador de tráfego aéreo a ingressarem na cabeceira 30 e iniciarem de imediato sua corrida de decolagem, no momento em que o 737 estava a cerca de 2,1 milhas náuticas (3,9 km) de distância e 2.700 pés (820 metros) de altitude.

Posição das duas aeronaves no momento do início da decolagem – Imagem: RadarBox

Apesar do monitoramento do controlador, que julgou que havia separação suficiente entre os dois aviões, os pilotos do Boeing 737 preferiram iniciar uma arremetida, ou seja, um procedimento de desistência da aproximação, voltando a ganhar altura para posteriormente fazer uma nova aproximação. Segundo relatos de passageiros, o piloto os comunicou que a arremetida se devia à presença da outra aeronave na pista.

Diante do anúncio de arremetida do 737 na frequência de comunicação, os pilotos do A321 consideraram que poderia haver uma situação de aproximação com a outra aeronave se continuassem com sua decolagem tendo o 737 em voo nas proximidades, portanto, optaram por abortar sua corrida quando estavam a cerca de 86 nós (159 km/h).

O jato desacelerou com segurança e retornou ao pátio do aeroporto, enquanto o Boeing 737-800 reiniciou o procedimento de aproximação e pousou cerca de 18 minutos depois da arremetida.

O Boeing 737 fazendo a volta após a arremetida – Imagem: RadarBox

Após verificações de segurança no trem de pouso do A321 devido à frenagem intensa, a aeronave permaneceu por cerca de 55 minutos em solo entre a desistência da decolagem e a nova partida, prosseguindo normalmente até seu destino.

As condições meteorológicas naquele momento eram de visibilidade horizontal maior do que 10 quilômetros, poucas nuvens a 1.200 pés (365 metros), alguma nebulosidade a 2.000 pés (609 metros) e o teto (nuvens mais cerradas) estava em 2.400 pés (730 metros), portanto, situações muito diferentes daquela de 1977, quando havia intensa neblina que impedia uma boa visualização da movimentação tanto por parte dos pilotos quanto dos controladores de tráfego aéreo.

Portanto, ao contrário do que se tem visto nos últimos dias em matérias de mídias de diversos países, que afirmam que uma nova tragédia foi evitada em Tenerife, o que se nota é que os pilotos tomaram todas as medidas que julgaram necessárias para nem mesmo se chegar à condição de aproximação dos aviões.

Situações como essa ocorrem diariamente em aeroportos do mundo todo, e o treinamento e experiência de todos os envolvidos garante que medidas de prevenção, como a arremetida e a desistência da decolagem, sejam tomadas muito antes de se chegar ao risco iminente de uma “nova tragédia”.

Caso queira relembrar os detalhes sobre aquele acidente de 1977 e sobre como muita coisa mudou desde então na segurança da aviação, acompanhe a seguir o vídeo da piloto brasileira Tati Mônico publicado no ano passado sobre o assunto:

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