Avião Boeing 787 passa por ritual de exorcismo após ser atingido por raio durante o pouso

Um avião Boeing 787-8 da companhia aérea Ethiopian Airlines passou por um ritual diferente após pousar na cidade de Lomé, no Togo, em 20 de junho. Tudo porque, enquanto realizava a rota ligando Nova Iorque a Adis Ababa, com escala em Lomé, o jato acabou atingido por um raio pouco antes de aterrissar.

O diário argelino El Watan faz um comentário curioso sobre a situação, dizendo que: “Na semana passada, no Togo, uma camada extra de segurança foi adicionada depois que o avião pousou em segurança: um ritual de exorcismo na pista. Ligeiramente danificado e incapaz de decolar novamente, um grupo de sacerdotes vodu foi chamado para exorcizar o avião“.

O evento religioso foi gravado e o vídeo compartilhado no Youtube.

A cerimônia consistiu em salpicar o avião com água e servir bebidas alcoólicas como uma oferenda para apaziguar a raiva de Hiébiésso, a “divindade do trovão”. Togbé Assiobo Nyagblondjor, Presidente da tradicional confederação de sacerdotes do país, disse que “quando cai um raio, é nosso dever, para a segurança das pessoas, identificar e purificar a área atingida por este fenômeno natural”.

O presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, coronel Latta Gnama, endossou o ritual, dizendo que “tudo foi feito para ajudá-los em sua tarefa”, se referindo ao time da manutenção da empresa aérea. Ele concluiu dizendo que os reparos foram concluídos e o jato liberado novamente.

Originária de Benin e Togo, a religião vodu conta com 50 milhões de seguidores em todo o mundo, incluindo muitos no Caribe.

O que acontece quando um avião é atingido por um raio?

Aeronaves acabam funcionando como um para-raios: o relâmpago frequentemente atinge as extremidades, como a ponta da asa, o nariz ou a cauda. Então viaja pela fuselagem, para enfim deixar a aeronave por outro ponto, em direção ao solo.

Durante uma tempestade, partículas negativas e positivas participam de uma espécie de dança de guerra na atmosfera. Por isso, quando uma aeronave voa no meio delas, acabam agindo como um para-raios devido à eletricidade estática que acumula pelo atrito com o ar.

O que os passageiros percebem no interior da aeronave? E o piloto?

Os passageiros não percebem muita coisa no interior da cabine. É possível ouvir um estrondo, às vezes bem alto, ou até ver o raio caso estejam espiando pelas janelas no exato momento. Mas raramente consegue-se perceber que o mesmo atingiu a aeronave.

Já os pilotos geralmente conseguem identificar que houve o contato com a aeronave. Em seguida, tomam algumas providências para garantir a segurança de todos e a integridade da aeronave. Notificam imediatamente as torres de controle, para que as tripulações de voos próximos também sejam informadas da ocorrência de raios, e também a equipe de solo, para que a aeronave seja examinada quando estiver em terra.

A Gaiola de Faraday

Este experimento que muitos aprendem na aula de física no ensino médio é o que explica o motivo pelo qual o interior de um avião é totalmente seguro quando atingido por um raio. As aeronaves contam com uma fuselagem de metal, criando um campo elétrico estático. Assim, conduzem a eletricidade somente pela estrutura mais externa, da mesma maneira que uma Gaiola de Faraday.

É por isso que a aeronave vira uma parte do caminho do raio para o chão. Aeronaves de projetos mais antigos, como os Boeing 747 e 777, são feitas de alumínio, e naturalmente apresentam o efeito.

Já os modelos mais novos, como os Boeing 787 Dreamliner, E-Jets da Embraer e Airbus 350, são feitos de materiais compostos mais leves, como o plástico, portanto não metálicos. Mas possuem uma camada feita de malha de cobre ultrafina ou tinta de alumínio especial projetada para conduzir a eletricidade e garantir o efeito da Gaiola de Faraday.

É tudo muito rápido

Ainda que os raios sejam quase que imperceptíveis para os passageiros, em geral, eles significam muito trabalho para o pessoal de terra. O protocolo exige que a aeronave passe por uma inspeção visual pelo departamento de manutenção antes do próximo voo.

Um raio, com sua alta temperatura, pode por exemplo fazer com que a tinta escorra e deixe marcas no bordo de fuga das asas e extremidades da cauda. O técnico de manutenção inspeciona tudo e procura sinais dos pontos na fuselagem onde o raio a atingiu e onde o raio deixou a aeronave, que podem ser tão pequenos quanto a ponta de um lápis.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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