Banda 5G pode afetar altímetro de aviões comerciais

O plano de redistribuição das redes sem fio 5G está gerando preocupação entre os especialistas em segurança da aviação nos Estados Unidos. Há receio de que a forma como modelo está proposto poderia resultar em interferência nas operação de aeronaves, com potencial risco de acidentes. O alerta, feito por representantes de órgãos independentes ligados à aviação, foi publicado pela agência de notícias Bloomberg, especializada em economia.

Nos Estados Unidos, a Comissão Federal de Comunicações (FCC, em inglês), órgão semelhante a brasileira ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) está promovendo uma série de leilões das novas frequências 5G. O problema é que a tecnologia está sendo vendida em uma frequência conhecida como Banda C.

A Banda C é uma faixa de frequência usada por satélites para viabilizar serviços comerciais de telecomunicações, como TVs por assinatura. Com a multiplicação desse tipo de serviço, a Banda C está cada vez mais “congestionada”, o que, com a certeira popularização do 5G, poderá levar a interferências e falhas de transmissão. Mas o que isso tem a ver com a aviação?

Altímetros

Segundo especialistas ouvidos pela Bloomberg, a alta demanda levará a instalação de novas antenas e transmissores terrestres em grande quantidade para manter TVs e internet funcionando. Isso inclui áreas próximas aeroportos, já que esses locais ocupam amplos espaços urbanos e a manutenção de uma internet ativa e potente nos arredores e dentro dos terminais exigirá muitas antenas distribuindo os sinais recebidos por satélite.

O cenário poderia afetar a sinalização eletrônica às aeronaves em aproximação para pouso, já que as ondas de rádio têm frequência próxima às usadas por radar altimeters, dispositivos que calculam a altura de uma aeronave acima do solo.

Terry McVenes, presidente da RTCA Inc., uma organização sem fins lucrativos com sede em Washington que estuda questões técnicas envolvendo aviação, diz que o problema é sério se não for combatido.

“Vejo um problema de segurança muito significativo aqui, a menos que encontremos uma maneira de mitigá-lo”, disse McVenes à Bloomberg. A RTCA produziu um estudo de 217 páginas que expõe os perigos potenciais, incluindo o risco de aviões caírem perto de aeroportos como o O’Hare International de Chicago.

Posição do Governo

A FCC diz que existe espaço suficiente entre o espectro usado pelo 5G e os altímetros a bordo da aeronave para que eles coexistam com segurança. “Continuamos sem motivos para acreditar que as operações 5G na banda C causarão interferência prejudicial”, disse o porta-voz da FCC, Will Wiquist.

O posicionamento do órgão oficial do governo norte-americano não convence McVenes, que também ex-chefe de segurança da Associação de Pilotos de Companhias Aéreas Comerciais.  “É preciso muito mais para me animar. Se deixarmos do jeito que está, nossos estudos mostram problemas muito sérios”.

O ex-piloto não informou para a Bloomberg quais medidas devem ser tomadas para mitigar o problema, mas disse que uma solução pode surgir a partir de mais negociações com a indústria de comunicações. Ele declarou que levaria anos para projetar e substituir altímetros.

A FCC, em parceria com a CTIA, uma organização que representa empresas de telecomunicação sem fio nos Estados Unidos, questiona a qualidade dos estudos da RTCA, ao qual classificam como  “gravemente deficiente” e que chegou a conclusões “sem suporte”. Em um comunicado à imprensa, a CTIA disse que a FCC concluiu que não há problemas com equipamentos aeronáuticos “bem projetados”. “Nada no relatório da RTCA muda essa determinação”, disse a organização, com apoio do governo.

Companhias aéreas

A Airlines for America (A4A), associação que representa diversas companhias aéreas norte-americanas, apoia as preocupações da RTCA embora ainda de forma cautelosa.

“Nós encorajamos a FCC a reavaliar e entender melhor os riscos de interferência associados à sua proposta e garantir que os sistemas de aviação críticos para a segurança continuem sendo protegidos”, disse o grupo comercial em comunicado à imprensa.

A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, em inglês) afirma estar preocupada com a potencial interferência nos altímetros dos aviões. “Estamos trabalhando em estreita colaboração com nossos parceiros interagências na Administração Nacional de Telecomunicações e Informações e na Comissão Federal de Comunicações sobre esta importante questão”, disse em nota.

Enquanto isso, o leilão das novas faixas de frequência está em andamento, sem consenso. Com a mudança de governo nos Estados Unidos, a partir de janeiro, e a quase certa mudança na administração da FCC, certamente novos posicionamentos serão dados sobre esse tema.

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

Veja outras histórias

Pilotos pedem “atalho” em rota após abortarem a decolagem devido a...

0
O voo AF-687 da Air France, de Atlanta para Paris, solicitou o retorno ao portão na terça-feira, 19 de março, devido a uma indicação de porta aberta.