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Belavia pode ter devolvido, de uma vez, todos os aviões Embraer E2

A empresa aérea de bandeira da Bielorússia (ou Belarus) parece ter sentido o efeito da pressão dos países europeus contra o ditador que comanda o país. Todos os seus jatos Embraer E2, com pouquíssimo uso, foram vistos em misteriosos voos de traslado.

Divulgação – Belavia Airlines

A Belavia Airlines foi uma das últimas empresas a receber os jatos E195-E2 da brasileira Embraer, como temos reportado em primeira mão, desde o final do ano passado. Até então, foram entregues três jatos, sendo um deles com pintura especial, comemorando o aniversário de 25 anos da empresa, que é pouco conhecida no Brasil e se limitou a encomendar apenas um número baixo de E2, apesar de sua frota ter outros 12 jatos da Embraer, mas de geração anterior – E1.

A incorporação dos jatos aconteceu através da AerCap, empresa de leasing (lessor) baseada na Irlanda, que os alugou para a Belavia. Porém, os últimos acontecimentos na Belarus fizeram com que a relação comercial ficasse ameaçada e agora aparenta ter sido parcialmente rompida.

Gênese

Tudo começou em maio desse ano, quando um jato da Ryanair foi desviado para Belarus e escoltado por caças após uma falsa ameaça de bomba, num aparato montado para prender um jornalista opositor do governo de Aleksandr Lukashenko, conhecido como último ditador da Europa.

Esta atitude de forçar o desvio foi muito malvista no mundo, principalmente na União Europeia (UE) e seus aliados, que começaram a colocar sanções na Bielorússia, inicialmente impedindo voos de e para o país de Lukashenko.

A situação só piorou com o passar do tempo, já que novamente a aviação foi utilizada por Lukashenko como instrumento de seu governo, com voos vindo da Turquia e outros destinos, inclusive operados pelos E195-E2 da Belavia, trazendo imigrantes para deixá-los, propositalmente, na fronteira com a UE, aumentando a crise migratória no bloco europeu.

A Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia protestaram sobre a medida, que afeta diretamente suas fronteiras, e começaram a pressionar a Irlanda para que os donos dos aviões fizessem algo contra a Belavia.

Consequências e destino curioso

A medida parece ter surtido efeito, já que todos os três E2 da Belavia foram vistos ontem (26) voando juntos da capital Minsk para Nur-Sultã, capital do Cazaquistão.

Além de estarem voando praticamente juntos, chamou a atenção o número dos voos, que são diferente dos voos regulares ou fretados realizados entre a Bielorússia e o Cazaquistão.

Os voos de ontem tiveram os números B2-2023, 2025 e 2027. A última vez que estes números de voo foram utilizados foi em 21 de dezembro de 2020, no mesmo dia, mesma rota e ao mesmo tempo, igual os voos realizados hoje.

Imagem: FlightRadar24

Segundo dados dos parceiros do RadarBox24, os voos realizados, aqueles voos foram feitos pelo Boeing 737-300 de matrícula EW-336PA e os 737-500 de matrículas EW-251PA e EW-252PA.

À época, foram voos de devolução e os jatos estavam sendo retirados de operação, tendo voado de Minsk até Reiquiavique, na Islândia, parando em Bangor, no estado americano do Maine, até chegarem, finalmente, em Marana, cidade desértica do Arizona, onde estão estocados e constam como devolvidos ao lessor na agência de aviação civil dos EUA, a FAA.

A coincidência entre uma devolução tripla no ano passado e a de agora é muito grande, e o destino também reforça uma parte disso, já que o Cazaquistão também é um ex-membro da União Soviética e tem boas relações com Belarus, porém é mais democrático e aberto ao ocidente. No entanto, principalmente, o país é a casa da Air Astana.

Primeiro E190-E2 da Air Astana – Divulgação/Embraer

A Air Astana, assim como a Belavia, encomendou jatos Embraer E2 para substituir a sua frota de aviões brasileiros E1. Apesar da empresa cazaque dizer que está insatisfeita com a Embraer e até processando-a, os E190-E2 dela continuam a voar normalmente. Inclusive, os jatos dela também são alugados pela AerCap, segundo o site PlaneSpotters.

Apesar de existir a possibilidade dos aviões retornarem para Belarus, uma nova sanção pode, de vez, terminar com o acordo da AerCap com a Belavia, já que a União Europeia estaria preparando uma sanção inédita, que impede os cidadãos de seus países de voarem na empresa aérea bielorussa, segundo reporta o site focado em informações de imigração Schengen Visa Info.

Enviar os jatos para a capital cazaque parece ter sido uma estratégia dos irlandeses de deixarem os aviões Embraer em um território aliado ao de seu cliente porém mais neutro e sob os cuidados de uma outra operadora confiável, até que tudo se resolva.

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