Boeing 737 pousou 22 metros fora do centro da pista, aponta relatório do incidente

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O Boeing 737 envolvido no incidente – Imagem: CIAA Peru

A CIAA (Comision de Investigacion de Accidentes de Aviacion) do Peru divulgou na semana passada seu relatório final a respeito da investigação de um grave incidente ocorrido em 10 de fevereiro de 2016, quando um Boeing 737 deslocou-se temporariamente pela grama ao lado da pista durante o pouso.

Na ocasião, o Boeing 737-300 registrado sob a matrícula OB-2037-P, operado pela companhia aérea peruana Peruvian Airlines, realizava o voo de número P9-122 de Lima para Iquitos, com 121 passageiros e 7 tripulantes.

O piloto realizou uma aproximação por instrumentos (ILS) para a pista 06 de Iquitos em meio ao mau tempo, mas, durante o flare (arredondamento para o pouso) a aeronave derivou para a esquerda, tocou o solo afastada da linha central da pista e continuou desviando-se à esquerda até sair da pista cerca de 500 metros após a cabeceira da pista.

Imagem: CIAA Peru

Imagem: CIAA Peru

Imagem: CIAA Peru

A aeronave percorreu cerca de 450 metros paralelamente à pista antes de retornar da grama para o pavimento, e então diminuiu a velocidade sem mais incidentes, taxiando até o pátio, onde os passageiros desembarcaram normalmente.

Não houve feridos e a aeronave sofreu pequenos danos ao trem de pouso, freios, motores, antenas, bordo de fuga dos flaps e bordo de ataque dos profundores, além de ficar suja de lama nas entradas do motor e em toda a parte inferior da fuselagem.

Palhetas dos fans do motores – Imagem: CIAA Peru

Rodas – Imagem: CIAA Peru

Bordo de ataque do profundor – Imagem: CIAA Peru

Parte inferior da fuselagem – Imagem: CIAA Peru

Descobertas da investigação

Segundo o relatório, o comandante tinha 59 anos e 14.029 horas totais de voo, sendo 1.672 horas no tipo de aeronave, e era auxiliado por um primeiro oficial de 32 anos e com 4.301 horas totais, sendo 4.029 horas no tipo.

A aeronave foi despachada para o voo de acordo com os requisitos da Lista de Equipamentos Mínimos, incluindo o reversor de empuxo do motor direito desativado.

A CIAA informou que não teve acesso à gravação de voz do cockpit, devido ao fato de a mesma ter sido substituída por gravações de voos posteriores.

A investigação analisou que a aeronave foi instruída a manter uma aproximação de alta velocidade devido ao mau tempo que se aproximava quando a tripulação contatou a aproximação de Iquitos. O controle de tráfego aéreo (ATC) indicou ventos laterais da direita e visibilidade caindo, e pouco antes do toque na pista o ATC relatou visibilidade de 2 km.

Segundo o relatório, essas condições climáticas não impediram a realização da aproximação ILS Cat 1.

A aeronave foi configurada com trem de pouso baixado, flaps em 30°, piloto automático e autothrottle (controle automático de potência) ativados e spoilers (freios aerodinâmicos) armados.

A razão de descida foi de 770 pés por minuto com breves variações entre 300 pés por minuto e 1000 pés por minuto quando a cerca de 860 pés de altura.

A 400 pés (122 metros) sobre o solo, o piloto automático e o autothrottle foram desconectados, e a aeronave foi estabilizada rastreando o localizador e o glideslope (indicadores de trajetória e de ângulo de descida) dentro do IAS (velocidade indicada) permitida de 141 nós (que estava dentro da faixa de Vref a Vref+20) até o flare.

A aeronave cruzou a cabeceira da pista a 50 pés de altura com as asas niveladas, e o vento começou a empurrar a aeronave para a esquerda, até que ela pousou próximo à lateral esquerda da pista.

O desvio não foi detectado pela tripulação a tempo de iniciar uma arremetida, e a investigação indicou que a linha central da pista não era iluminada, de forma que a falta de iluminação contribuiu para que os pilotos perdessem a referência da linha central.

Não há evidências de que qualquer falha do sistema ou de que o reversor de empuxo desativado tenham contribuído para o incidente.

O piloto usou a técnica de caranguejar a aeronave para mantê-la no prolongamento da linha central da pista antes de cruzar a cabeceira, mas, a 50 pés o piloto começou a alinhar novamente a aeronave mantendo as asas niveladas, sem compensar a deriva do vento. A aeronave tocou o solo 22 metros à esquerda da linha central da pista (havia 22,5 metros disponíveis).

Causas prováveis e fatores contribuintes

A CIAA concluiu que a causa provável ​​do grave incidente foi a perda de consciência situacional pela tripulação durante o pouso, uma vez que a mesma não percebeu que a aeronave ficou desestabilizada durante o flare, derivou para a esquerda devido às condições climáticas de vento forte, chuva e visibilidade reduzida, causando uma excursão da pista.

Os fatores contribuintes foram:

– A presença de um sistema de tempestade sobre a aeronave aumentou significativamente a carga operacional da tripulação. Os efeitos dos ventos laterais, turbulência e fortes chuvas afetaram a estabilidade da aproximação, condição que deveria ter levado a tripulação a decidir por uma arremetida;

– A infraestrutura do aeroporto, porque a pista de pouso principal não possui um sistema de iluminação da linha central da pista.

Informações da CIAA

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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