O que aconteceu com os “selvagens” Boeings 747 da Aerosur?

Apesar de ter voado por pouco tempo, a companhia aérea boliviana Aerosur fez história na América do Sul por ter operado alguns dos Boeing 747 com as decorações mais curiosas de que se tem notícia para um jumbo.

Foto de Eddie Heisterkamp via Wikimedia Commons

Embora tivesse uma frota relativamente pequena, a Aerosur sempre manteve alguns “widebodies”, aeronaves de corpo largo e longo alcance que lhe permitiam realizar ligações, sobretudo, com a Espanha e os Estados Unidos.

Durante seus quatorze anos de vida, entre 1998 e 2012, a empresa teve algumas aeronaves emblemáticas nesse rol de grandes jatos, como é o caso de quatro Boeings 747, embora nem todos tenham efetivamente voado pela Aerosur. São eles:

  • CP-2480 – Boeing 747-100 (cn 23150) – 2006/2006
  • CP-2525 – Boeing 747-300 (cn 23030) – 2008/2009
  • CP-2603 – Boeing 747-400 (cn 32339) – 2009/2012
  • CP-2711 – Boeing 747-400 (cn 25422) – 2012/2012

Um outro Boeing 747-200 chegou a ser arrendado da espanhola Air Plus e operou entre 2006 e 2008, mas esse nunca chegou a receber a pintura da Aerosur.

Como se vê, a empresa aérea procurou manter, entre 2006 e 2012, um Boeing 747 em sua frota. Além de lhe assegurar os planos de voos de longo alcance, o modelo também lhe dava destaque internacionalmente.

Os Boeing 747 “selvagens”

Em 2008, a empresa boliviana adotou uma postura mais agressiva em termos de promoção de marca e, numa das ações, passou a pintar animais da fauna boliviana em suas aeronaves menores, que faziam voos domésticos e regionais. Por sua vez, nos grandes jatos a empresa pintou animais que tivessem alguma identidade com seus destinos internacionais.

Assim aconteceu com dois Boeing 747.

Um deles foi o Boeing 747-300 CP-2525 apelidado de “Torísimo” e recebido com grande festa em 15 de agosto de 2008 (veja o vídeo abaixo). Como o nome já delata, um enorme touro roxo na fuselagem tornava o jumbo uma aeronave “de presença” na Espanha, seu principal destino.

Foto de Ole Simon via Wikimedia Commons

O “Torísimo” foi pintado num Boeing 747 com longa história e 10 operadores diferentes. Fabricado em 1984, foi entregue originalmente à Singapore Airlines, que o operou por onze anos.

Depois disso, foi repassado para a francesa Corsair, onde fazia voos turísticos sazonais para o Caribe e Ásia. Em períodos de menor movimento, a Corsair o alugava para a Garuda Indonesia levar peregrinos a Meca durante o Hajj. Assim aconteceu por três anos, até 1998. Nesse ínterim, a francesa também chegou a alugar o quadrijato para a belga Sabena, por curtos períodos. Então, em 1998, a Corsair incorporou a aeronave definitivamente e não mais a arrendou.

Em Maio de 2005, a aeronave foi repassada à Air Atlanta Icelandic, uma empresa especializada em wet-leasing e arrendamento de aeronaves para outros operadores. Foi o caso dos britânicos Travel City Direct e Excel Airways, que usaram a aeronave em tours especiais; da Air India, que teve a aeronave em sua frota entre 2006 e 2007; e da própria Aerosur, que teve sua posse entre agosto de 2008 e outubro de 2009.

A operação do Boeing 747-300 durou pouco tempo na Aerosur devido a uma série de problemas técnicos que obrigavam a empresa a manter a aeronave parada, trazendo grandes perdas. Em Agosto de 2010, a Air Atlanta repassou a aeronave à Saudi Arabian Airlines, que a voou até 2012, antes de mandá-la ao deserto dos Estados Unidos para armazenamento, onde está até hoje.

Quando o “Torísimo” foi devolvido, outro avião emblemático foi incorporado à frota da empresa boliviana. Dessa vez era um Boeing 747-400 batizado de “Super Torísimo” (matrícula CP-2603). Diferentemente do seu antecessor, essa aeronave era muito nova, com apenas 8 anos, e operada apenas por uma outra empresa aérea.

Apesar de ter sido encomendado originalmente pela Alitalia, esse Boeing 747 acabou indo parar na Virgin Atlantic, após a desistência do pedido por parte da italiana. Chegou em Londres em Maio de 2001 com a matrícula G-VROM e o nome de Barbarella.

Foi repassado à Aerosur em novembro de 2009, quando recebeu a linda pintura do touro amarelado e arisco, com olhos vermelhos e ar indomável. A empresa boliviana optou por manter as naceles dos motores na cor vinho, típica da Virgin, o que conferiu uma elegância extra ao avião. Em meio a problemas financeiros, a empresa boliviana devolveu a aeronave em março de 2012.

Hoje, com a pandemia do novo coronavírus, o Boeing foi retirado definitivamente de operação e encontra-se parado em Manchester, esperando por seu destino.

AeroSur Boeing 747-400

Mais um 747-400 antes da quebra

Em 31 de março de 2012, a companhia aérea suspendeu as operações devido a impostos não pagos, mas retomou alguns voos em seguida. Nesse momento, o “Super Torísimo” já havia sido devolvido para a Virgin Atlantic e a rota para Madrid já não era mais operada.

Com desejo de voltar à Espanha, a empresa chegou a iniciar um acordo para obter um outro Boeing 747-400, ex-Aerolineas Argentinas, mas que não avançou. Por consequência, a aeronave não chegou a voar efetivamente pela empresa da Bolívia, embora tenha recebido seu nome, como mostra a foto abaixo.

Foto de Alan Wilson / CC via Wikimedia Commons

O elo perdido

Entre outubro de 2006 e maio de 2007, a Aerosur teve “virtualmente” um Boeing 747-100. Tratava-se de uma aeronave de 21 anos, na época, que voara antes na Japan Airlines e na Logistic Air, da Índia. No entanto, a aeronave nunca chegou a ser efetivamente incorporada à frota da empresa boliviana.

Fotos dessa aeronave existem, mas são muito raras e apenas com ela no solo, em claro armazenamento. Desde 2009, a aeronave está estacionada em Johor Bahur Senai, na Malásia.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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