Com 20 horas de duração, decola amanhã o voo comercial mais longo da história da aviação

Voo Qantas 787

Durante décadas, os viajantes enfrentaram o jetlag como uma ameaça inevitável das longas viagens aéreas. Agora, enquanto as companhias e fabricantes buscam viabilizar os voos ultra-longos e bater recordes de distância, os esforços para combater os sintomas debilitantes estão se transformando em um setor de bilhões de dólares.

Uma nova visão do impacto físico e emocional das viagens de longo curso deve surgir neste fim de semana, quando a Qantas Airways voará diretamente de Nova Iorque a Sydney. Até hoje, nenhuma companhia já concluiu essa rota sem parar. Com quase 20 horas, ele será o voo mais longo do mundo, saindo dos EUA na sexta-feira e aterrissando na Austrália na manhã de domingo.

Cientistas a bordo do voo

O feito será mais do que um exercício de resistência. Cientistas e pesquisadores médicos na cabine transformarão o moderno Boeing 787-9 em um laboratório em alta altitude. Eles examinarão o cérebro dos pilotos e a concentração, enquanto monitoram a comida, o sono e a atividade das poucas dezenas de passageiros a bordo – serão cerca de 40 pessoas no voo. O objetivo é ver como os humanos aguentam a provação.

A proliferação de voos super longos, como da Singapore, que retomou os serviços diretos para Nova Iorque no ano passado, é parcialmente impulsionada pelo desenvolvimento de aeronaves mais leves e aerodinâmicas que podem voar mais longe.

A base de clientes em potencial é impressionante. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) espera que cerca de 4,6 bilhões de pessoas voem em 2019, um total que saltará para 8,2 bilhões em 2037, e a maioria busca por voos diretos.

A ciência do jetlag

O jet lag geralmente ocorre quando um viajante cruza três fusos horários ou mais de maneira muito rápida, deixando o relógio interno do corpo funcionando dentro do horário de “casa”. A principal queixa depois de pousar é geralmente uma fadiga avassaladora durante o dia ou insônia impiedosa à noite. A incidência pode ser pior na direção leste, porque viajar nessa direção inverte efetivamente o ciclo normal de dia e noite.

Cada um dos bilhões de células do corpo humano tem seu próprio relógio, e os processos vitais, incluindo função cardíaca, absorção de alimentos e metabolismo, são interrompidos quando os órgãos ficam fora de controle. Não é apenas atravessar os fusos horários que incomoda os passageiros. A fadiga geral, o sono de baixa qualidade e o ar seco e pressurizado da cabine exacerbam os sintomas do jet lag.

Voo Qantas 787

A demanda por terapias jetlag está crescendo cerca de 6% a cada ano e o setor valerá US$ 732 milhões em 2023, de acordo com o BIS Healthcare. O mercado mais amplo de distúrbios do sono – dominado por comprimidos – vale US$ 1,5 bilhão e aumentará para US$ 1,7 bilhão até 2023, diz a GlobalData, acrescentando que mais de 80 medicamentos direcionados ao sono estão em desenvolvimento clínico.

Dois voos de testes

O voo de sexta-feira de Nova Iorque e outro de Londres para Sydney ainda este ano, são os principais testes para a Qantas, que se prepara para iniciar serviços comerciais diretos dessas cidades para Sydney em 2022. A companhia aérea chama a empreitada de Project Sunrise. Se for bem-sucedida, a Qantas diz que outras rotas super longas e sem escalas da costa leste da Austrália para a América do Sul e África podem ser viabilizadas.

A Airbus e a Boeing, por sua vez, estão tentando fornecer às transportadoras novas aeronaves de ultra longo alcance que possam chegar ao destino com carga total e combustível de sobra. A Qantas planeja tomar a decisão de avançar com esses voos, ou abandonar a ideia, até o final de 2019.

Voo Qantas 787

Abordar as implicações para a saúde de voos ultra-longos é fundamental para a Qantas. Ele também precisará obter permissão do regulador de aviação civil da Austrália para que a tripulação de cabine fique de plantão por mais de 20 horas. A companhia aérea também precisa de um novo acordo com os pilotos que voarão rotas extra-longas em novas aeronaves.

Gerenciar a exaustão da equipe em viagens longas é um problema para todo o setor. De acordo com o mais recente manual de gerenciamento de fadiga da IATA, algumas tripulações de cabine podem passar quase 21 horas acordadas no dia de um voo de longo curso – mesmo quando o período de serviço é menor que 10 horas.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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