Com nome de sobremesa e gestor “sincerão”, vem aí a Aerolinha Siciliana

Nos últimos tempos, temos visto empresas nascerem na base do financiamento coletivo (“crowdfunding“) e em outras situações exóticas. Em se tratando da região da Sicília, na Itália, isso não poderia ser diferente. Além do nome Aerolinha Siciliana, a nova empresa já tem uma frota definida, bases, rotas, estratégias tarifárias e a proposta social de agradar com uma pitoresca pintura.

Apesar da data do primeiro voo já estar decidida para meados de junho de 2020, ainda faltam algumas coisas, que são as mais importantes: dinheiro e licença para voar, além de funcionários e, é claro, de aviões.

Basicamente, a ideia é que a Aerolinha Siciliana seja uma empresa aérea social de baixo custo e “made in Sicilia”, que venderá a “preços justos os voos entre o continente e a ilha”, disse ao Corriere della Sera, durante uma longa conversa por telefone, Luigi Crispino, criador da Air Sicilia (falida em 2002) e um dos principais acionistas da Wind Jet (falida em 2012). 

Embora o histórico de gestão de empresas aéreas do administrador não seja muito animador, as perspectivas são boas. “Vamos parar com a tentação do ‘assalto à velha'”, enquanto aponta o dedo para as empresas que, segundo ele, levam as pessoas a gastar até 1.748 euros em um voo de ida e volta entre Gênova e Palermo.

Como nascerá a Aerolinha Siciliana

A Aerolinée Siciliane ou Sicilian Airlines é uma transportadora baseada em ações populares, criada pelo governo local, em que qualquer pessoa pode participar como um “membro individual fracionário”, cujas contribuições vão de 400 a 1.900 euros, um “membro individual”, de 2 a 10 mil euros ou uma “empresa”, a partir de 10 mil euros. 

Oficialmente, é uma sociedade anônima estabelecida na Catania e com duração até 31 de dezembro de 2060, a menos que prorrogado ou rescindido antecipadamente. Uma cooperativa chamada de “pequenos investidores” incluirá os membros individuais fracionários nas decisões.

A companhia aérea informou que já enviou às autoridades locais toda a documentação para operar no transporte de passageiros, mas o pedido ainda estava em análise no fechamento desta matéria.

Gestor “sincerão”

Na entrevista ao Corriere della Sera, Luigi Crispino detalhou os planos de operação numa entrevista ao melhor estilo italiano. Confira:

O que a Sicilian Airlines quer se tornar?
“Uma empresa de baixo custo na Sicília, mas também um centro de manutenção de referência no Mediterrâneo”.

Com quais aviões você voará?
“Com os Airbus A320 de 180 lugares, pricipalmente. Mas vamos considerar também o A319 e o A321”.

Alugado ou comprado?
“Arrendados. Dois chegarão em junho e serão baseados em Comiso, dois em Catania entre este ano e o próximo, dois em Palermo até o final de 2021”.

Os acordos já foram assinados?
“Não, obviamente. Precisamos ler contratos que têm até 150 páginas”.

Em uma primeira fase, quantos membros da tripulação terão?
“Cerca de cinquenta pilotos e comissários de bordo, pretendemos ter 600 funcionários no total”.

E para onde você planeja voar?
“Duas vezes por dia na rota Comiso-Roma, uma vez por dia na rota Comiso-Milão”.

E você acha que vai dar certo?
“Com licença, por que você acha que não daria?”

Digamos que as complexidades não sejam poucas e, na Itália, as companhias aéreas nacionais não estão indo muito bem aqui…
“Mas sabemos como fazer esse trabalho”.

Vamos voltar às operações: você voará para Linate?
“Ainda não sabemos”.

O aeroporto da cidade de Milão não tem slot livre …
“E então será Malpensa. Ou talvez até Bergamo-Orio al Serio”.

Por um lado, você vê rotas que permitem oferecer taxas reduzidas para determinadas categorias (estudantes, pacientes, grupos de baixa renda) e, por outro?
“Nosso objetivo é o mercado que eu chamo de “étnico”: voos para Bolonha (quatro por semana), para Stuttgart, Londres, Paris e Tunes (duas vezes por semana)”.

Dr. Crispino, por enquanto, Aerolinee Siciliane não tem uma página para reservar esses voos. Quando será visível?
“Quando a ENAC aprovar o plano que apresentaremos”.

O verão está chegando, logo as pessoas começarão a reservar suas férias…
“Eu diria que os bilhetes podem ser comprados de 25 a 28 de maio”.

Com o primeiro voo quando?
“Eu diria 14 de junho”.

Ou seja, apenas 2-3 semanas após o início das reservas…
“Exatamente, há tempo”.

Como serão as tarifas?
“Honestas”

Significa?
“Não venderemos bilhetes de 500 euros por uma hora de voo”.

Isso também se aplica ao último assento de em um voo que normalmente custa várias centenas de euros devido à oferta e demanda?
“Claro”

Quanto dinheiro a cooperativa tem?
“Por enquanto, o capital social subscrito é de aproximadamente € 800 mil, mas está crescendo dia a dia”.

São poucos esses fundos, não?
“De fato, aprovaremos um aumento de capital de até 10 milhões. Temos cem acionistas que já investiram e 460 outras partes interessadas. O objetivo é ter quatro mil que investem. Esta é uma revolução cultural”.

No início do telefonema, o senhor se referiiu aos seus 70 anos de idade e, no fundo, havia vozes de crianças. No entanto, você ainda quer se envolver…
“Sim, mas para ficar dezoito meses, no máximo, quero voltar a ser avô, o que fiz hoje o dia todo”.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

Veja outras histórias