Confirmado: Boeing Brasil está pensando seriamente em fabricar aviões turboélice

Foto de Robert Frola (CC 3.0) via Wikipedia

O executivo-chefe da Divisão de Jatos Comerciais da Embraer (e futuramente Boeing Brasil), John Slattery, deu uma entrevista bastante interessante ao site Flightglobal, em que confirmou os planos da empresa de reviver os projetos de turboélices. Nas palavras do executivo: “sinto que a próxima aeronave provavelmente será um turboélice menor. Eu provavelmente veria uma família de duas aeronaves, complementando as operações do E2”.

Não é a primeira vez que um executivo da Embraer toca no assunto, como reportamos nessa matéria, e Slattery observou que a Embraer, há vários anos, estuda o business case de um novo turboélice. Ele enfatiza que a fabricante brasileira ainda não decidiu se vai avançar com esse programa e que os aspectos comerciais permanecem em aberto. “Não é algo que estamos prontos para iniciar”, diz. “Estamos progredindo na análise”.

Novos desafios

Nos últimos anos, quem sabe décadas, a Embraer tem estado profundamente focada no programa E-Jet, com jatos para 70 a 140 passageiros, incluindo quatro variantes de primeira geração e três sucessores, o E175-E2, E190-E2 e E195-E2. No entanto, esse programa está quase chegando ao seu fim, já que as variantes E190-E2 e E195-E2 já estão em operação e o primeiro protótipo do E175-E2 já está pronto, com primeiro voo previsto para dezembro, seguido pela entrada em serviço, em 2021.

Quando o desenvolvimento da E2 for concluído, os engenheiros e especialistas técnicos da Embraer estarão livres para se concentrar em outros projetos, cuja natureza ainda não está clara. O caminho para um turboélice parece natural, em vistas a completar a oferta da Boeing, que espera concretizar a compra de 80% da divisão de aeronaves comerciais da Embraer até março de 2020.

Existe demanda para aviões turboélice

Slattery diz que existe demanda em várias regiões do mundo por um novo turboélice. Ele fala de maneira ampla sobre o tamanho potencial de uma nova aeronave ou o número de assentos, dizendo que provavelmente seria mais restrito que o menor membro da família E2. Segundo ele contou ao Flightglobal, ele pode imaginar um turboélice com 70 assentos nas frotas de algumas transportadoras, mas possivelmente apenas 50 assentos nas frotas das companhias aéreas americanas, que tendem a colocar assentos com espaço extra para as pernas.

“[um mesmo modelo] que poderia ser equipado com 70 lugares em um mercado, como o sudeste da Ásia, poderia ser também equipad com apenas 50 lugares no mercado dos EUA”, diz.

Ao estudar esse produto, a equipe da Slattery está analisando a demanda das companhias aéreas e vários outros fatores, como falta de pilotos e congestionamento do tráfego aéreo. “Precisamos levar tudo isso em consideração nos nossos cálculos”, diz ele, descrevendo as deliberações estratégicas da Embraer como “teoria dos jogos”, que pesa a alocação de recursos da empresa em relação à dinâmica competitiva do mercado.

A ATR e a De Havilland Aircraft do Canadá ainda fabricam turboélices, embora essas aeronaves sejam baseadas em projetos de décadas. Por sua vez, os turboélices saíram de moda nos EUA – o maior mercado de viagens aéreas do mundo – onde as companhias aéreas regionais migraram para jatos regionais. No processo, muitas pequenas comunidades americanas perderam o serviço aéreo, o que hoje passou a ser visto novamente como uma oportunidade.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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