Confirmado que o A321neo entrou em estol no grave incidente de voo na Rússia

O Airbus A321neo envolvido no incidente – Imagem: Anna Zvereva / CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

Na semana passada, acompanhamos as informações preliminares sobre a ocorrência com um Airbus A321neo que se envolveu em um incidente bastante grave no dia 2 de dezembro, no qual os pilotos tiveram dificuldade em manter a correta atitude da aeronave ao passarem por área incidência de gelo e turbulência.

Como vimos, a aeronave envolvida foi o Airbus A321neo registrado sob a matrícula VQ-BGU, operado pela companhia aérea russa S7 Sibir Airlines, quando realizando o voo S7-5220 de Magadan para Novosibirsk, ambas na Rússia.

Inicialmente, as informações preliminares do The Aviation Herald indicavam que o avião partiu da pista 10 de Magadan com 192 passageiros e 7 tripulantes, porém, logo depois os pilotos declararam “Mayday” (aviso de emergência na frequência de comunicação) por ocorrência de indicações de velocidade não confiáveis e problemas com o “autopilot” (piloto automático) e o “autothrust” (controle automático de potência).

De acordo com os dados do Gravador de Dados de Voo (FDR) do A321neo, já havia sido levantando que os ângulos de rolagem (posição da asa) variaram entre 49,8 graus e -91,1 graus (o que indica que a aeronave ficou de lado, com as asas na vertical ou invés da horizontal) e os ângulos de inclinação do nariz variaram de 43,8 a -23,9 graus.

Trajetória do voo do incidente, nos minutos logo após a decolagem – Imagem: RadarBox

Agora, nesta quarta-feira, 8 de dezembro, os investigadores da agência russa Rosaviatsia apresentaram mais detalhes em seu primeiro informativo de segurança relacionado ao incidente.

Segundo o relatório, a aeronave havia passado pelo processo de degelo antes da decolagem, que foi realizada sob forte nevasca com temperatura de -9ºC, ponto de orvalho de -12ºC e visibilidade de cerca de 750 metros na horizontal (550 metros na direção sul).

Após a decolagem, todos os três sistemas de airdata (que definem, entre outros parâmetros, a velocidade e a altitude do avião) falharam, resultando em velocidade não confiável (velocidades diferentes em cada sistema. Os controles de voo entraram no modo de operação mínima (segundo o The Aviation Herald, a Rosaviatsia não deixa claro se isso significa o modo de lei direta).

Os pilotos decidiram retornar a Magadan, porém, a aeronave sofreu estol (perda de sustentação, ou “stall” em inglês) durante o retorno, levando a tripulação a optar por desviar para Irkutsk, com melhores condições meteorológicas, onde a aeronave pousou sem maiores incidentes.

Após o pouso, durante a inspeção da aeronave os pilotos encontraram fluidos congelados na seção do nariz da fuselagem, bloqueando os sensores de pressão (os chamados “tubos de pitot”), bem como depósitos de gelo áspero nos bordos de ataque das asas.

Por fim, a Rosaviatsia recomenda: reiterar os procedimentos de degelo e de proteção contra gelo; garantia que as superfícies da aeronave e superfícies de controle estejam limpas; monitorar as equipes de apoio em solo durante o degelo; reiterar os procedimentos de planejamento de voo para levar em consideração os riscos associados com anomalias naturais; levar em consideração as propriedades de proteção dos fluidos de degelo; e levar em consideração as propriedades adicionais dos sistemas de degelo da aeronave e motores.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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