Início Indústria Aeronáutica

Conheça o PZL M-15, o avião que ganhou apelido de ‘demônio’ pela feiura, ruído e operabilidade

Aeronave não voa há 40 anos e hoje há poucos exemplares em exposição, a maioria na Polônia. IMAGEM: Wikimedia/VargasA

O equilíbrio entre estética, conforto e eficiência pautou fabricantes de aviação por gerações. Mas algumas aeronaves passam longe desse tripé e poucas estão tão longe dele quanto o famigerado PZL M-15, o “pior avião da história”.

Projetado na Polônia durante os tempos da ditadura soviética, o M-15 foi fabricado por menos de cinco anos pela estatal WSK-PZL Mielec. Apesar do objetivo agrícola, o esquisito avião era equipado com um inusitado motor a jato, uma obsessão da aviação soviética desde o pós-guerra.

Feio, barulhento, desconfortável, fumacento e notoriamente caro, o M-15 logo foi hostilizado por operadores, a ponto de receber o “apelido oficial” de Belphegor, o demônio mitológico famoso pela feiura, mau cheiro e pelos estranhos sonhos que emite.

O An-2,amado pelos soviéticos, segue em utilização até hoje. IMAGEM: Wikimedia/Gzzz

Grandes objetivos

O M-15 foi uma das primeiras aeronaves desenvolvida exclusivamente para fins agrícolas. A União Soviética, da qual a Polônia fazia parte como um “estado satélite”, foi um dos primeiros países do mundo a usar aviões para pulverizar plantações.  Até então, a aeronave mais usada era o Antonov An-2/ “Annushka”, um biplano turboélice monomotor criado para uso militar em 1946.

A fácil operacionalidade em condições adversas de pistas tornou o An-2 uma opção viável para diversas operações, como transporte de passageiros e cargas, a ponto da demanda por novas aeronaves crescer substancialmente.  No início da década de 1970, a estatal WSK-PZL Mielec (atualmente integrada ao grupo privado americano Sikorsky/Lockheed-Martin) recebeu a encomenda do governo comunista de criar uma aeronave exclusivamente agrícola que substituísse o An-2 nas grandes fazendas do país.

Havia urgência no pedido, a aviação soviética não podia ficar para trás do mundo ocidental. Isso demandou uma exigência peculiar para o novo avião: ele tinha que ser equipado com um motor a jato. Esse tipo de reator era fabricado em larga escala no país comunista e era um orgulho da indústria aeronáutica local. Eram considerados símbolos de modernidade e avanço econômico. 

M-15 Belphegor exibido no Museu da Aviação Polonesa, Cracóvia. IMAGEM: Wikimedia/Varga Attila

A pressa pesou

Em menos de dois anos, em fevereiro de 1972, o primeiro protótipo do pedido foi apresentado, o Lala-1 (Latające Laboratorium 1, o “Laboratório Voador”). A geringonça aproveitava parte da fuselagem do An-2 acoplada a uma estrutura traseira onde alojado o motor a jato Ivchenko-Progress AI-25. O modelo apresentou problemas de navegabilidade e passou por melhorias até o lançamento definitivo do PZL M-15, que fez o voo inaugural em 30 de maio de 1973.

Nos três anos seguintes, o avião passou por diversos testes e melhoramentos para tentar solucionar os muitos problemas: além monstruosamente feio, era de difícil operação, soltava muita fumaça e fazia um barulho assustador. A pressa do governo soviético impediu o avanço das pesquisas e, em 1976, o M-15 foi oficialmente apresentado ao público, na feira internacional de aviação Paris Air Show.

O M-15 foi massacrado. Pilotos disseram que ele era inoperável, lento, de difícil manipulação e de curtíssimo alcance. Especialistas de mercado o acusaram de ser caro e economicamente inviável e a imprensa o apelidou de “demônio barulhento”. Mesmo sob tantas críticas, a União Soviética seguiu com o projeto, que entrou em produção seriada naquele mesmo ano.

Vida curta

O PZL M-15 era um biplano irregular, com asas de tamanhos diferentes. As asas superiores e inferiores estavam conectadas a duas grossas colunas que suspendiam os tanques de produtos químicos usados nas plantações. Eram fabricados de material laminado especial para evitar a corrosão. O motor a jato ficava sobre a cabine da tripulação e o trem de pouso era fixo, instalado logo abaixo.

Obviamente, o avião não foi bem aceito pelos operadores. O motor a jato encarecia e complicava a manutenção, além de aumentar o consumo de combustível. O barulho infernal que produzia incomodava moradores das áreas rurais e até prejudicava a criação de animais. Essas situações eram agravadas porque o M-15 era incrivelmente lento, apesar do que o motor a jato poderia sugerir.

Todos os problemas resultaram em forte resistência do mercado que pedia a manutenção dos populares An-2. Enquanto o governo russo pretendia produzir até 3 mil aeronaves por ano, a fabricação foi definitivamente encerrada em 1981 com apenas 175 aeronaves entregues. A alcunha Belphegor acabou, até mesmo, sendo incorporada oficialmente pela fabricante.

Os An-2 voltaram a serem as principais aeronaves usadas no segmento agrícola, algo que se mantém até hoje. Já o M-15 entrou para a história com marcas infelizes, como o avião mais feio de todos os tempos, o único agrícola a jato, o mais lento, o mais pesado, enfim, um demônio dos ares.

M-15 Belphegor exibido no Museu da Aviação Polonesa, Cracóvia. IMAGEM: Wikimedia/Varga Attila
Sair da versão mobile