Curto-circuito teria causado pane no Boeing 777 da LATAM

O CENIPA divulgou na última sexta-feira (24) detalhes da investigação acerca do Boeing 777 da LATAM Brasil que pousou em pane em Confins em 20 de dezembro passado.

A aeronave Boeing 777-300ER de matrícula PT-MUG pousou na madrugada do dia 20 de dezembro sem nenhum instrumento digital a bordo em funcionamento.

Sem muitas opções após a pane completa, os pilotos prosseguiram para um pouso acima do limite de peso (overweight landing), o que acabou danificando os pneus e alguns dos componentes do trem de pouso. Por isso o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte ficou fechado por 21 horas causando grande transtorno.

Todos os passageiros saíram ilesos assim como os tripulantes. Mas a aeronave ficou mais de um mês em manutenção em Confins antes de decolar novamente.

Um Simples Curto-Circuito?

Cabine de comando do Boeing 777

O CENIPA informou que foram encontradas evidências de curto-circuito no conector D2732, que transportava a energia PMG originária do Gerador Backup direito para o conversor de backup. Este por sua vez respondeu ao curto-circuito abrindo os quatro conectores que alimentavam as duas barras de transferência (dois transfer bus e dois convert circuit breakers).

Meio técnico e elétrico, não? Então vamos tentar simplificar! Se quiser um resumo rápido: basicamente o conversor de backup derrubou todos os barramentos do avião após um curto-circuito ocorrer no conector entre ele e o gerador de backup direito.

Agora vamos para a resposta longa. Para isso é necessário ficar atento ao “mapa” abaixo que é o esquema elétrico do Boeing 777:

O Boeing 777 assim como qualquer jato moderno conta com vários geradores. No caso são quatro para cada motor além de um gerador RAT (aquela ventoinha que é acionada em casos de emergência como esse da LATAM).

Cada lado conta com quatro geradores que são impulsionados pelo motor respectivo:

1x IDG – Gerador de Acionamento Integrado com corrente alternada, é o principal gerador da aeronave;
2x DC GEN – Gerador de corrente contínua que serve apenas o comando de voo da aeronave que é totalmente fly-by-wire e motivo por qual o avião não perdeu os controles de voo já que ele é isolado do sistema elétrico em si;
1x BU GEN – Unidade Gerador-Backup que utiliza energia de dois geradores permanentes magnéticos (PMG) que geram corrente contínua através da excitação de campo magnético com um imã permanente. Este é acionado quando o IDG falha ou fica indisponível.

Como descrito no mapa acima, a energia do BU GEN vai para o BACKUP CONVERTER (vamos chama-ló de BU CV e marcamos em amarelo) que converte a energia de contínua (DC) para alternada (AC) antes da mesma ser transferida para os barramentos que alimentam a aeronave.

E é aí que surgiu o problema: houve um curto-circuito no conector (retângulo vermelho com contorno amarelo) entre o BU GEN e o BU CV. Mas você se pergunta: foi uma falha apenas no sistema de backup, o motor estava funcionando e o sistema principal também, porque tudo apagou?

Por algum motivo ainda não esclarecido pelo CENIPA, o BU CV respondeu (setas pretas) a este curto-circuito desconectando/abrindo os quatro conectores (retângulo azul com um X vermelho) que ligam os barramentos principais (em verde) aos barramentos de transferência (em rosa).

Com isso se perdeu a conexão entre os geradores principais e de backup de ambos os motores com o resto do sistema elétrico da aeronave com exceção do gerador da RAT e das baterias (linha verde escura).

Os TRUs (unidade de retificador) que enviam energia para o barramento de instrumentos do comandante (TRU 1) e do co-piloto (TRU C2) ficaram sem conexão e logo sem energia (área empreto) até a energia da RAT e da bateria entrarem em ação para manter os equipamentos mínimos.

Foto do display da aeronave logo após o curto-circuito e ainda em voo: sem conexão entre os geradores (que estavam funcionando) e os barramentos

Vale lembrar que este é apenas o relatório PRELIMINAR, tem muito ainda a ser investigado e também os dados fornecidos aqui dão apenas uma ideia do que pode ter ocorrido.

O Lito (que me perdoe se escrevi algo errado) deu uma prévia do que falamos acima com o que vazou de informação na época do incidente:

Com referências técnicas do autor e do livro Eletrônica de Aeronaves: Introdução aos Sistemas Aviônicos de Thomas K. Eismin.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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