Decola o primeiro avião comercial do mundo totalmente movido a energia elétrica

Na última semana, um marco importante para a aviação mundial foi atingido em frente a uma multidão reunida em Richmond, no Canadá, quando a empresa aérea Harbour Air realizou a primeira decolagem e aterrissagem de uma aeronave comercial movida exclusivamente por um motor impulsionado por energia elétrica movido a bateria.

A aeronave, um De Havilland DHC-2 Beaver, construído no Canadá, fora equipada com um sistema de energia elétrica projetado e fabricado pela empresa magniX, do estado de Washington (EUA). O teste é parte do plano da Harbour Air de operar voos de passageiros com aeronaves elétricas a partir de 2021.

“Hoje fizemos história”, disse Greg McDougall, CEO e fundador da Harbor Air Seaplanes. “Estou incrivelmente orgulhoso do papel de liderança da Harbor Air na redefinição da segurança e inovação na indústria de aviação e hidroaviões. O Canadá tem desempenhado um papel icônico na história da aviação, e fazer parte desse incrível marco mundial é algo de que todos podemos realmente nos orgulhar.”

Mas alguns fatores ajudaram a Harbour Air a ser a pioneira.

Frota de hélices

Em primeiro lugar, é importante saber que não existem motores elétricos a jato. Os motores elétricos podem girar uma hélice, mas não podem gerar os gases de escape quentes necessários para empurrar um avião a jato. Como resultado, grandes empresas continuam dependendo quase exclusivamente da tecnologia de aeronaves para a qual não há uma alternativa sustentável, ainda. 

E a Harbour Air, assim como outras tantas ao redor do mundo, está numa categoria de empresa aérea comercial de médio porte que se baseia no uso de hidro-aviões movidos por hélices. A companhia aérea voa cerca de 40 pequenas aeronaves como Twin Otters, Beavers e um Cessna Grand Caravan, que é o maior da frota, para nove passageiros. Assim, o teste de voo da última terça-feira, 10, buscou provar que a Harbour Air pode ficar totalmente elétrica sem ter que se desfazer de todas essas aeronaves e comprar novas. 

Tudo o que o magniX fez foi pegar um dos aviões existentes da Harbor Air, um Beaver de 62 anos, e adaptá-lo para o voo elétrico e o mesmo pode ser feito para toda a frota. Assim que a eletrificação completa estiver concluída, a área de manutenção da Harbour Air poderá se concentrar em tempo integral na manutenção de uma frota exclusivamente alimentada por bateria. Como os motores elétricos não são tão complexos quanto os motores de aeronaves tradicionais, essa transição reduzirá os custos de manutenção entre 50% e 80%, de acordo com a companhia aérea.

Altos custos de combustível x eletricidade barata

O fator custo também motivaou a Harbour Air a investir na nova tecnologia.

Enquanto que a costa da Columbia Britânica, região onde está a empresa, é o lar de alguns dos mais altos preços de combustível da América do Norte (um litro de gasolina custa cerca de US$ 1,30 em Vancouver, contra uma média nacional de US$ 1, ao mesmo tempo, a eletricidade da região é uma das mais baratas da América do Norte.   

Em muitos outros mercados, as contas de energia elétrica tendem a ficar muito mais caras, pois as concessionárias são cada vez mais forçadas a abandonar fontes de energia baratas e sujas, como o carvão, em favor de fontes renováveis ​​e limpas, mas caras. Mas a Columbia Britânica tem energia sustentável e de baixo custo suficiente à disposição para que a província esteja na posição invejável de poder expandir massivamente sua grade de energia sem aumentar significativamente seus custos.

Voos curtos

Um terceiro fator é a malha aérea. A Harbour Air opera algumas das rotas mais curtas de qualquer companhia aérea comercial do Hemisfério Ocidental. A maior distância absoluta que a companhia aérea voa é uma rota sazonal de 200 quilômetros entre Vancouver e Tofino. Enquanto isso, o típico voo de porto a porto entre Vancouver e Victoria é um “pequeno salto” de 100 km que leva 30 minutos.

Com rotas curtas fica mais fácil, porque a principal coisa que mantém os aviões elétricos fora do céu são os limites de alcance da energia da bateria. Assim, se no mundo dos veículos elétricos o alcance já é limitado, a desvantagem é ainda maior para os aviões. Um exemplo interessante é dado pela Kitty Hawk, fabricante de aeronaves elétricas apoiada pelo cofundador do Google, Larry Page, que revelou recentemente uma aeronave capaz de voar 160 quilômetros com uma única carga. Agora compare isso com o Tesla Model S, que pode rodar 600 km com uma carga.

Quem é a Harbour Air?

Fundada em 1982 com dois pequenos hidroaviões, a Harbour Air é a maior companhia aérea de hidroaviões da América do Norte – e a primeira a ser totalmente neutra em carbono. O serviço internacional de hidroaviões da empresa, que originalmente começou como um serviço para a indústria florestal, é agora uma experiência por excelência na costa oeste. 

O motor modificado – Foto Harbour Air

Com uma frota de mais de 40 aeronaves, a Harbour Air oferece até 300 voos regulares diários, passeios panorâmicos, pacotes de aventura e voos particulares. Com 12 destinos que conectam o centro de Vancouver, Victoria, Seattle (WA), Nanaimo, Tofino, Whistler, Richmond, Sechelt, Ilha Salt Spring, Pitt Meadows, Maple Bay e Comox, a empresa recebe 500.000 passageiros todos os anos.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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