Delta e Qatar: os inimigos mais óbvios da aviação unidos pela Latam

Unidas mas cada qual seguindo seu rumo

Os inimigos mais óbvios do mundo aeronáutico estarão agora comendo na mesma mesa. Após o anúncio da entrada da Delta na Latam, na qual a Qatar já é acionista, ambas terão que apertar as mãos, no melhor estilo “amigos, amigos, negócios à parte”. Com 10% de participação na Latam, a Qatar Airways tem um assento na mesa do conselho, enquanto que a Delta terá dois, após adquirir 20%.

A Latam Airlines as juntará pela primeira vez na história, mas não significa que a Qatar está fazendo festa para a Delta entrar na parceria. A bem da verdade, as duas empresas se provocam o tempo todo e já brigaram por tudo o que se pode imaginar. Fontes da Latam Airlines, no entanto, relativizaram essas discrepâncias. Eles ressaltam que o representante da Qatar esteve ciente das negociações o tempo todo e que, de fato, não houve ênfase nos conflitos entre as duas empresas. “Eles participam desde o primeiro dia, sabem tudo o que aconteceu”, enfatizou o porta-voz à Bloomberg.

Quatro anos de diferenças

Por quatro anos, a luta entre a Delta Airlines e a Qatar Airways tem sido consistente. A principal companhia aérea do mundo em termos de receita, não perdeu a oportunidade de denunciar o alto apoio estatal que a empresa de Doha recebe, alegando concorrência desleal no setor, enquanto os líderes do Catar chegaram a dizer que seu rival voa com aviões inúteis e tem comissárias “avós “.

Em 2015, a Delta, a United Airlines e a American Airlines tentaram conter a expansão da Emirates, Qatar e Etihad Airlines nos EUA, alegando que elas haviam recebido mais de US$ 500 milhões em apoio do governo. A Qatar Airways negou as acusações. “Acho que o Sr. Anderson (Richard Anderson, CEO da Delta na época) não sabe a diferença entre capital e subsídio. Nunca recebemos subsídios ”, enfatizou o CEO Al Baker na época. “O Estado do Qatar é o proprietário da Qatar Airways e qualquer fundo colocado na companhia aérea é capital, o que é bastante legítimo.” Ele os acusou de serem “ineficientes” e os culpou por seus fracassos.

Avião Boeing 757-200 Delta
Boeing 757-200 da Delta

Por volta de meados de 2016, o CEO do Qatar organizou um evento em Atlanta para lançar seus novos voos entre Doha e aquela cidade. O evento não só foi realizado na cidade-sede da Delta, mas no Fox Theatre, patrocinado pela companhia aérea americana. Quando a Fox decidiu fazer negócios com a Qatar, a Delta imediatamente decidiu rescindir o seu patrocínio, alegando ser um absurdo abrir espaço a uma empresa que prejudica a concorrência. Al Baker, da Qatar, reagiu rapidamente: “é realmente estranho que eles sejam tão paranoicos com o serviço da Qatar Airways. Isso mostra que eles não confiam nas famosas instituições de Atlanta”, ele disparou. 

Mas a Delta seguiu na disputa, observando que, apenas em 2017, a Qatar havia recebido cerca mais de US$ 500 milhões em subsídios, gerando fortes distorções no mercado, dada sua agressiva estratégia de expansão. E ele até divulgou um vídeo corporativo apontando diretamente para as companhias aéreas árabes: “Três companhias aéreas de dois países que têm um território menor que a Carolina do Sul estão tentando controlar o transporte aéreo global usando sua imensa riqueza”, disparou o CEO da Delta Ed Bastian.

Batalhas recentes

Já em 2018, a Qatar Airways concordou com um pedido do Departamento de Estado dos EUA. de publicar seus balanços, o que foi visto como um avanço, mas as diferenças não terminaram. No entanto, o CEO da Delta teria declinado de uma reunião em julho passado com o presidente Trump, devido à presença de representantes do Catar. Mais tarde do mesmo ano, a Qatar anunciou que estava pensando em se retirar da aliança Oneworld por causa dos ataques americanos (a American é parte da OW) e que estavam considerando a possibilidade de criar uma aliança paralela.

Em 21 de dezembro de 2018, o CEO da Delta, Ed Bastian publicou uma coluna no site da Delta sob o título: “benfeitor misterioso da Air Italy”, em que acusou a Qatar Airways de gastar milhões de dólares para subsidiar a Air Italy, uma companhia aérea da qual acabara de adquirir 49%, e que – disse Bastián, era uma das empresas de pior desempenho na história da aviação. Ele argumenta que esses apoios a empresas inviáveis da Qatar, são bancados com o único objetivo de atrapalhar a concorrência.

Embora a união na Latam, é uma briga longe de acabar. Na história abaixo, você entende uma das brigas mais sem sentido da aviação, dessa vez envolvendo a Emirates.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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