Dória, você está demitido da aviação

EDITORIAL

O nosso ano de 2019 começou com diversas mudanças no país e na aviação: ‘renovação’ do congresso, joint-venture da Boeing e da Embraer e abertura total de capital das empresas aéreas. Porém (e infelizmente) algumas pessoas insistem em apontar para a contramão do desenvolvimento. Uma delas é João Dória (PSDB), governador do estado de São Paulo.

© Vagner Campos – CARAS

O Aeroporto Campo de Marte, o mais antigo e tradicional da capital paulista, é lar de diversas aeronaves e foi o ninho de inúmeros aviadores. Assim como qualquer outro aeroporto, ele trouxe desenvolvimento e dinheiro para a região, gerou empregos e impostos.

E apesar de tudo isso, e de maneira praticamente “natural”, alguns moradores e políticos querem retirar o aeroporto que chegou antes deles. É algo corriqueiro não só no Brasil: quem não se lembra do antológico Meigs Field em Chicago e os voos no Flight Simulator?

E parece que Dória quer seguir os passos do prefeito democrata de Chicago,
Richard Daley, que numa ação totalmente irresponsável e sem avisar a FAA, quebrou a pista do aeroporto, deixando mais de 10 aviões no chão e fazendo com que outros alternassem.

Daley não está muito longe do bandido Washington Quaquá (PT), ex-prefeito de Maricá. Não existe um outro termo para se referir a um político que decide por vontade própria fechar a pista do aeroporto com viaturas da guarda enquanto uma aeronave estava em aproximação.

Resultado: o Cessna 152 não conseguiu pousar e sem combustível caiu no mar, vitimando o Comandante Aldemo Louzada de Sousa e o Juiz Federal Carlos Alfredo Flores da Cunha. A responsabilidade de Quaquá foi confirmada pelo MPF, que denunciou o então prefeito , já condenado por improbidade administrativa, não podendo tomar posse esse ano como deputado federal, para alívio da população.

No outro lado (na então dita “oposição”) está João Dória, que aparentemente quer seguir os passos de Daley e Quaquá ao buscar fechar o Aeroporto Campo de Marte. Com justificativas inconsistentes e descabidas, parece não ter terminado sua campanha.

As alegações de Dória tomam como premissa que o aeroporto está no meio da cidade (e não ao contrário, já que a cidade se desenhou ao redor do local). Ironicamente ou não , o prefeito utiliza o Aeroporto com frequência com o seu Bell 429 matrícula PP-JDJ, além de transportar amigos e compadres políticos. Até por isso rumores apontaram que o aeroporto não seria fechado por “completo” mas sim transformado em um heliporto.

Talvez se Marte comportasse o Embraer Legacy 650 PR-JDJ de Dória, o fechamento estaria descartado. Mas seria pedir demais de quem fez plágio da pintura da icônica British Airways. Sua aventura na esfera pública parece estar longe do fim, e agora quer pegar carona na popularidade do início do governo federal para espalhar frases de efeito na TV sobre assuntos dos quais não domina e parece não ser bem assessorado.

Consequências

Atualmente operam no Campo de Marte nove empresas de taxi aéreo e oito escolas de aviação, além de dezenas de hangares de aviação. Adicionalmente, o Grupamento Águia da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que exerce uma função essencial no apoio à população, também fica lá.

Convenhamos que existe um histórico de incidentes e acidentes no aeroporto, mas que poderiam ocorrer em qualquer outro local. Ainda, muitos deles estão relacionados a aviões experimentais, restritos pela ANAC a não operarem em áreas densamente populosas. Mas parece que a agência só cobra a exigência da mesma quando lhe é conveniente.

A mesma ANAC que até agora não se pronunciou sobre o assunto. Detalhe: regulação de aviação é feita exclusivamente pela união, não tendo competência legal para prefeituras ou governos estaduais. O que não se traduz em uma novidade, vide o caso da Prefeitura de Belo Horizonte, que violou isso anos atrás.

Mas o que chama atenção no caso do Aeroporto Campo de Marte é a falta de planejamento e garantias. O aeroporto vai sair, mas não se tem garantia se haverá uma compensação, um novo aeroporto, ou algum local para que as empresas (e empregos) se instalem para tentar continuar a vida.

Rumores apontavam para criação de um museu aeronáutico na área, atitude louvável e que traria o acervo do finado Museu TAM. Porém não se fala no assunto mais, nem de como seria construído e como iria se manter o museu.

Os aeroportos “próximos” de Jundiaí e Sorocaba não têm capacidade para receber todo o tráfego e, muito menos, as instalações do Campo de Marte. Estamos falando do maior aeroporto de aviação geral do país na maior cidade da América do Sul com o maior tráfego da região e o maior do mundo de helicópteros.

Isto afetará a todos, inclusive a quem pretende seguir um dia uma carreira na aviação. Se hoje a hora de voo é considerada cara, sem sombra de dúvida será aumentada nas escolas que terão que sair do Campo de Marte: construir novas instalações, transladar aeronaves e certificar tudo de novo não é fácil e nem barato.

Toda essa confusão para supostamente “trazer” maior segurança para os moradores. Mas não seria pura especulação imobiliária? Quem não quer ter um apartamento em frente à Marginal Tietê (que apesar dos seus odores é a principal via da cidade), ao lado do Anhembi / Sambódromo, colado no metrô e rodoviária, próximo ao maior shopping do país e de quebra de cara para o centro de São Paulo?

Por fim, se um político (ou gestor – de interesses privados – como gosta de ser chamado) decide de maneira deliberada fechar uma área que traz empregos, renda, impostos e desenvolvimento apenas para atender interesses de terceiros e não dos donos/sócios da empresa (leia-se contribuintes), o resultado é apenas um: DEMISSÃO.

Por que não aprimorar a operação ou buscar soluções e alternativas, como a concessão?

Mas estamos no Brasil, não se pode falar “você está demitido” para um político.

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