É assim que a imprensa da Nigéria descreve uma arremetida

Você acessa o portal e dá de cara com uma manchete assim: “URGENTE: Ex-presidente e mais 393 pessoas escapam de desastre da Ethiopian Airlines“. Aí você primeiro lamenta, ‘poxa, de novo a Ethiopian Airlines’. E então, você lê a matéria… que começa assim:

O ex-presidente Olusegun Obasanjo, e outros nigerianos escaparam da morte nesta quarta-feira no aeroporto internacional de Lagos, quando um avião da Ethiopian quase se acidentou’.

Nesse momento, você respira fundo e continua. Você quer saber o que houve. O repórter segue.

Um dos passageiros nos reportou que o voo de Addis Abeba a Lagos, de 5 horas, havia sido tranquilo, até que o piloto tentasse pousar em Lagos. Ao invés de tocar na primeira linha da pista, o piloto ultrapassou-a devido à chuva e ventos, vindo a tocar na terceira linha de toque.

Percebendo isso, o piloto rapidamente manobrou a aeronave, colocando-a em voo novamente, voando para longe do aeroporto de Lagos.

Tudo parece normal até aqui, mas você quer chegar na parte do ‘quase-acidente’. Então, o repórter descreve da atmosfera da cabine:

Após 20 minutos voando sobre Lagos e áreas de Ogun, causando pânico nos passageiros e tripulantes, o avião pousou finalmente.

A atmosfera da cabine no pouso era uma réplica de centros de oração nigerianos, com vários passageiros cantando louvores a Deus e aplaudindo, enquanto outros ajoelharam-se em oração.

Mas não acabou. Ainda era necessário obter a opinião de alguém ‘bem entendido’ no assunto, então o repórter pede para falar com o responsável da Ethiopian na Nigéria, de quem recebe a seguinte explicação:

Se o piloto tivesse continuado na pista após ter tocado na terceira linha, ele teria saído da pista, mas como é um piloto experiente, ele percebeu isso imediatamente. Felizmente, a distância ainda era suficiente para que ele decolasse novamente e renegociasse um pouso.

Depois desse relato, eu acho que nunca mais reclamo de como a imprensa brasileira fala de arremetidas. Ainda eu fui pesquisar se havia alguma investigação em andamento, mas nada, tudo leva a crer que foi um procedimento normal, manejado adequadamente pela tripulação.

Não houve quase-acidente, não houve quase-morte, não houve nada.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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