EASA conclui voos de teste do Boeing 737 MAX; a próxima será a ANAC?

A Agência para a Segurança da Aviação da União Europeia (EASA) informou nesta sexta-feira (11) que concluiu seus voos de teste do Boeing 737 MAX. Os voos ocorreram em Vancouver, Canadá, devido às restrições de viagem do COVID-19.

Como próximo passo na avaliação da aeronave para o retorno ao serviço, a EASA está agora analisando os dados e outras informações coletadas durante os voos em preparação para o Joint Operations Evaluation Board (JOEB). O JOEB está programado para começar na próxima semana em Londres, Gatwick, no Reino Unido.

A EASA tem trabalhado continuamente, em estreita cooperação com a FAA e a Boeing, para retornar a aeronave Boeing 737 MAX ao serviço o mais rápido possível, mas esclarece que isso apenas acontecerá quando os inspetores estiverem convencidos de que é seguro.

E no Brasil

Em 14 de agosto, a ANAC disse em nota que estuda proposta que dispõe sobre a modificação de projeto de sistema de controle de voo das aeronaves modelo Boeing 737 MAX.

No Brasil, a volta das operações deste tipo de modelo ainda passará por validação final da ANAC, que desde abril de 2019 faz parte do grupo de autoridades validadoras.

A suspensão dos voos com Boeings 737 MAX, ocorrida em março de 2019 no Brasil, foi sancionada por uma Diretriz de Aeronavegabilidade unilateral emitida pela ANAC. Na ocasião, algumas empresas aéreas já haviam voluntariamente suspendido suas operações com este modelo de aeronave. O retorno das operações somente é possível com a revogação desta decisão pela Agência. Para isso, a ANAC está contribuindo com a FAA na verificação de que o processo de validação das modificações foi concluído satisfatoriamente.

Para o retorno das operações também é necessário que o processo que comprova a segurança e o cumprimento com os requisitos de Certificação de Tipo para este modelo de aeronave seja concluído, além da avaliação de aspectos operacionais e de treinamento.

Participação da ANAC

Conversamos há algumas semanas com Ricardo Fenelon, advogado especialista em aviação, fundador do escritório Fenelon Advogados e ex-diretor da ANAC. Em sua opinião, “existe muita confiança entre os reguladores (ANAC, FAA e EASA) e, normalmente, as conclusões de um deles durante o processo de certificação de uma aeronave são aceitas pelas demais, com poucos ajustes locais. No entanto, como os voos do MAX foram suspensos devido a dois acidentes, então o processo de retorno aos céus segue uma lógica completamente diferente, com muito mais escrutínio. Por isso, desde o princípio, as agências vêm trabalhando conjuntamente com a Boeing em todo esse processo de re-certificação”.

Desde abril de 2019, quando a Boeing iniciou as atividades para certificação das modificações propostas, a ANAC vem participando de um grupo para análise destes estudos. Ao todo, cerca de vinte profissionais da Agência, dentre engenheiros(as) de diversas especialidades e pilotos, inclusive de ensaio de voo, estão envolvidos neste processo.

Um dos sistemas que tem sido alvo de análises e verificações mais detalhadas é o chamado MCAS (“Maneuvering Characteristics Augmentation System”), que atua na aeronave sob certas condições a fim de melhorar as características de estabilidade longitudinal da aeronave. As verificações sobre o MCAS contemplam principalmente a averiguação das condições para que este sistema atue adequadamente e que a amplitude desta atuação seja limitada, incluindo em condições de falha dos sensores da aeronave.

“Acredito que depois que a FAA liberar oficialmente o MAX, as demais agências tendem liberá-lo também, mas não é possível afirmar quanto tempo esse processo vai demorar, já que cada agência pode optar por seguir um processo diferente do que comumente acontece”, diz Fenelon.

Histórico

Em outubro de 2018 e em março de 2019 ocorreram dois acidentes com aeronaves Boeing 73 MAX. Alguns dias após o segundo acidente, foram encontradas evidências de similaridades entre os dois casos e detectado que essa similaridade poderia estar relacionada ao funcionamento de um subsistema que integra o controle de voo deste tipo de aeronave.

Em função destes eventos, países como Brasil, Estados Unidos, China, União Europeia e Canadá suspenderam as operações desses aviões. A partir das suspensões, a Boeing iniciou os trabalhos do processo de aprovação de modificação do projeto deste tipo de aeronave, que está agora sob consulta e deve ser publicada pela autoridade primária de aviação civil, a FAA.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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