Empresas Aéreas: enquanto umas demitem em massa, outras dão bônus a pilotos

A crise da covid-19 pegou o mundo de assalto, escancarando mazelas de sociedades e revelando como não estávamos preparados para a disseminação de um agente invisível como esse. O medo da doença e os necessários lockdowns causaram um estrago em 99,9% das empresas aéreas globais, mas uma mínima parcela delas se deu muito bem.

Avião Boeing 747-400F KLM Cargo

Com a queda na demanda e a parada geral de frotas inteiras, a capacidade mundial de voos caiu cerca de 70%, segundo a média calculada pela IATA. Menos aviões significa menos assentos disponíveis, mas também menos espaço disponível em porões para levar carga.

Essa falta de espaço para carga levou importadores e exportadores, sejam eles de produtos médicos ou não, a procurar alternativas e a mais natural delas seriam as empresas aéreas cargueiras.

Empresas como FedEx, UPS, DHL, Atlas Air, testemunharam um boom jamais visto no setor de carga aérea, com aviões voando o tempo todo, lotados, batendo recordes de volumes. Na verdade, você se lembra quando, na semana retrasada, o Antonov 225, maior avião do mundo, bateu o recorde histórico de volume de cargas.

Vale até fazer uma observação aqui relacionada ao AN-225. Por seu tamanho e propósito específico, é uma aeronave que historicamente voa pouco durante o ano. Para se ter uma ideia, durante a pandemia, a aeronave fez 17 voos de cargas médicas só em abril. É um patamar que essa aeronave não alcança em um ano ou mais.

Segundo o Air Cargo News, os preços das cargas aéreas aumentaram rapidamente com taxas de mercado spot tão altas quanto US$ 14 a US$16 por kg transportado em voos saindo da China. Então, imagine o quanto de dinheiro as empresas estão ganhando. Tanto é que muitas aéreas especializadas em transporte de passageiros, estão tirando assentos de aviões para vender espaço de frete.

Enquanto umas demitem, outras dão bônus

Na mesma semana em que a United Airlines, uma das maiores empresas aéreas do mundo, anunciou que cortaria 30% de sua força de trabalho, inclusive de pilotos, a Atlas Air informou que está oferecendo um aumento de salário a toda sua tripulação técnica.

Segundo a Atlas, será dado um aumento salarial de dez por cento a todos os seus cerca de 2.200 pilotos, a partir de 1º de maio. O acordo é parte de um processo de fusão da empresa com a Southern Air, mas também é uma sinalização de que as coisas vão bem.

Enquanto as linhas aéreas de passageiros anunciam perdas bilionárias, a Atlas Air apresentou ontem um lucro líquido no primeiro trimestre de 2020 de US$ 23,4 milhões, em comparação com uma perda de US$ 29,7 milhões no primeiro trimestre de 2019. Espera-se que esses montantes subam até 50% em 2020.

Era um mercado que estava em queda, muitas empresas cargueiras globais entravam em crise devido à diminuição nas exportações chinesas recentemente, mas essa triste e inesperada reviravolta lhes deu uma sobrevida e uma chance de se reposicionarem, até porque a retomada da aviação como conhecíamos antes da covid-19 vai demorar.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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