Blefe: executivo declara que dinheiro da United não seria destinado à Avianca Brasil

Em dezembro do ano passado, Germán Efromovich, controlador das Aviancas, anunciou um empréstimo que iria salvar a Avianca Brasil. Mas, tudo não passou de um blefe.

Airbus Fokker Avianca Brasil
Aviões da Avianca Brasil parados em Congonhas

Em entrevista ao jornal El Tiempo, o empresário brasileiro-colombiano revelou que o dinheiro nunca foi destinado para uma de suas empresas aéreas, e sim para pagar dívidas do seu estaleiro EISA.

Vale lembrar que o empresário foi bem claro quanto à salvação da Avianca Brasil em dezembro do ano passado, quando foi a um programa de TV colombiano, o Pregunta Yamid. Relembre:

Yamid: O que irá acontecer com a Avianca Brasil a partir de agora?
Germán: As operações continuam normalmente e vai ser financiada uma negociação a partir deste aporte (da United). O problema da Avianca Brasil não é de quebra, vai se pagar o fundo e tudo vai continuar como se nada tivesse acontecido.

Yamid: Melhor dizendo, quando chegar a segunda parte do financiamento que você acaba de conseguir e for aplicado à Avianca Brasil, o problema de liquidez será superado?
Germán: Sem dúvidas, sem dúvidas, isto está equacionado. Acreditamos que o aporte chegue até o fim de janeiro, as operações se seguirão e haverá negociações. Pessoas (lessores) vão à corte, reclamar, dizer, aí vem um processo judicial

Blefe ou estratégia?

A318 Avianca Brasil
Airbus A318 da Avianca Brasil

Já hoje, quando questionado sobre o que deu de errado no negócio entre ele e a United, Germán deu uma explicação diferente na época que a Avianca Brasil entrou em recuperação judicial.

“A situação foi a seguinte: a Synergy, minha empresa, assumiu uma dívida com um fundo americano (provavelmente o Elliott Management) para financiar operações de construção de navios no Brasil (através do Estaleiro EISA). Não foram fundos destinados à Avianca. Como é de conhecimento público, a crise no Brasil levou à paralisia do setor de construção naval, o que levou à recuperação judicial dos estaleiros. Para pagar parcialmente a dívida do fundo de investimento, e evitar um processo de execução, negociamos um empréstimo, no valor de $450 milhões de dólares com a United Airlines”, afirmou Germán.

A garantia deste novo empréstimo foram as ações da Avianca Holdings da Colômbia, que estão sendo executadas agora, fazendo com que o empresário perdesse de vez o que tinha na Avianca.

A crise a que Efromovich se refere é a crise econômica que explodiu no país em 2014. Sem entrar em méritos políticos, a Operação Lava Jato parou o setor petroleiro, já que as investigações giravam em torno da Petrobrás e contratos fraudulentos com fornecedores.

Inclusive, Efromovich foi citado em delações, mas que nunca foram provadas. Com a paralisia do setor petroleiro, o número de encomendas para navios-tanque, que a EISA construía, foi para zero. Rapidamente a empresa carioca demitiu milhares de funcionários e entrou em recuperação judicial. Assim como os funcionários da Avianca Brasil, os da EISA não receberam nenhum dos seus débitos trabalhistas.

Vale lembrar que durante o Processo de Recuperação Judicial da Avianca Brasil, o qual acompanhamos de peto, da noite para o dia surgiu o nome Elliott como um dos credores. Até então o nome deste fundo nunca havia circulado nas dependências da Oceanair. A Elliott surgiu como maior credora da aérea brasileira, algo que gerou suspeitas inclusive entre credores como a Swissport.

As suspeitas da época se confirmaram por agora: o fundo era credor antigo de Efromovich, que viu como uma saída para quitar a dívida colocar a Elliott como credora da Avianca Brasil, recebendo assim boa parte do valor do leilão dos slots.

O leilão ocorreu, mas como os slots não são de propriedade da companhia aérea, e sim da ANAC, foi uma venda nula. A agência civil brasileira já tinha distribuído os slots por falta de utilização dos mesmos, uma regra básica na aviação mundial.

O prédio da Avianca Brasil na Avenida Washington Luís, de frente ao Aeroporto de Congonhas, encontra-se com placa de aluga-se. Já parte da estrutura dos hangares da companhia no mesmo aeroporto está sendo utilizada pela GOL e LATAM.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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