Erro de 90 toneladas em cálculo de decolagem poderia ter derrubado um A340 da SAA

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O regulador da aviação da África do Sul (CAA) disse que está investigando um incidente de segurança envolvendo um voo fretado com uma aeronave Airbus A340-600 da South African Airways (SAA) para coletar uma remessa de vacinas da Johnson & Johnson em Bruxelas, no final de fevereiro. 

Segundo o The Aviation Herald, o incidente foi registrado em 25 de fevereiro pela empresa, mas apenas reportado agora às autoridades. A ocorrência envolve uma decolagem problemática do jato matriculado ZA-SNG, resultado de um problema com o cálculo do peso da aeronave.

Além disso, segundo a CAA, a legislação prevê que os acidentes aéreos “devem ser informados em até 24 horas, os incidentes graves em até 48 horas e os incidentes em até 72 horas”. Mas o órgão informou só obteve conhecimento sobre o incidente em 17 de março, três semanas depois do ocorrido.

O que houve

Segundo as informações oficiais, a tripulação calculou mal o peso da aeronave em quase 90 toneladas. Com um erro como esse, as velocidades de decolagem foram também estimadas para baixo e, com isso, a aeronave correu na pista 21R do aeroporto de Joanesburgo até que os pilotos chegaram nas velocidades de decisão e rotação mal calculadas, vindo a retirar a aeronave do solo no momento que não era o ideal.

A aeronave chegou a iniciar a subida a uma taxa de 500 pés por minuto, quando o trem de pouso foi retraído. Em seguida, os pilotos iniciaram a retração dos flaps e slats, dispositivos que garantem sustentação extra à aeronave. Nesse momento, o sistema do Airbus percebeu o erro e entrou no evento “Alpha Floor”, uma situação em que a aeronave identifica que a velocidade é muito baixa para sua configuração e a corre o risco de perder sustentação (entrar em stall).

Por esse sistema, o avião automaticamente assumiu o controle do voo e adicionou potência, enquanto baixava seu nariz para recuperar a trajetória de subida mais adequada e evitar o stall. Nesse mesmo momento, o avião mandou uma mensagem automática via ACARS para a Rolls Royce, fabricante do motor, Airbus, bem como ao controle de voo da South African Airways.

O voo

A SAA foi contratada pelo Governo da África do Sul para buscar as vacinas em Bruxelas. O voo foi originalmente agendado para 18 de fevereiro de 2021, no entanto, a CAA não concedeu permissão imediata, alegando que os pilotos não estavam em dia com seus treinamentos, devido à SAA não operar voos por causa da pandemia. Após algum treinamento adicional, a CAA concedeu permissão para que o voo ocorresse dias depois.

De acordo com informações recebidas pelo The Aviation Herald, a tripulação criou um plano de voo manual para a viagem a Bruxelas e isso poderia ter alguma relação com o incidente.

No entanto, uma outra hipótese ganhou força. Ela diz que há relatos de um bug de software bem conhecido no FMS do A340-600, que reduz o peso de decolagem em cerca de 90 toneladas sem afetar as velocidades inseridas manualmente, isso, em ocasiões em que a massa de decolagem é inserida antes da partida do motor.  Isso pode resultar em velocidades incorretas de monitoramento para fins de recolhimento de flaps, por exemplo, embora não afete o desempenho real da decolagem.

Seja o que for, o caso ainda será investigado.

Investigação

Grant Back, chefe da South African Airways Pilots’ Association (SAAPA), observou que o sindicato está ciente. “Escrevemos à direção da SAA expondo nossas preocupações quanto ao estado do Sistema de Gestão de Segurança da empresa e solicitando que os processos aprovados pela CAA sejam seguidos para entender o que ocorreu. 

A CAA disse que depois de ser informada sobre o incidente de “Alpha Floor”, uma equipe de investigação foi criada para investigar o caso, “bem como o motivo da demora na notificação ao regulador”.

Por fim, a Autoridade de Aviação Civil da África do Sul deixou claro que se espera que todos os operadores cumpram o mesmo conjunto de regulamentos da aviação civil, que até agora garantiu que o histórico de segurança do seu país em termos de operações aéreas permaneça intacto por mais de 30 anos”.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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