Esperança: voos são cortados no Ocidente, enquanto rotas chinesas estão reabrindo

As duas últimas semanas foram marcadas por um turbilhão de notícias, com domínio absoluto dos dramáticos cortes de capacidade e cancelamento de voos por empresas aéreas de todo o mundo, uma vez que a aviação é um vetor importante do vírus. Mas esse cenário de caos deve passar, na medida em que o mundo se recuperar da pandemia da Covid-19, um movimento que já é possível se verificar na China.

A queda foi tão acentuada que a CAPA, uma consultoria especializada no setor, chegou a dizer que a maioria das companhias aéreas vai à falência até o final de maio, se não houver o auxílio estatal. A verdade é que os cortes foram profundos e o rebote dessa crise deve demorar algum tempo. No Brasil, igualmente, a demanda por voos caiu entre 50% nos domésticos e 85% nos internacionais, segundo estudo da ABEAR.

No entanto, dados da OAG, agora revelam que, no mesmo país em que a Covid-19 começou, essa tendência começou a se reverter. No final de janeiro, a China impôs uma quarentena para conter o vírus. Dentro de semanas, a capacidade em rotas internas e internacionais caiu cerca de 75%, constituindo quase todos os voos cancelados do mundo em fevereiro.

O declínio na quantidade de passageiros foi maior ainda. Mesmo após um grande corte de capacidade, 71% dos assentos nos voos de e para o maior aeroporto de Guangzhou em fevereiro estavam vazios.

Invertendo a curva

Desde então, a China parece ter colocado o pior para trás. O número de novos casos da Covid-19 tem diminuído a cada dia, segundo os números oficiais. Alguns observadores duvidam da veracidade desses números, mas o governo local está confiante o suficiente para fechar seu último hospital e promover novamente o mercado de viagens.

Embora as rotas internacionais ainda estejam restritas devido ao fechamento de fronteiras, nas rotas domésticas a recuperação já começou. A capacidade aumentou de 25 mil voos por semana em 17 de fevereiro para quase 60 mil em 16 de março, segundo a OAG. Além disso, a curva indica tendência de que esse número chegue a quase 100.000 voos na segunda semana de abril. Isso quase igualaria o nível do ano passado a tempo de dois grandes feriados, o festival de Qingming e o Dia do Trabalho.

Empresas estatais

De qualquer forma, não há garantia de que as pessoas encherão esses voos e muito disso ainda pode estar acontecendo por intervenção do governo, uma vez que três das quatro grandes companhias aéreas chinesas são estatais. A decisão de ampliar os voos poderia estar relacionada com a restauração da conectividade entre as cidades para facilitar a recuperação econômica. No entanto, é certo afirmar que uma parte dessa recuperação se deve ao real aumento na demanda por passagens aéreas.

Em outros países ou regiões onde a curva das infecções já estabilizou, como Hong Kong e Coreia do Sul, a situação da aviação continua bastante crítica, mas isso também se deve ao fato sua menor extensão territorial, onde os mercados internacionais representam o maior percentual da quantidade de voos.

Por isso que, também, suas curvas demoraram mais a cair do que a chinesa, mas podem demorar mais até se recuperarem. Observe abaixo o exemplo da Coreia do Sul ao longo do tempo – veja gráficos de outros países no site da OAG.


Na Europa e no Brasil está acontecendo mesmo agora. Observe como a curva da Itália foi muito mais abrupta do que a de qualquer outro país, mostrando como as ações locais para contenção do vírus estão sendo duras. A quantidade de voos no país europeu caiu de cerca de 11 mil semanais para cerca de 2.000 (81% de queda).

No entanto, nosso país tem uma capacidade de recuperação mais rápida do que a da Italia, próxima do que acontece na China. Isso se deve à nossa extensão territorial e a necessidade do transporte aéreo para ligar as diferentes regiões. De qualquer forma, essa velocidade de recuperação somente começa a ser contada a partir do momento em que a epidemia local for contida e, para tanto, se faz tão necessária a conscientização e ação de cada um.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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