Estaria a Azul operando um Boeing 737 de uma companhia aérea russa?

Por diversas vezes nas últimas semanas, leitores nos questionaram sobre um Boeing 737 de uma empresa aérea russa que estaria fazendo voos da Azul, segundo registros de sites de radar. O que estaria acontecendo?

Yakutia Airlines B737-700 VQ-BIP

A aeronave em questão seria o Boeing 737-700 da russa Yakutia Airlines, de matrícula VQ-BIP, conforme foto acima, e foi “avistado” no Brasil através do aplicativo FlightRadar24.

Na verdade, desde o início do ano temos recebido reportes deste 737 russo, mas, nas últimas semanas, as perguntas sobre o mesmo assunto aumentaram, então agora decidimos esclarecer os fatos a todos os demais leitores que possam ter a mesma dúvida.

A confusão surge porque a aeronave aparece no FlightRadar24 e, ao consultar seus últimos voos, há, por exemplo, um voo de Novosibirsk para Yakutsk, e depois simplesmente o avião “aparece” em Confins de onde voa até Curitiba.

Muita vodca no aplicativo?

Esta mistura de voos está acontecendo há meses, e não é, na verdade, um erro do FlightRadar. Indo direto ao assunto, não, não tem um 737-700 russo voando no Brasil ou para a brasileira Azul. É apenas um Airbus A320neo, velho conhecido por essas terras.

É o Airbus de matrícula PR-YYI, antigo PR-OBI, apelidado carinhosamente de Obi-Wan Kenobi na Avianca Brasil. Este jato foi entregue de fábrica para a Avianca em 2017, e desde então tem rodado no Brasil.

Já o VQ-BIP, o verdadeiro 737, começou sua vida em 2006 pela eslovena SkyEurope Airlines, depois foi para as turcas Anadolu Jet e SunExpress, tendo mudado para a escandinava SAS em 2014.

No início desse ano, a Yakutia decidiu adquirir a aeronave, mas ela ficou estocada por causa da Pandemia, tendo iniciado sua operação na Rússia em novembro passado, segundo o portal PlaneSpotters.

Mas por que então aparece no Brasil?

O motivo desta troca, é o HEX Code da aeronave. O HEX é um código hexadecimal de 24 bits que está presente nos Transponders de modo S.

Os transponders com esse modo são os famosos ADS-B, que permitem que a aeronave seja captada por receptores em solo instalados por usuários do FlightRadar24 e outras ferramentas.

Este código HEX tem o conceito para ser único, sempre associado a uma aeronave ou matrícula específica. Porém, os transponders podem ter esse código alterado durante manutenções, e é exatamente isso que parece ter acontecido com o avião da Azul.

Por algum motivo, durante uma manutenção do A320neo da Azul deve ter sido colocado em seu transponder o código do 737-700 da Yakutia, que é o 424465, e a base de dados do FlightRadar24 liga os dados da aeronave ao seu código HEX.

Logo, o que aparece nos voos do PR-YYI são os dados do 737 russo, mesmo que sejam aeronaves totalmente distintas, voando em áreas separadas.

Para corrigir isso, é necessário trocar o código HEX da aeronave para o antigo, que era o E492D0, ou para um novo código. Mas como é algo que só interfere na visualização do FlightRadar24, não há necessidade operacional de parar o avião só para fazer essa troca. Então, continuaremos a ver o “737 russo” em terras brasileiras (ou melhor, em radares brasileiros) até que uma mudança seja feita.

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Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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