Estatal venezuelana lança voo direto para a Síria; pode ser a volta do “Aeroterror”

O regime do ditador Nicolás Maduro tem sempre uma nova surpresa relacionada com aviação. A bola da vez envolve a recriação de uma exótica ligação semanal direta entre Caracas e a devastada Síria, governada pela ditadura de Bashar al-Assad.

Toda a operação será conduzida pela companhia aérea estatal venezuelana Conviasa, cujo único avião de longo alcance, um Airbus A340-200 acabou de retornar do Irã, onde alegadamente passou por um processo de manutenção pesada. Embora o que tenha chamado a atenção é que a aeronave foi flagrada decolando de Damasco na semana passada rumo à Venezuela.

O voo semanal para a Síria

Outro aspecto interessante do novo voo é que ele será operado todas as segundas-feiras a partir de 2 de março, mas o retorno acontece somente às quartas-feiras. Isto significa que o avião ficará mais de 24 horas parado sob o quente sol de Damasco, não que o calor seja um problema, absolutamente, mas que pode se justificar pela necessidade de a tripulação descansar e depois voar de volta com o avião, em vez de passar mais de uma semana na Síria.

Os bilhetes já estão à venda para este voo, que funcionará com o seguinte roteiro:

  • Segundas: voo 7002 – Caracas 16h – 10h30 (+1) Damasco
  • Quartas: voo 7003 – Damasco 10h30 – 19h30 Caracas
Simulamos uma reserva para o voo no site da empresa, US$ 1.659 ida e volta

O voo tem pouco mais de 12 mil quilômetros e levará 15 horas na ida e 13 horas na volta; o custo da viagem de ida e volta gira em torno de US$ 1.700 conforme algumas simulações que fizemos.

Presume-se que o A340 da Conviasa está em uma configuração de cabine única, já que não é possível reservar assentos em outra classe senão a econômica.

A história do Aeroterror

Em 2007, o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, e o então presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, estabeleceram uma rota direta entre as capitais dos dois países. Uma iniciativa estranha, vista com grande desconfiança por toda a comunidade internacional.

A partir do acordo, e uma vez por semana, um Airbus A340 da companhia venezuelana Conviasa decolava de Caracas para Teerã com uma escala em Damasco, na Síria. Reportes confidenciais de vários órgãos contaram ao mundo que Chavez e Ahmadinejad se referiam ao voo como “Aeroterror”. Em meio a inúmeras denúncias de que transportavam drogas, dinheiro, ouro e agentes, os voos foram cancelados em 2010.

Em 2012, o voo foi retomado, dessa vez operado pela própria Conviasa, mas o mais interessante é que não há reportes de passageiros que tenham voado nessa rota, bem como ela nunca esteve disponível para compra no site da empresa ou em agências de turismo (diferente do que está acontecendo dessa vez).

Dado que esse voo é presumivelmente motivado por razões políticas, não seria uma surpresa se as pessoas por trás desse voo não estiverem se preocupando com sua lucratividade. Talvez, o que importa não é o que há na cabine, mas no porão da carga.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

Veja outras histórias