Ex-garçonete e mãe solteira vira exemplo ao superar desafios e se tornar piloto de avião

Precious Sibila feliz na cabine de comando. IMAGEM: Facebook Precious Sibalo

Uma moradora do Zimbábue se tornou um exemplo para as mulheres e homens de todo o mundo com sonhos que julgam impossíveis. Depois de passar por dificuldades financeiras em seu trabalho como garçonete e por ser mãe solteira, ela realizou o sonho e se tornou uma das poucas pilotos mulheres em sua sua região, umas das mais pobres do continente africano.

Precious Sibalo, de 35 anos, conquistou recentemente a Airline Transport Pilots License (ATPL), a mais alta certificação de pilotos da África do Sul, onde se formou. Foi a concretização de um desejo que alimentava desde quando era apenas uma menina apaixonada por aeronaves e que passava as tardes no aeroporto da cidade.

Sibalo contou sua história para o jornal Voa Zimbabue. Ela nasceu em Bulawayo, segunda maior cidade do Zimbábue e, nos anos 1990, era a única menina da sua turma que se interessava mais por aviões do que pelas brincadeiras mais cotidianas. Ao mesmo tempo, era com desapontamento que percebia que nunca via uma mulher entre os pilotos que embarcavam e desembarcavam no aeroporto.  

O cenário, contudo, foi interpretado não como uma barreira, mas como um desafio. “Eu via pilotos homens, mas nunca uma mulher por lá. Então eu disse a mim mesma: ‘eu quero ser uma das poucas mulheres que são pilotos'”, disse ao jornal.

Começo difícil

A situação não era promissora. Membro de uma família muito pobre, ela morava com os avós enquanto a mãe enviava dinheiro da África do Sul, onde trabalhava como empregada doméstica. Na escola tinha dificuldades de aprendizado, sobretudo em matemática, matéria que sabia ser muito importante na aviação.

Aos 17 anos, engravidou no namorado, que não quis assumir a criança. “Naquela época, eu pensei que meus sonhos estavam destruídos. Eu não poderia mais estudar aviação, não podia mais ir para universidade. Então, eu tive que deixar meu filho no Zimbábue com meus avós e ir para a África do Sul também, a fim de garantir seu sustento”, lembra Sibalo.

No país vizinho, arrumou emprego como garçonete em um restaurante para ajudar os avós a cuidarem da criança. “Minha mãe me teve quando era muito nova e eu também tive um filho bem jovem. Mas não tomei isso como um retrocesso, em vez disso, percebi que precisava mudar minha vida para melhor”.

Ela não desanimou. Curiosa, começou a estudar por conta própria com livros que pegava emprestados na biblioteca. Com os colegas e clientes do restaurante, procurava mostrar sempre bom humor e o máximo de conhecimento sobre qualquer assunto. Começou a chamar a atenção de algumas pessoas que a incentivavam a tentar outras profissões. Um dia, um cliente do restaurante lhe apresentou um site para candidatas a modelo fotográfico. Ela se inscreveu e conseguiu um trabalho paralelo.

Primeiros passos

Alguns anos depois, foi convidada para uma série de fotos em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O plano era passar três meses por lá, mas, um dia, ficou sabendo que a Qatar Airways estava com um processo seletivo aberto para comissárias de bordo. A empresa não exigia formação prévia em nenhuma área e todo o treinamento seria concedido pela companhia para as selecionadas.  

Sibalo se candidatou com mais cinco amigas e foi a única aprovada. “Passei em todas as entrevistas obrigatórias, incluindo exames escritos, e entrei para a Qatar Airways depois de ficar três meses em Dubai, onde minha jornada como piloto realmente começou”.

Ela lembra que, nos primeiros dias, teve dificuldade a se adaptar a coisas simples, mas inéditas para ela. “Tudo foi um desafio. Não conseguia andar com aqueles sapatos e nem sabia me maquiar. Na modelagem tínhamos maquiadores, mas eles queriam que estivéssemos bem preparados de acordo com seus padrões. Hoje digo que tudo isso foi apenas uma bênção”.

Como comissária, realizou o sonho de viver da aviação, mas ainda não o de comandar uma aeronave. Então, usou o novo salário para pagar curso de pilotagem com ajuda da família e de amigos. Quando Sibalo manifestou seu desejo para seus superiores na Qatar, recebeu a recomendação para concluir a formação em uma escola de aviação na África do Sul.

Precioso Sibalo no cockpit.  (Foto de Cortesia: Precious Sibalo)
Sibila em simulador mostra certificado conquistado. IMAGEM: Voa Zimbábue

Novos desafios

Também não foi fácil passar nos primeiros treinamentos. “Para mim naquela época eu diria que meu erro foi não estudar antes de entrar. Incentivo as pessoas a sempre fazerem uma pesquisa antes de iniciarem qualquer coisa, porque ajuda muito. Então, cheguei lá, conhecimento zero…”, conta ela.  Os problemas na formação escolar também atrapalharam. “Eu falhei tristemente no teste da bússola e me disseram que eu poderia não chegar ao fim do curso. Pessoas com pouca matemática e física, como eu, normalmente também não conseguem”.

Apesar das dificuldades, ela não pensou em desistir em nenhum momento. “Não tomei isso como um desânimo. Em vez disso, busquei trabalhar mais. Passei noites sem dormir, estudando”. Depois de, muitas vezes dormindo até duas horas por noite, conseguiu ser aprovada nos exames teóricos, testes em simuladores e nas primeiras horas de voo.

Após a conquista da certificação ATPL, Sibalo agora acumula horas de voo para poder comandar voos comerciais.

“Usei o trabalho de garçonete como ponto de partida. Algumas pessoas sempre dirão ‘Eu nunca vou aceitar esse emprego’. Não, pegue-o e use-o como um trampolim. Trabalhe com excelência, sorriso no rosto e cultive seu conhecimento porque conhecimento é poder. Nelson Mandela disse uma vez ‘é sempre difícil até que seja feito’. Antes de começar algo, você sempre pensa que não vai conseguir, mas com todo o esforço, noites sem dormir trabalhando duro, você pode realizar seus sonhos”.

IMAGEM: Voa Zimbábue

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

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