Fitch Rating rebaixa classificação de risco dos IDR da GOL Linhas Aéreas

Na última quarta (19), a Fitch Ratings rebaixou a classificação de risco dos Issuer Default Ratings (IDR) da GOL Linhas Aereas Inteligentes de “B-” para “CCC-” e sua classificação de longo prazo para ‘CCC(bra)’ de ‘BB(bra)’.

Segundo a agência, o rebaixamento reflete a contínua fraqueza na demanda por viagens aéreas no Brasil, a alta incerteza relacionada ao momento de uma recuperação efetiva e a flexibilidade financeira limitada da GOL para levantar “dinheiro novo”. A empresa está em processo de renegociação de suas obrigações de arrendamento e empréstimos bancários financeiros, e seu empréstimo a prazo de USD300 milhões, que é garantido pela Delta Air Lines deve ser pago no final de agosto. A Fitch tem preocupações de que a combinação de um ambiente de negócios extremamente fraco e a negociação com credores bancários e o acesso limitado a financiamentos adicionais possam levar a algum tipo de reestruturação de sua dívida no mercado de capitais.

A GOL melhorou seu caixa disponível, segundo os critérios da Fitch, para R$ 1,5 bilhão ao incluir a recente transação antecipada de venda de passagens (R$ 1,2 bilhão) com sua subsidiária Smiles S.A. Em um cenário de acesso limitado a linhas de crédito, a Fitch esperaria que a empresa preservasse a liquidez, como visto em outros casos na região e no setor aéreo global. O atraso no apoio do BNDES e a complexa estrutura da transação também são ventos contrários incorporados na atual revisão de rating da GOL.

Principais drivers do rating

Coronavírus: O caso base atual da Fitch assume uma recuperação lenta que só atingirá os níveis de tráfego de 2019 no final de 2021, com uma recuperação total para os níveis de 2019 ocorrendo apenas em 2022 ou 2023. O cenário do caso base da Fitch prevê uma queda de 55% a 60% no receita de passageiros por quilômetro (RPKs) para 2020 a partir de 2019, que os níveis de 2021 permanecerão 25% abaixo de 2019 e que a fraqueza do câmbio pressionará as margens. Espera-se que a dinâmica da indústria mude com os passageiros a lazer sendo uma proporção maior do mix, o que pode limitar a recuperação dos rendimentos. Desde abril, quando o RPK da GOL caiu 93%, a demanda vem se recuperando um pouco. O RPK da GOL apresentou queda de 77% em julho em relação ao ano anterior.

Avanço no Plano de Refinanciamento: A GOL está em processo de refinanciamento de suas locações de aeronaves, dívidas bancárias e debêntures locais. A empresa possuía R$ 8,1 bilhões em obrigações de arrendamento de aviões, R$ 1,7 bilhão de crédito a prazo R$ 6,4 bilhões de notas sêniores cross-border, R$ 2,4 bilhões em empréstimos bancários e R$ 582 milhões em debêntures locais a partir de 30 de junho de 2020. Os vencimentos de curto prazo somam R$ 6,1 bilhões e o caixa disponível pro forma foi de R$ 1,5 bilhão. A Fitch acredita que a GOL será capaz de concluir o refinanciamento com locadores, o que melhoraria seu fluxo de caixa e compensaria parte da queda na demanda. Em março e abril, a GOL chegou a um acordo com a Boeing relacionado aos adiamentos de futuras entregas de aeronaves que buscam ajustar melhor seu planejamento de frota aos novos níveis de demanda. Durante o 2T20, a GOL recebeu R$ 137 milhões do acordo com a Boeing relacionado ao 737-8 Max.

Boa Posição de Mercado: A GOL tem uma posição de negócios líder no mercado doméstico de companhias aéreas, que é vista como sustentável no médio prazo, com uma participação de cerca de 38% medida pela RPK em 2019. Como este é o principal mercado da empresa, os resultados operacionais da GOL estão altamente correlacionados com a economia brasileira. Devido a essa diversificação geográfica limitada, a exposição ao câmbio é alta. A GOL gera aproximadamente 85% de sua receita em reais, enquanto cerca de 60% de seus custos totais e 87% de sua dívida total são denominadas em dólares americanos.

Pares Globais: A GOL tem uma posição mais fraca em relação aos pares globais, dada a sua limitada diversificação geográfica e uma alavancagem relativamente alta; no entanto, sua importante posição no mercado regional brasileiro, as altas margens operacionais e um histórico de fortes índices de liquidez têm sido os principais impulsionadores de rating. Esses fatores positivos são temperados pelo contínuo crescimento dos negócios da empresa e pela volatilidade operacional relacionada ao seu principal mercado, o Brasil. A exposição ao risco de câmbio é vista como um fator negativo para a GOL, considerando sua diversificação geográfica limitada. No entanto, a empresa implementou uma posição de hedge cambial que limita parcialmente sua exposição à flutuação cambial.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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