Ryanair descreve o desvio do seu voo como um ‘ato de pirataria de aviação’

No domingo (23), um evento incomum tomou conta do noticiário, depois que um avião da Ryanair mudou sua rota durante um voo entre Atenas e Vilnius, sob alegada ameaça de bomba a bordo.

Desde o início, a mudança abrupta de rota pareceu estranha, pois a aeronave seguiu até Minsk, capital da Bielorrússia, enquanto que seu destino final desta a apenas um terço da distância, como mostra a imagem do RadarBox, abaixo.

O assunto efervesceu na mídia global depois que se soube o motivo real do desvio: a prisão, assim que o avião pousou, de um jornalista opositor do governo bielorrusso, que estava a bordo da aeronave. O jornalista em questão é Roman Protasevich, ex-editor-chefe do Nexta, um canal considerado extremista na Bielorrússia e onde ele é acusado de terrorismo.

Independente do julgamento do homem, que deve ser analisado separadamente, aqui o foco está no desvio da aeronave. Rapidamente, organizações mundiais se posicionaram sobre o assunto.

A ICAO (Organização da Aviação Civil Internacional), publicou em suas redes sociais uma mensagem de preocupação, destacando que a interceptação de uma aeronave comercial em um voo de carreira autorizado previamente resulta numa contravenção à Convenção de Chicago, que determinou padrões para a operação aérea segura global.

Em outras palavras, a interferência do governo bielorrusso é considerada ilícita e, portanto, configura um sequestro da aeronave. O tema é potencializado pelo fato de a aeronave da Ryanair ter sido interceptada por, pelo menos, um caça MiG-29 armado, que o teria obrigado a mudar o rumo.

A IATA (Associação Internacional do Transporte Aéreo) compartilhou da mesma posição da ICAO e também publicou a mesma mensagem em suas redes, junto com uma imagem da tela do radar, mostrando o desvio da aeronave.

A Associated Press relata que, a bordo do jato, uma testemunha teria observado a reação do bielorrusso. Diz a fonte: “Eu vi um cara bielorrusso com a namorada sentado bem atrás de nós. Ele pirou quando o piloto disse que o avião foi desviado para Minsk. Ele disse que há pena de morte esperando por ele lá”.

Repercussão

Governos de toda a Europa reagiram com a indignação, sugerindo que a Bielorrússia usou o pretexto de uma ameaça à segurança para conduzir um “sequestro estatal” de um avião civil para perseguir um crítico.

A mídia estatal bielorrussa informou que o desvio do avião veio por instruções pessoais do presidente de longa data Alexander Lukashenko, após ele ter sido supostamente alertado sobre uma possível bomba a bordo e estar preocupado com a segurança do avião.

O Ministério das Relações Exteriores da Grécia, de onde o avião partiu, disse que “condena veementemente o sequestro de Estado”, enquanto Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Polônia, Áustria, Noruega, Suécia e Holanda estavam entre os coros que denunciavam Minsk.

Os 27 líderes da UE vão discutir a Bielorrússia durante uma cúpula previamente agendada em Bruxelas nessa segunda-feira (24), incluindo a possibilidade de impor sanções a Minsk, disse um porta-voz do presidente do Conselho da UE, Charles Michel.

Segundo reporta o site especializado em aviação Paddle Your Own Kanoo, a Ryanair descreveu o que parece ter sido uma conspiração altamente elaborada do aparato de segurança do estado da Bielorrússia para desviar o voo fim de prender um opositor dissidente que estava a bordo como “um ato de pirataria de aviação”. Na manhã de segunda-feira (24), o presidente-executivo da Ryanair, Michael O’Leary, disse a repórteres que o incidente “foi um caso de sequestro patrocinado pelo Estado”.

Posição da Bielorrússia

Por sua vez, o Ministério de Relações Exteriores da Bielorrússia comentou sobre a reação de vários países ocidentais à situação com o voo da Ryanair, apurou a agência BelTA.

“Lamentamos que os passageiros do voo tenham enfrentado alguns inconvenientes. Mas as regras de segurança da aviação são prioridade absoluta, em todos os lugares e para todos. Nesse sentido, as ações da tripulação da aeronave responsáveis ​​pela vida de seus passageiros foram plenamente justificadas. É sob este ponto de vista, do ponto de vista da proteção e segurança, que tem sido totalmente garantida por esforços conjuntos, que devemos olhar para este incidente antes de mais nada”, disse Anatoly Glaz, Chefe do Departamento de Informação e Digital Gabinete de Diplomacia, Secretário de Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Bielorrússia.

“Não há dúvida de que as ações de nossas autoridades competentes também cumpriram integralmente as normas internacionais estabelecidas”, disse Anatoly Glaz. “A Bielorrússia sempre os cumpriu. Isso é reconhecido pelos reguladores internacionais da aviação. Além disso, estamos prontos para garantir total transparência e, se necessário, receber especialistas e mostrar todo o material, a fim de excluir quaisquer insinuações”, disse o representante oficial do Ministério de Relações Exteriores da Bielorrússia.

Em resumo

De novo, o objetivo dessa publicação é cobrir o desvio da aeronave e não as razões políticas por trás do tema.

Para quem acompanha a aviação há algum tempo, rapidamente se torna claro que o desvio até Minsk não faz nenhum sentido do ponto de vista da segurança do voo. Se houvesse uma ameaça, o comandante é quem decidiria onde pousar e, normalmente, voaria ao aeroporto mais próximo.

Como a aeronave estava a um terço de distância de Vilnius, seu destino final, era para lá que ele seguiria em uma condição normal, e não que voasse o triplo até Minsk.

O assunto ganhou uma enorme repercussão no mundo e está sob escrutínio global. Certamente, haverá novos desdobramentos a respeito, nos próximos dias.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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