Grupo Itapemirim decola, enquanto vende seus ônibus para tentar fazer caixa

Foto: DIGEX MRO

O voo inaugural da Itapemirim Transportes Aéreos, a empresa aérea do Grupo Itapemirim, acaba de decolar do Aeroporto Internacional de Guarulhos, marcando um momento histórico e a entrada de um novo jogador na aviação nacional. Por outro lado, o futuro ainda traz dúvidas, com o grupo enfrentando desafios para sair do processo de recuperação judicial, condição em que está desde 2016.

Em duas ocasiões desde o começo desse ano, o Grupo prometeu que, quando decolasse pela primeira vez, o faria já fora da recuperação judicial. No entanto, as duas promessas não foram cumpridas e a gestão da empresa segue acompanhada pela justiça e, mais ainda, pelos credores.

Enquanto isso, o grupo se esforça para fazer caixa. Na semana passada, um novo processo de leilão judicial foi aberto, com dezenas de lotes à venda, incluindo bens móveis (veículos) e imóveis. Os certames estão sendo conduzidos pelo leiloeiro Thais Moreira Leilões e acontecem até o meio de julho. A arrecadação esperada é de, no mínimo, R$ 8 milhões (soma dos lances mínimos).

O destino desses recursos não está divulgado até o momento. Enquanto os credores esperam que tudo seja colocado no processo de Recuperação Judicial, essa não é uma certeza. Com uma operação aérea custosa e dependente do caixa do Grupo, não é impossível que uma parte do dinheiro seja repassada à área de aviação, de novo, como já aconteceu anteriormente, e informamos com exclusividade, amparados por documentos oficiais.

À época, tornou-se evidente que 30% dos R$ 96 milhões arrecadados foram enviados para a empresa aérea, o que despertou o ceticismo de alguns credores, que acusaram a Itapemirim de desvio de finalidade dos recursos da RJ. A empresa nega irregularidades e diz que a justiça aprovou referido aporte na empresa aérea.

De qualquer forma, tal evento apenas reforçou a tese de que o dinheiro que sustenta a empresa aérea (ou uma boa parte dele), vem do próprio Grupo Itapemirim e não de investidores nacionais ou estrangeiros, em linha com a fala do ex-CEO da Viação Itapemirim, Rodrigo Vilaça, em entrevista ao Estadão.

Outro ponto importante é que, embora a empresa afirme que seja uma operação independente, dados públicos do Portal da Transparência mostram que os seus dois acionistas, que detém juntos 100% do capital, são a VIACAO ITAPEMIRIM LTDA – EM RECUPERACAO JUDICIAL e SIDNEI PIVA DE JESUS. Na prática, isso significa que estão todos no mesmo grupo econômico e que, portanto, é difícil defender que trata-se de empresas separadas (embora cada uma tenha sua equipe de gestão).

Todo o andamento da RJ pode ser consultado no site da administradora clicando aqui.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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