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Há 50 anos, o Concorde cruzava o Atlântico pela primeira vez e seu destino era o Brasil

Concorde em voo de demonstração em 1971 – BAE

No começo de setembro de 1971, o icônico jato supersônico Concorde inciava um tour comercial global com objetivo de ser apresentado a importantes companhias aéreas, dentre elas a brasileira VARIG. Assim, no dia 4 daquele mês, o avião decolou para sua primeira travessia do Atlântico e um dos destinos era o Rio de Janeiro.

Em matéria de 7 de setembro de 1971, os jornalistas do The New York Times enviados ao Brasil diziam assim:

“O avião supersônico francês-britânico Concorde pousou aqui hoje, completando sua primeira viagem transatlântica. Ele voou de Caiena, Guiana Francesa, a 2.100 quilômetros por hora, o dobro da velocidade do som”.

“O jato deixou a França na semana passada e parou nas ilhas de Cabo Verde e em Caiena. Autoridades disseram que ele não estava equipado com tanques de reserva de combustível, o que possibilitaria um voo sem escalas”.

“O avião será demonstrado a funcionários de quatro companhias aéreas sul-americanas – Varig do Brasil, Aerolineas Argentinas, Avianca da Colômbia e Viasa da Venezuela. Deve voar até São Paulo, principal polo industrial da América Latina, para uma feira industrial francesa que abre quinta-feira, e depois segue para a Argentina”.

O vídeo abaixo foi feito pela fabricante e mostra esse voo sobre terras cariocas. No final, nenhuma unidade foi vendida a empresas brasileiras, mas a aeronave voou regularmente ao Rio de Janeiro nas cores da Air France, a partir de 1976.

O Projeto

O Concorde foi um projeto franco-britânico lançado em 29 de novembro de 1962, entre a British Aircraft, a Rolls Royce e a Aerospatiale mais a SNEC-MA, que enfrentou diversos problemas desde seu início.

As empresas, British Aircraft Corporation e Sud-Aviation não se colocavam de acordo sobre as particularidades da aeronave. A British Aircraft Corporation apoiava um avião de longo alcance capaz de cruzar o Atlântico, enquanto a Sud-Aviation defendia uma aeronave de médio alcance à imagem e semelhança de seu famoso Caravelle.

Até o próprio nome do projeto foi motivo de desavença, entre “Concord”, à inglesa, e “Concorde”, à francesa. Em 1967, o britânico Tony Benn, secretário de Estado de Tecnologia, resolveu a questão dizendo que seria adicionado ao final um “e” de “excelência”, “England” (Inglaterra), “Europa” e “entendimento cordial”.

Para o que veio?

Muito mais do que sua aparência diferente à época, o Concorde veio para se tornar um ícone, exclusivamente para ricos e famosos, cruzando continentes numa velocidade que superava os 2.400 km/h e voando a mais de 20.000 metros de altura.

Podia-se ir de Paris a Nova Iorque em pouco mais de 3 horas, o que na época e até mesmo nos dias atuais causa espanto, tamanha rapidez e performance.

O supersônico ainda foi o primeiro jato de passageiros a dispor a sistema fly-by-wire, ou sistema de controle por cabos elétricos, e também foi a primeiro a empregar circuitos híbridos, com controles computadorizados do motor, e a usar a eletrônica de maneira tão extensiva.

Operações

Mesmo sendo uma maravilha tecnológica na época, o Concorde acabou sendo um fracasso comercial.

Com cerca de 100 unidades encomendadas no início do projeto, feitos por diferentes e importantes companhias aéreas, tais como Japan Airlines, Lufthansa, American Airlines, Qantas e TWA, acabou recebido apenas pelas duas companhias que faziam parte do projeto.

Depois de realizar seu primeiro voo em 1969, dois anos depois, em 1971, o protótipo 001 começou a realizar turnês de demonstrações pelo mundo, onde acabou acumulando cerca de 60 pedidos.

No entanto, diversos cancelamentos começaram a surgir devido a fatores como a crise na época, a alta do petróleo, adversidades financeiras por parte dos parceiros, etc. Por fim, apenas Air France e British Airways conseguiram manter os Concordes.

O Concorde no Rio em 1971

O fim

No dia 25 de julho de 2000, um Concorde decolava de Paris para Nova Iorque quando, ainda na corrida de pista, passou sobre um pedaço de metal que rompeu um dos pneus e foi arremessado em direção à asa, culminado na perfuração de um tanque de combustível.

A asa pegou fogo e o incêndio foi se ampliando nos instantes iniciais do voo, até o jato da Air France colidir com um hotel, matando 100 passageiros, nove tripulantes e quatro pessoas no chão.

O modelo ainda operou por poucos anos, até que o último voo comercial operado pela companhia Air France foi realizado entre Nova York e Paris em 31 de maio de 2003, enquanto a British Airways realizou seus últimos voos entre Londres e Nova York no dia 24 de outubro de 2003.

Depois do último voo comercial pela British Airways, o Concorde ainda fez alguns voos de traslado, sem passageiros, voando para alguns museus na Europa e nos Estados Unidos.

O Concorde ainda pode ser visto atualmente no Museu do Ar e Espaço, no aeroporto de Le Bourget, em Paris (França), no Museu do Voo, em Seattle (EUA), no aeroporto de Heathrow, em Londres e também no museu em Bridgetown (Barbados), que em breve poderá ser reaberto para as pessoas, como mostramos nesta matéria publicada anteriormente.

Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.