Conheça Bob Halicky, primeiro piloto comercial diabético e dependente de insulina dos EUA

Comandante Bob Halick
O Comandante Halicky na cabine do 737. Imagem: Bob Halicky.

Após a mudança na política da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA), um piloto de avião comercial com diabetes e dependente de tratamento com insulina comandou pela primeira vez um voo com passageiros na história do país. Foi uma grande reviravolta, esperada por muitos.

O último 22 de junho foi um dia muito especial, e com certeza de muita satisfação e felicidade, para o Comandante Bob Halicky, de 59 anos de idade, residente de Las Vegas, que se tornou o primeiro piloto com diabetes e dependente de tratamento com insulina, a comandar um voo comercial nos Estados Unidos, de acordo com a Associação Americana de Diabetes (ADA), relata a CNN.

Apesar de ser um voo normal para os passageiros, para o Comandante Halicky foi um voo que ele esperou nove anos para poder fazer. Pouco antes das 7 horas 30 e trinta minutos (horário local) do dia 22, o voo 370 da Southwest Airlines, decolou do Aeroporto Internacional McCarran, com o capitão Bob Halicky nos controles.

Aproando para o norte, o Boeing 737-700, nivelou-se a uma altitude de cruzeiro de 40.000 pés (12.192 m), com destino ao Aeroporto Internacional de Seattle-Tacoma. “Foi super emocionante voltar ao cockpit e ser o primeiro piloto (dependente de insulina tipo 1) da América a voar comercialmente”, disse Halicky à CNN após o voo.

Registro do voo do Comandante Halicky no Flightradar24.

Carreira na aviação e diabetes

Halicky passou toda a sua carreira no ar, antes que o diabetes atrapalhasse seus voos. Ele foi piloto da Força Aérea Americana (USAF), de 1987 a 1991. Em 1993 ingressou na Southwest, enquanto também voava com a Guarda Aérea Nacional do Arizona. Em 2002, se aposentou da Guarda Aérea Nacional, mas continuou voando pela Southwest.

Em julho de 2011, Halicky foi diagnosticado com diabetes tipo 1. Ele permaneceu na aviação como instrutor, ajudando pilotos mais jovens a adquirir experiência em simuladores de voo.

Quando a FAA permitiu que os pilotos dependentes de insulina se candidatassem a atestados de saúde de primeira classe, Halicky foi um dos primeiros da lista, enviando para o regulador americano seu histórico de controle de glicemia, anotações médicas, regime de insulina e muito mais.

Em 13 de abril de 2020, a FAA concedeu a Halicky o atestado de saúde de primeira classe, pela primeira vez em quase uma década. Ele terminou o curso de requalificação necessário o mais rápido possível e, na segunda-feira (22) de manhã, estava na cabine do 737 da Southwest, pronto para comandar um voo comercial pela primeira vez, após quase dez anos.

FAA: mudança de política

Em novembro do ano passado, numa mudança de política, a FAA alterou seu protocolo para concessão de certificados de saúde, e liberou para que pilotos com diabetes tratados com insulina pudessem começar a receber certificados médicos de primeira classe.  

Historicamente, a FAA permitia que os pilotos com diabetes obtivessem atestados médicos de terceira classe, o que lhes habilitava a voos particulares ou instrução de voo. Mas o certificado médico de primeira e segunda classe exigidos para voos comerciais estavam estritamente proibidos. A decisão levava em conta que os pilotos com diabetes que sofriam de alto ou baixo nível de açúcar no sangue durante um voo colocariam em risco os passageiros e a aeronave. E essa permaneceu sua posição por anos.

Segundo a CNN, mesmo quando outros países como o Canadá e o Reino Unido começaram a diminuir suas restrições para casos de pilotos comerciais com o mesmo problema, permitindo que esses pilotos voassem comercialmente desde que o fizessem com um segundo piloto, a FAA se manteve firme, sem concessões.

Foram anos de pressão sobre o regulador americano, por organizações como a Associação Americana de Diabetes (ADA), a Associação dos Pilotos e Proprietários de Aeronaves (AOPA) e outras, a fim de que a FAA reexaminasse sua política com relação ao assunto.

A ADA aplaudiu a decisão: “Depois de dez anos defendendo os pilotos tratados com insulina, é uma alegria absoluta ver os primeiros pilotos receberem seus atestados médicos”, disse Sarah Fech-Baughman, da associação à AOPA. “Os endocrinologistas especialistas da ADA aconselham a FAA há anos que é possível identificar pilotos que podem manter a glicose no sangue dentro de um intervalo seguro durante todo um voo e é maravilhoso ver a agência finalmente chegar à mesma conclusão”.

Como é no Brasil

Segundo a doutora Tatiana Trigo, a ANAC tem alguns limites para pilotos diabéticos. No Regulamento Brasileiro de Aviação Civil 67 (RBAC 67), que trata de requisitos médicos para pilotos, são estabelecidos alguns critérios em relação ao Diabetes e para valores glicêmicos.

“O candidato que tem diabetes melito não tratada com insulina poderá ser considerado apto, a critério do examinador ou da ANAC, desde que seja comprovado que seu estado metabólico possa controlar-se de maneira satisfatória somente com dieta, ou dieta combinada com ingestão por via oral de medicamentos antidiabéticos, cujo uso seja compatível com o exercício seguro das atribuições do tripulante em voo, ou seja, que a medicação não tenha efeitos colaterais que possam interferir na segurança de voo”, diz ela.

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