Helicóptero que caiu e matou Ricardo Boechat ficou três anos sem trocar o óleo

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ATUALIZADO ÀS 18H20 com dados do relatório, assim como documento na íntegra ao final da reportagem.

A morte de um dos maiores comunicadores da TV brasileira, Ricardo Boechat, foi resultado de negligência quanto a manutenção do helicóptero, aponta relatório do CENIPA.

As informações foram reveladas com exclusividade por Valteno de Oliveira, repórter e colega de Boechat na Rede Bandeirantes de Televisão e Rádio. O helicóptero de matrícula PT-HPG era um Bell 206 JetRanger de fabricação americana e, segundo informações da Band, ficou com o tubo de distribuição de óleo da aeronave entupido.

O acidente aconteceu em 11 de fevereiro de 2019, quando Boechat voava de Campinas para São Paulo, após dar uma palestra na cidade do interior paulista. A aeronave caiu na rodovia Anhanguera, vitimando o jornalista e o piloto.

Segundo o CENIPA, a troca recomendada pelo manual do fabricante é a cada 12 meses ou 600 horas de voo, mas chegou a ser feita apenas a cada três anos.

O tubo de distribuição de óleo foi inspecionado visualmente e verificou-se que havia resíduos de material estranho no orifício responsável por fornecer óleo para lubrificação do rolamento nº 2.

Foi realizado um teste, introduzindo óleo a baixa pressão, e verificou-se que não saía
fluído pelo orifício que direcionava a lubrificação para o rolamento nº 2 (figura abaixo). Outros testes com raio-x e tomografia computadorizada foram feitos comprovando o bloqueio.

Valteno cita ainda que a aeronave já teve problemas antes com o compressor e chegou a ficar interditada pela ANAC. A empresa chegou a trocar o compressor, mas o fez em uma oficina com autorização vencida e que reinstalou o componente sem ter feito a revisão requerida.

Todos estes fatores levaram a travamento da parte do eixo que liga o rotor principal ao motor da aeronave pela caixa de transmissão (gear box).

Além disso, tanto a aeronave como a empresa proprietária não tinham autorização para realizar voos de táxi-aéreo. O CENIPA apontou que diversas razuras estavam presentes nos poucos relatórios de manutenção encontrados, assim como não foi encontrado os registros recentes de horas de voo do piloto, que ficam na chamada CIV – Caderneta Individual de Voo.

O órgão investigativo também cita a situação financeira do piloto, que pode ter levado ele a aceitar o trabalho mesmo não sendo autorizado para realizar táxi-aéreo:

“Pessoas próximas ao proprietário-piloto informaram que a aceitação desse fretamento
pode ter ocorrido por questões financeiras, pois a empresa estava com pouca demanda de
trabalhos na época, voando cerca de três horas e meia por mês, o que deixava o piloto-proprietário preocupado. Essa percepção era reforçada pelo comportamento do piloto-proprietário. Foi reportado que ele trabalhava sábados, domingos e feriados para cobrir as obrigações financeiras. Mantinha o telefone do escritório transferido para o celular nos finais de semana para não perder a oportunidade de realizar novos voos que porventura surgissem. Nesse contexto, é possível que a situação financeira da empresa tenha fomentado, ao longo do tempo, a adoção de atitudes e práticas que divergiam das normas e procedimentos previstos para as operações aéreas efetuadas pela empresa”.

Por fim o CENIPA aponta que a falta de manutenção foi um fator que influenciou o travamento do eixo que liga a caixa de transmissão com o rotor de cauda, que por sua vez teria causado a pane no motor, forçando o piloto a realizar um pouso de emergência em auto-rotação.

Os fatores contribuintes listados incluem falhas na cultura organizacional, indiscplina de voo, julgamento de pilotagem, falha no processo decisório e na manutenção da aeronave.

As recomendações emitidas foram para que os ensinamentos obtidos através da investigação fossem divulgados, a fim de alertar tripulantes, empresas e oficinas de manutenção sobre “consequências decorrentes do não cumprimento dos Programas de Manutenção estabelecidos pelos fabricantes ou aprovados pela Autoridade de Aviação Civil“.

O relatório final e na íntegra está disponível clicando aqui ou logo abaixo:

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Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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