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Herói do Rio Hudson não está satisfeito com as mudanças do Boeing 737 MAX

O piloto e herói do Rio Hudson, Sully Sullenberger, não está satisfeito com as modificações feitas pela Boeing no 737 MAX, revelou em entrevista.

Foto – Arquivo Pessoal

A entrevista foi feita por Dominic Gates, do Seattle Times, que conversou com o comandante, famoso por ter consegui pousar um Airbus A320 nas águas do Rio Hudson, em Nova Iorque, após perder ambos os motores, que apagaram após colidirem com pássaros, num incidente de double birdstrike.

O comandante teceu comentários acerca do Boeing 737 MAX:

“Eu não vou dizer que estamos prontos, o bom suficiente, ou vamos virar a página”, afirmou Sully, em referência as modificações aprovadas pela FAA e que já devem ser as finais, dada a iminência do 737 MAX ser re-certificado após os dois acidentes de 2018 e 2019 e mais de um ano e meio de escrutínio.

O comandante, que se aposentou após o acidente, disse que as modificações são sim boas, mas talvez não seja o ideal ou desejável.

“As pessoas vão voar no 737 MAX e eu provavelmente serei um deles. O MAX atualizado será provavelmente tão seguro quanto o modelo anterior, o 737 NG, quando ele estiver certificado. Mas não será tão bom quanto deveria”, destaca o comandante.

Para justificar sua opinião, Sully questiona a confiança nas modificações, falando que “é algo que estamos confortáveis em falar alto para todo mundo que embarca no avião ouvir?”.

Boeings 737 MAX da American Airlines © Divulgação

O comandante aponta que deveria ter um terceiro sensor para a leitura do ângulo de ataque (AOA). No caso dos acidentes, a leitura do AOA veio de um único sensor, já que ter um adicional era um opcional de fábrica.

“É muito importante que um terceiro sensor de AOA, ou de velocidade sintética, esteja disponível nessa aeronave. Eu espero que uma adoção rápida desta tecnologia, quanto mais cedo melhor”, afirma Sully.

O medidor de velocidade sintética utiliza dados do GPS da aeronave e dos sistemas inerciais para determinar a velocidade e AOA. Estes dados são filtrados e inseridos num modelo de voo virtual no computador da aeronave, que transmite os dados finais para os pilotos sobre o ângulo e velocidade do avião.

Vale lembrar que, a convite da própria Boeing, Sully pilotou o 737 MAX em simulador em um cenário igual dos dois acidentes, e que para ele o tempo foi curto demais e “os pilotos nem sabiam o que estavam acontecendo, nem sabiam que o MCAS existia”.

Sully também cobra que o novo treinamento de pilotos inclua recuperação de quedas similares às que aconteceram, como fosse uma “montanha-russa” em suas palavras. Outra sugestão do comandante é incluir um sistema de alarme melhor para informar sobre o não funcionamento de alguns sensores, como do AOA.

Por fim, o comandante e herói do Rio Hudson disse que irá continuar cobrando da FAA as melhorias extras no MAX”, mesmo que o avião já esteja voando e continue tudo bem”.

As mudanças propostas pela FAA para o Boeing 737 MAX estão em período de consulta pública até o começo de novembro.